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A Ronda Noturna – Por Adelpho Monjardim

Convento do Carmo e Rua da Capelinha

O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, mais conhecido por Colégio do Carmo, era uma das nossas mais caras tradições. Hoje extinto. Colégio para moças, por ele passaram várias gerações de jovens da nossa melhor sociedade. As professoras, todas religiosas, excelentes preceptoras, desvelavam-se para manter o alto nível cultural e disciplinar do Colégio e o justo renome que de há muito atravessara as fronteiras do Estado. Piedosíssimas eram adoradas pelas alunas, para as quais não eram apenas as mestras competentes e desveladas, mas as amigas das horas incertas, conselheiras e confidentes.

Dentre todas uma era o «beguin» das alunas — a Superiora Irmã Ângela. Frágil de corpo, possuía a palidez romântica dos lírios. No coração muito amor para a pouca saúde do corpo. Nascera para esposa de Cristo. A exemplo do meigo Nazareno era toda bondade e devoção. Como o «edelweiss» das frígidas montanhas, nascera para irradiar, com intensidade, toda a sua beleza e esplendor. O convívio com as alunas teve a duração dos meteoros, porém o fulgor da sua luz jamais se extinguiu.

Certa manhã, tristes e doridos, os sinos do Carmo dobraram finados. No firmamento o sol se engalanara para receber a alma de uma santa. No austero recinto do Colégio reinava a dor e o silêncio pesava como uma mortalha. No delicado ataúde, as mãos cruzadas sobre o casto peito, Irmã Ângela dormia. Em meio às flores o seu meigo semblante surgia com a palidez mística dos círios. Sepultaram-na ali mesmo, sob a escada do Coro.

Passaram-se os meses e como no mundo tudo é transitório, a imensa saudade se foi esmaecendo até tornar-se a Irmã Ângela apenas doce recordação.

Quando vivia era hábito seu percorrer, à noite, os dormitórios para providenciar algo se preciso. Assim procedeu até aos últimos dias. Embora deslizasse entre os leitos como se pisasse em nuvens, a sua passagem era pressentida pelo roçar do terço pela guarda das camas.

Um ano exato do seu passamento, alta noite, no dormitório das maiores, uma aluna despertou com o ruído do terço da Irmã Ângela. Apesar do medo ousou olhar e viu a Irmã Ângela passando por entre os leitos na sua ronda noturna.

Branca, muito branca, delicado lírio, sorridente passava, velando o sono das discípulas.

O ruído do terço se foi aos poucos diluindo até a delicada visão desaparecer no dormitório contíguo.

A história propagou-se, levando o pânico às alunas. A Superiora proibiu que se comentasse o fato. Para acalmar as alunas, em cada dormitório velava uma irmã. Não obstante, todas as noites, à mesma hora, Irmã Ângela voltava à sua ronda.

Quando a última aluna, do seu tempo, se formou cessou a piedosa ronda.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

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