A Igreja de Santa Rita
Quando a caravela de Vasco Fernandes Coutinho aportou às terras da capitania que seria do Espírito Santo, entre os primordiais cuidados dos pioneiros esteve a construção de uma capela “a que, por certo, dedicaram o melhor de sua arte rústica”. (José Teixeira de Oliveira, História do Estado do Espírito Santo, p.36 – 2a. Ed.).
Nossos olhos se habituaram a contemplar nas vilas, povoados, fazendas e sítios a igreja toda branca a atestar a religiosidade de seus habitantes e que se constitui também num centro de informação e aculturação.
A capelinha de Santa Luzia, na cidade alta, construída por Duarte de Lemos, em 1537, testemunha do alvorecer da colonização, e a igreja de Santiago edificada junto com o Colégio dos Jesuítas pelo padre Afonso Brás, em 1551, onde se ergue hoje o palácio Anchieta, foram as primeiras igrejas consagradas ao culto católico, na Ilha de Santo Antônio (Vitória), doada por Vasco Coutinho a Duarte de Lemos. Não havia, aqui, anotam os cronistas, adeptos de outra religião. Além da Igreja do Colégio dos Jesuítas (Santiago) e da Misericórdia, ditas privilegiadas, os fiéis se reuniam para rezar, nos séculos seguintes, noutras igrejas filiais: as de São Gonçalo, Santa Luzia, a de Nossa Senhora da Conceição e a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
À medida que a cidade foi crescendo, a intensa religiosidade popular, que a devoção à Virgem Maria, centralizada no belo e venerando convento da Penha, contribuía para ampliar, reclamava novas igrejas nos bairros que iam surgindo.
A Praia Comprida (nome que não desapareceu, assim como o de Praia de Santa Helena e do Barracão), hoje Praia do Canto, ia-se tornando o bairro residencial preferido da classe média, pelo sossego, ruas e avenidas amplas e tranquilas, quintais fartos de arvores frutíferas e de pássaros, bafejado constantemente pelo frescor da brisa marítima. Sua população aumentava de ano para ano. A criação e instalação de uma paróquia “era aspiração unanime dos habitantes da Praia”, como registra o decreto nº 13, de 5 de maio 1935, que fez a ereção canônica da nova paróquia. Para atender esse desejo e necessidade da população, o bispo diocesano, Dom Luiz Scortegagna, criou a paróquia de Santa Rita de Cássia da Praia Comprida, desmembrada da paróquia de Nossa Senhora da Prainha de Vitória. (Livro de Tombo nº1 da paróquia de Santa Rita de Cássia).
Nessa mesma data, “de conformidade com o programa que profundamente se distribuiu pela cidade, realizou-se a inauguração da nova paróquia”, em cerimônia festiva presidida pelo bispo da diocese, Dom Luiz Scortegagna, presentes o governador do estado, capitão Punaro Bley, o vigário da catedral, padre Luiz Cláudio, e autoridades. O mesmo ato instituiu Santa Rita de Cássia padroeira e titular principal da paróquia, que foi entregue aos cuidados dos padres agostinianos. Provisão também datada de 5 de maio de 1935 nomeou o primeiro vigário Frei David Arias, sacerdote da mesma Ordem, o qual, por sua inteligência, dotes oratórios e facilidade de comunicação, gozava de grande prestígio.
O decreto diocesano nº 13, que criou a paróquia, cuja íntegra consta do mencionado Livro de Tombo nº1, traça-lhe os limites territoriais: “Instituímos uma nova paróquia amovível em face do Direito que se denominará de Santa Rita de Cássia da Praia Comprida, compreendendo as terras, povoados e fazendas dentro dos seguintes limites: ao Sul, o estuário do Santa Maria; a Leste, a baía do Espírito Santo; a Oeste, a Paróquia de Nossa Senhora da Prainha de Vitória, da qual é separada por uma linha reta que liga o cume do monte que fica próximo à Fábrica de Tecidos, à ponta mais ocidental da Ilha de Santa Maria, junto ao estuário de Santa Maria e desse cume pelo divisor de águas dos Fradinhos até alcançar os limites da Paróquia de São Pedro de Vila Rubim, continuando pelo referido divisor de águas dos Fradinhos e pelo do Maruípe, até encontrar o canal do Norte ou da Ponte da Passagem. As ilhas de Santa Maria, Bento Ferreira, do Boi, do Frade e outras menores existentes do estuário do Santa Maria, no trecho em que serve de limite, e na Baía do Espírito Santo, pertencerão à Paróquia de Santa Rita de Cássia da Praia Comprida”.
Antes, nesse mesmo decreto dispôs: “Havemos por bem separar, dividir, desmembrar da Paróquia de Nossa Senhora da Prainha de Vitória o território que, em seguida, vai indicado nele...”, que é o antes estabelecido. (Livro de Tombo nº 1).
A paróquia de Santa Rita de Cássia da Praia Comprida foi constituída, portanto, com parte extensa da área sob a jurisdição da antiga paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Prainha de Vitória, cuja igreja matriz se localizava onde, hoje, estão o edifício do IAPI e o Teatro Carlos Gomes, na praça Costa Pereira, ex-largo da Conceição.
No mesmo registro de que extraímos estes dados e cuja consulta nos foi atenciosamente propiciada pelo atual vigário da paróquia de Santa Rita de Cássia, frei Cândido Cintra, está consignado: “No dia 23 de março de 1935, recebemos as chaves da capela de Nossa Senhora dos Navegantes, em Praia Comprida, que havia a ser matriz da Paróquia de Santa Rita de Cássia...” A capela de Nossa Senhora dos Navegantes situava-se em terreno próximo à atual igreja matriz, ao lado esquerdo da avenida Nossa Senhora da Penha.
Em 6 de abril de 1942, sete anos menos um mês após a instalação da paróquia, deu-se início à construção da matriz de Santa Rita de Cássia, pormenorizando o registro: “... a primeira pedra foi colocada no canto dos fundos ao lado da avenida Nossa Senhora da Penha a 4 metros de profundidade...” Por defeitos da estrutura ou depressão do solo, essa igreja, que ameaçava ruína, foi demolida em 1962 e, no seu local, começou-se a construção da atual matriz, em 22 de maio de 1962. A obra, informa-nos frei Cândido, prolongou-se até 1967, lapso de tempo que abrangeu o seu primeiro período como vigário de Santa Rita (1962-1967), a que retornou por provisão de 5 de junho de 1985 e onde permanece.
Com os bairros de Jucutuquara, Maruípe, Suá, Gurigica e Goiabeiras aconteceu o que, em 1935, se verificou com a Praia Comprida: multiplicou-se o número de habitantes, que passaram a fazer e a exigir melhoramentos, surgiram boas residências, escritórios, escolas e igrejas, o comércio opulentou-se. Em cada um deles, erigiu-se uma nova paróquia, desmembrada, por sua vez, da de Santa Rita.
Ao lado da igreja de Santa Rita, existia o salão paroquial, construção modesta que, por sua natureza e dimensões, não atendia às necessidades dos movimentos da paróquia. Em 2 de novembro de 1992, foi decidida a sua demolição e iniciada a edificação do anexo, com quatro pavimentos e cerca de 900m2, em fase de conclusão, o qual já está sendo utilizado pelas várias entidades paroquiais, para reuniões, cursos, trabalhos de cataquese e, com eficiência e proveito, na obra social, que conta com ambulatório médico e dentário, que assiste pessoas da camada popular mais carente.
Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES, 1996
Prefeito Municipal: Paulo Hartung
Secretária Municipal de Cultura e Turismo: Jorge Alencar
Conselho Editorial: Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Assessoria Técnica: Biblioteca Municipal de Vitória
Revisão: Reinaldo Santos Neves, Enyldo Caravalinho Filho
Capa: Paulo Bonino
Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer
Impressão: Gráfica Ita
Fonte: Escritos de Vitória, nº 9 - Igrejas - Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV, 1995
Texto: Professor Aylton Rocha Bermudes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2018
Ayton Rocha Bermudes, nascido em Timbuí, Fundão (ES).
Professor de francês (catedrático), português, latim e filosofia.
Formado em Filosofia no Seminário Católico de Manhumirim (MG) e em Direito (UFES).
Advogado militante e Procurador do Estado.
Membro da Academia Espírito-Santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Assim se explica a construção da igreja de Santa Luzia, a mais antiga da cidade
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