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Ano de 1640 - Por Basílio Daemon

Rua do Comércio, início do Século XX

1640. Chega a esta então capitania, a 28 de outubro, vindo de propósito de Pernambuco para atacá-la, a expedição composta de onze navios sob o comando do almirante Koin e conselheiro Neulant.(162) Deixam fora da barra os navios de grande calado, entrando somente um patacho, uma polaca e nove lanchões com setecentos homens de tropa comandados por João Delihi(163) e outros, e subindo no dia 29 do mesmo mês foram desembarcar no porto de Roças Velhas, que depois se chamou Porto dos Padres, e hoje rua do Comércio; daí, dividida a tropa, atacam os holandeses a então vila da Vitória, por diferentes pontos.(164) À vista disto, tendo reunido o capitão-mor João Dias Guedes,(165) coadjuvado pelo vigário Francisco Gonçalves Rios e frei Geraldo dos Santos, franciscano, a pouca força que tinha, com duas peças, trinta espingardas que mandou distribuir, e mais duas companhias de índios armados de arcos e flechas e com a gente do povo armado de chuços e piques, deu de chofre e com tanto acerto sobre os invasores que se achavam bem armados e providos, que os desbaratou completamente, matando mais de trezentos, aprisionando alguns e tomando muitas armas, havendo nessa ocasião atos de valor entre os combatentes, perdendo os da capitania pouca gente.(166) Sobressaíram na defesa o capitão Domingos Cardoso, vigário Gonçalves Rios, Manoel Nunes, frei Geraldo dos Santos, que recebeu uma bala na cabeça e foi ferido em uma perna, pois eram os que dirigiam o fogo das peças, sendo feridos mais alguns dos da capitania e morrido três no combate; também muito se distinguiu um particular de nome Antônio do Couto e Almeida, que por sua bravura foi posteriormente nomeado capitão-mor, nomeação esta que foi depois confirmada por el-rei.(167) A 30 de outubro, tendo-se os holandeses já retirado descoroçoados por serem valorosamente repelidos, atacam a vila do Espírito Santo, e apossam-se dela, apesar da resistência dos capitães Gaspar Saraiva e Adão Velho que, à frente da tropa de ordenanças, lhes matou 26 homens e feriu a muitos; mas tiveram de recuar para o interior em vista do avultado número de invasores que ali se conservaram três dias a saquear. No dia 2 de novembro, tendo o governador João Dias Guedes mandado socorro aos capitães Gaspar Saraiva e Adão Velho, estes atacam novamente os holandeses matando-lhes alguma gente, ferindo a muitos e fazendo 32 prisioneiros, obrigando, destarte, a embarcarem atropeladamente os holandeses, repelindo-os sempre que quiseram desembarcar, pelo que resolveu retirar-se a expedição para o norte no dia 13 de novembro. Consta que nessa ocasião invadiram os holandeses o Convento da Penha e saquearam-no, carregando muitas joias pertencentes àquela imagem e também um Menino Jesus, que não se sabe ao certo se o que se achava nos braços daquela imagem, ou outro da antiga devoção do Menino Jesus instituída em 1553 pelo padre provincial Manoel da Nóbrega, quando aqui esteve com o governador Tomé de Souza. Há notícias de ter sido pelos holandeses conduzido esse Menino Jesus para Pernambuco, onde se acha até hoje, e conservado com muita devoção, fazendo-se-lhe solenes festividades. Dizem alguns que a imagem da Senhora da Penha fora transportada nessa ocasião para esta hoje cidade e colocada no Convento de São Francisco, mas nada encontramos escrito a esse respeito.

Idem. É lavrado um assento no livro das constituições dos prelados e administradores da prelazia desta capitania, a 13 de novembro, pelo vigário Francisco Gonçalves Rios, em memória da vitória alcançada contra os holandeses da expedição do almirante Koin e conselheiro Neulant, com o fim de solenizar-se a festividade de São Simão e São Judas em lembrança desse dia, 28 de outubro,(168) e também porque estando o povo falto de víveres chegaram a propósito duas caravelas, depois do ataque e partida dos holandeses, sendo uma de Santos, trazendo farinha, carne e peixe, e outra que, em viagem para a Bahia, arribara nos Abrolhos, a qual se achava carregada com vinhos e fazendas vindo um tal socorro salvar assim a população da penúria em que estava, mormente quando acabavam de sofrer uma invasão.

Idem. Representam os oficiais da Câmara desde 1640 esta então capitania, a D. João IV, já então no trono, e a exemplo dos habitantes da capitania da Bahia: — que tendo os holandeses por duas vezes intentado a conquista do Espírito Santo, pediam para que houvesse aqui quarenta infantes de tropa regular, oferecendo para sua sustentação o donativo de 160 réis por canada de aguardente de cana e sobre a do vinho de mel, mais do que o vinho do Alto Douro, o que por el-rei foi satisfeito. Vê-se ainda aqui, pela representação dos oficiais da Câmara, que só duas vezes foi esta capitania atacada pelos holandeses, uma pelo almirante Patrid, e outra pelo almirante Koin, o que demonstra nunca Pieter Heyn ter atacado a capitania, e só aqui chegado a munir-se de mantimentos e fazer aguada, ou porque já a esse tempo tratava-se de pazes na Bahia, ou porque receara-se que lhe acontecesse o mesmo que a Patrid.

 

Notas

 

162 Almirante Hans Coen, ou Coin, e Cornelis Nieuland, este conselheiro político da Companhia das Índias Ocidentais. Informações obtidas junto ao antropólogo holandês Geert Banck.

163 Não foi possível identificar esse personagem, nem atinar com a grafia correta de seu nome, obviamente corrompida aqui e em Brás Rubim, onde está Dilchi.

164 (a) “São avistadas várias naus holandesas na barra da vila de Vitória, onde desembarcam dando início a um grande conflito no qual os moradores da vila vencem os invasores e expulsam o inimigo”. 28 de outubro de 1640. [Leite, HCJB, V, p. 139] (b) Lembrança da notável vitória que Deus deu aos moradores desta vila. (c) “Em 27 de outubro deu fundo na barra o almirante holandês João Dilchi com uma esquadra de 11 velas...” [Rubim, B. C., Notícia, p. 339]

165 “Era governador capitão-mor João Dias Guedes.” [Rubim, B. C., Notícia, p. 339]

166 Rio Branco, Efemérides, p. 505, apud Oliveira, HEES, P. 139, nota 35.

167 Oliveira, HEES, p. 140, notas 42 a 4

168 (a) Lembrança da notável vitória que Deus deu aos moradores desta vila (hoje capitania da província)... (b) “O vigário de Vitória, Francisco Gonçalves Rios, registrou, em 1640, a segunda vitória conta os batavos, no dia de São Simão e Judas, isto é, a 28 de outubro desse ano, e sugeriu que a Câmara e capitão-mor fizessem sempre, nessa data, uma festa com procissão...” [Freire, Capitania, p. 116]

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2019

 

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