A criação da Vale - Parte I (História da Vale)
Nascimento com prazo de validade
No momento em que o presidente Getúlio Vargas empunhou a caneta para assinar o Decreto-Lei nº 4.352, que criava a Companhia Vale do Rio Doce, em 1º de junho de 1942, é possível que não tenha se dado conta da real importância que este ato teria para a história do Brasil – especificamente para o futuro da mineração. A Vale – ao lado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada um ano antes – era mais que uma peça no tabuleiro das relações internacionais em tempos de guerra. Em breve, teria vida própria e se transformaria em uma das maiores empresas do país.
Em 1º de junho de 1942, o Brasil estava imerso em uma crise institucional que tinha como ponto central a decisão sobre a entrada do país na Segunda Guerra Mundial. Vinte dias antes, o navio mercante Comandante Lira fora torpedeado em águas brasileiras, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, em atentado atribuído a submarinos alemães. Nos dias que se seguiram, outros três navios brasileiros tiveram o mesmo destino – o último deles, Alegrete, exatamente em 1º de junho.
Pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, a população começava a perseguir imigrantes alemães, pichando suas residências e apedrejando seus estabelecimentos comerciais.
A instabilidade econômica resultaria também na criação de uma nova moeda, o cruzeiro, em outubro do mesmo ano. Seria a primeira modificação na moeda brasileira desde a Independência, em 1822.
Em 1942, o Brasil – que transformara “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, num sucesso instantâneo – precisava encontrar seu rumo. O país precisava de dinheiro, precisava nacionalizar seu minério e, diziam os parceiros comerciais americanos, precisava entrar na guerra. A Companhia Vale do Rio Doce, empresa
capaz de alavancar o fornecimento de ferro para a indústria bélica americana, era fundamental.
Criada a partir da incorporação da Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S. A. e da Itabira de Mineração S. A., trazia, no pacote de sua fundação, a manutenção, a exploração e a ampliação da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). No pacote viria também a Mina do Cauê – minimamente explorada durante a passagem de Percival Farquhar pela presidência da Itabira Iron Ore Company –, que se transformaria em uma espécie de símbolo dos primeiros tempos da Vale.
No artigo “O Brasil e seu minério de ferro”, publicado no Observador Econômico e Financeiro, em 1945, logo após o início das explorações, Cauê é avaliada como uma mina de alta produtividade. “Sabe-se que o minério de Cauê acha-se à "or da terra e cada tiro de explosivo faz com que se desprendam 4 mil toneladas.”
O primeiro bloco de pedra foi retirado pela Vale em 24 de outubro de 1944. Era o marco inicial de um projeto que iria além da mina em si e começaria a traçar a própria história da mineração no Brasil.
Conforme se verá a seguir, a CVRD era fruto dos chamados Acordos de Washington, em que estava prevista a participação, em cargos estratégicos, de estrangeiros no comando da Companhia. O primeiro superintendente nomeado, Israel Pinheiro, estivera em Washington na assinatura dos acordos. Em seu primeiro ato, em diligência na Vitória a Minas, Pinheiro pediu uma tesoura emprestada, cortou a manga da camisa e disse: “Agora, mãos à obra.” A frase estaria presente nos folhetos que vendiam as ações da Companhia e explica, em parte, a trajetória da empresa desde então.
No artigo 4º do Estatuto de Criação da Companhia Vale do Rio Doce (anexo ao Decreto-Lei n 4.352, de 1º de junho de 1942) estava escrito: “O prazo de duração da Companhia será de 50 (cinquenta) anos, a contar da Assembleia Constitutiva da mesma, reservada, entretanto, à Assembleia Geral, a faculdade de deliberar, a qualquer tempo, sobre a prorrogação deste prazo ou sobre a dissolução da Companhia antes do termo fixado.”
Há 70 anos a Vale, com o fôlego de uma criança, vem contrariando as previsões de seu próprio estatuto de fundação.
Fonte: Vale 70 anos: Nossa História, 2012
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2013
Firmados em 3 de março de 1942 e tendo como signatários os governos do Brasil, da Inglaterra e dos Estados Unidos, os Acordos de Washington definiram as bases para a organização, no Brasil, de uma companhia de exportação de minério de ferro
Ver ArtigoA CVRD seria constituída como uma sociedade anônima, de economia mista, com capital inicial de 200 mil contos de réis. Sua diretoria seria composta por cinco membros: um presidente e dois diretores de nacionalidade brasileira e mais dois diretores norte-americanos
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