Primeiros times de Vila Velha
As
partidas eram disputadas com equipes de Vitória e o
acontecimento virava festa. As denominações
das posições dos jogadores ainda se mantinham
no inglês, a não ser as da linha de frente, que
logo foram traduzidas para pontas esquerda e direita e meia
esquerda e direita. A de center-forward só bem mais
tarde passou para a de centro-avante. A linha média,
constituída de half esquerdo e direito e center half,
o centro médio ou laterais-esquerdo e direito avançados.
A linha média hoje se confunde com os armadores e a
linha de frente com um ou dois atacantes e, às vezes,
até três. A zaga, de backs esquerdo e direito,
um deles se jogar mais recuado é chamado de líbero.
E o goalkeeper de goleiro.
Quanto às regras, permaneciam as denominações
antigas: córner, escanteio; offside, impedimento; lateral,
lateral mesmo; penalty, penalidade máxima; hand, mão;
foul, falta; goal, gol, etc.
A vida do Clube Campos Salles teve duração efêmera,
mas a equipe deixou suas marcas jogando contra os grandes
plantéis da capital. Em certa ocaisão, numa
disputa com o Vitória F.C., campeão da capital,
botou terra nas suas comemorações, ao lograr
vencê-lo nos seus próprios domínios. Foi
um feito e tanto. Segundo nos contou Milton Caldeira, o poeta
Mário Ferreira Queiroz, irmão de Carlos Queiroz,
ficou tão entusiasmado que idealizou uma trovinha que
passaria a ser cantada pelos torcedores canelas-verde. Era
assim: “Campos Salles, Campos Salles,/ É um team
de memória / [esqueceu o 3º verso] / Deu fumaça
no Vitória”. Fumaça era gíria da
época equivalente a surra, lavagem etc.
O troféu conquistado pelo Campos Salles era sui generis
em se tratando de esporte e de uma partida de football, podendo
antes destinar-se a uma exposição canina, servindo
de prêmio ao mais bem colocado, principalmente se fosse
uma cadela. Quem nos relata isso é Milton Caldeira:
“Eu me lembro de ter visto, quando criança, na
casa de Dario Araújo, na rua do Torrão, um troféu
ganho pelo Campos Salles: uma cadelinha amamentando dois filhotes,
em bronze ou imitação.” Isso nos leva
a crer que Dario Araújo tivesse sido presidente do
clube ou participado da sua direitoria.
O Campos Salles também revelou cracks. Carino Duarte
de Freitas foi para o Vitória F.C., atuando como um
dos seus mais importantes jogadores, goleador na posição
de center-forward.
Mais tarde apareceram outros clubes de futebol. Um deles,
sobre o qual pouco sabemos, era o Botafogo F.C., cujo campo
de futebol tinha entrada pela rua Luciano das Neves, na Toca.
O Vasco Coutinho F.C. atuou com a mesma formção
entre os anos de 1931 e 1934. Quatro de seus integrantes ainda
se encontram vivos: Milton Caldeira, Floriano Santos, Ernesto
Vereza e Elmar Duarte. O plantel desse clube tinha os seguintes
jogadores: Juca e mais tarde Odilon Amaral, goleiros; Ernesto
Vereza, zagueiro direito; Elmar Duarte (Titiu), zagueiro esquerdo;
Floriano Santos, Milton Caldeira e Moacyr Lofêgo, linha
média; João Carneiro, Lindolphinho, Horácio,
Joaquim e Rubens Rezendo (Bacalhau), atacantes.
Reis Novaes, já falecido, destacou a atuação
de dois desses jogadores: do centro-médio Milton Caldeira
e do centro-avante Horácio de Inhoá. Segundo
ele, Milton Calderia dominava e passava a bola como um verdadeiro
maestro, armando e alimentando jogadas. Do segundo jogador,
Horácio de Inhoá, nos falou o próprio
Milton Caldeira, que o apontou como um dos melhores centro-avantes
que viu jogar. Rápido e de jogadas imprevisíveis,
Horácio deixava a defesa e o goleiro adversário
em polvorosa e quando menos se esperava a bola ia para o fundo
da rede, ou, melhor dizendo, para o fundo do terreno, onde
estavam assentadas as traves.
Antes ou depois do Vasco Coutinho muitos outros times despontaram
em Vila Velha, como o Santos, o Leopoldina, o América
de Aribiri, o Vila-velhense, mais tarde o Social, o Atlético,
o Olímpico, o Ideal, o Tupi e tantos outros mais novos
ou, quem sabe, mais velhos do que estes.
Fonte:
ECOS DE VILA VELHA Pag. 52/54
Autor: José Anchieta de Setúbal
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