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Ano de 1759 - Por Basílio Daemon

Ruínas dos Jesuítas localizadas próximas ao Rio Salinas, em Anchieta - ES

1759. Por alvará do 1º de janeiro deste ano é elevada a aldeia de Reritiba à categoria de vila sob a denominação de vila de Benevente, em memória ao padre José de Anchieta que, julga-se, ter isso pedido.(262)

Idem. Em carta régia de 2 de janeiro deste ano é explicada a maneira de erigirem-se vilas e fazerem-se as despesas das paróquias e antigas aldeias dos índios de Reritiba e Reis Magos, e como já dissemos só foram elas instaladas em 1760.

Idem. Por provisão datada deste ano é nomeado governador-regente ou subalterno na capitania do Espírito Santo e capitão-mor Gonçalo da Costa Barbalho, que prestou juramento e tomou posse a 7 de agosto deste mesmo ano, indo residir na casa que existiu na rua do Carmo, sobrado que servia de palácio dos capitães-mores, segundo julgamos, e onde hoje nada há e só chãos vazios.(263) Esse sobrado era de portadas vermelhas e mais tarde pertenceu ao Sr. coronel José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, e dele foram tirados materiais para a Capela do Senhor dos Passos, tendo uma frente para os Pelames e outra para a rua da Capelinha.

Idem. Para chegarmos ao ponto que desejamos sobre a expulsão dos jesuítas desta capitania, preciso nos é que façamos uma divagação antes de descrever esse importante fato. A 19 de janeiro deste ano havia sido passado em Lisboa o alvará para expulsão dos padres da Companhia de Jesus, tanto do reino de Portugal como de suas possessões; a 21 de julho havia sido dirigida ao vice-rei do Brasil, conde de Bobadela, a carta régia ou de prego para o mesmo fim; em 3 de setembro (264) principiaram as ordens secretas para essa expulsão, não só no Rio de Janeiro e províncias, como também preparativos para a capitania do Espírito Santo, a fim de prenderem-se os ditos padres que se achassem no colégio da vila da Vitória, nas casas dos Santos Reis Magos, Benevente e Muribeca, e também na Aldeia Velha do Campo, Guarapari, Fazenda de Araçatiba, sítios e currais da Porta, do Sacramento, de Camboapina, Beritiba no Jucu, Junema na barra do rio Araçatiba, Palmares e Ponta da Fruta; sendo a ordem para sequestro geral de todos os bens pertencentes aos jesuítas expedida a 28 de dezembro deste mesmo ano pelo mesmo conde de Bobadela, e já quando se achavam presos todos os ditos jesuítas. Com efeito, a 4 de dezembro deste ano de 1759 chega a esta capitania e achava-se no próprio colégio da Companhia de Jesus o desembargador da Relação do Rio de Janeiro, Dr. João Pedro de Souza de Siqueira Ferraz, com o escrivão de capelas e resíduos desta diligência, José Pereira de Brito, que fora nomeado no dia 1º de dezembro do dito ano, ao partir o navio do Rio de Janeiro.(265) O desembargador Dr. João Pedro de Souza de Siqueira Ferraz fora nomeado a 10 de novembro deste mesmo ano pelo conde de Bobadela para o fim de, desocupando-se de todo e qualquer emprego em que estivesse na Relação, passasse sem perda de tempo à capitania do Espírito Santo e sendo nela fosse imediatamente ao Colégio dos Jesuítas e pusesse-lhe logo cerco com a guarda que levava consigo e mais gente se fosse preciso, pelo que recomendava ao capitão-mor da capitania, que era Gonçalo da Costa Barbalho, que se prestasse a acompanhá-lo à sua ordem; e indo com o Dr. Siqueira Ferraz o escrivão que fora nomeado à escolha do mesmo desembargador, metesse logo em rigoroso sequestro tudo que no dito colégio, casas e fazendas fosse encontrado, fazendo formal inventário, tanto dos bens móveis como dos de raiz, rendas ordinárias e pensões, escravos e gados, averiguando quais os bens pertencentes à dotação e fundação do dito colégio e os que depois se agregaram contra a disposição da ordenação L. 2º T. 16 e § 18, declarando-se os rendimentos certos e incertos, sendo reclusos os ditos padres no convento até final conclusão e fazendo-se o mesmo nas outras casas, fazendas e aldeias e sendo enviados juntamente todos para o colégio do Rio de Janeiro debaixo de boa guarda.(266) Trazia ainda o Dr. Siqueira Ferraz um bando para ser publicado na vila da Vitória e em Vila Velha, para notícia geral de serem presos todos o padres e irmãos sem que algum ficasse; apreendidos todos os papéis e deixando um sacerdote do hábito de São Pedro para nas fazendas serem administrados os sacramentos, podendo arbitrar ordenado, mas sendo essas nomeações depois feitas pelo vigário da vara por ordem que viria do bispo, isto tudo em cumprimento à carta de el-rei D. José I datada de 21 de julho e lei de 3 de setembro do mesmo ano, o que foi cumprido, como se verá. O navio partira do Rio de Janeiro no dia 1º de dezembro de 1759, com a tropa e o escrivão nomeado nesse mesmo dia, como se vê exarado na própria ordem do conde de Bobadela onde está esse ato feito pelo desembargador Siqueira Ferraz. Chegaram no dia 4, nesse mesmo dia desembarcaram todos, indo o desembargador Dr. Siqueira Ferraz logo cercar o Colégio dos Jesuítas, e apresentando ao capitão-mor Gonçalo Barbalho a carta de prego que trazia, ficando este muito assustado e timorato, segundo conta-se, mas acompanhando o Dr. Siqueira Ferraz na diligência, sendo mandado ler o bando enviado pelo conde de Bobadela. Entrados no colégio nele se acharam seis padres e eram eles o reitor padre Rafael Machado, padre Miguel da Silva, padre Manoel das Neves, padre Fabiano Martins, padre Antônio Pires, padre Pedro Gonçalo, fazendo-se logo o arrolamento de todos os bens encontrados como determinava a ordem ou a carta de prego. No dia 7 do dito mês, três dias depois da chegada do desembargador Dr. João Pedro de Souza Siqueira Ferraz, foram os ditos padres embarcados no navio que se achava em frente ao trapiche dos mesmos jesuítas, hoje cais do Imperador, tendo eles saído do colégio e caminhado com a cabeça curvada sobre os peitos e os braços cruzados, acompanhando-os parte do povo, que, segundo se diz, chorava ao vê-los embarcar. Foi ainda lido outro bando e antes de seguirem para bordo, e ali estiveram vigiados até serem presos os restantes que eram em número de treze, segundo consta, os que estavam nas casas e fazendas da mesma Companhia, e que foram, afinal, também embarcados, enquanto que o desembargador Siqueira Ferraz prosseguia em diligência onde eles tinham casas e bens.(267)

 

Notas

 

262 (a) Nery, Carta pastoral, p. 15. (b) Vasconcelos, Ensaio, 202. (c) Rubim, F. A. Memórias, p. 11.

263 Segundo requerimento de Gonçalo da Costa Barbalho, ao rei [D. José I], a pedir à secretaria entregue os seus papéis de quando foi capitão-mor da capitania do Espírito Santo [9 de julho de 1761], este governador-mor teria permanecido no cargo até 1761.

264 Carta que S. Majestade fidelíssima dirigiu em 3 de setembro de 1759 ao [...] cardeal patriarca de Lisboa reformador geral da Companhia [...] de Jesus [...] com o motivo da expulsão [...] dos regulares da mesma companhia. (b) Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios.

265 (a) “No dia 4 de dezembro desse ano, chegou a Vitória o desembargador Dr. Siqueira Ferraz, com ordem de sequestro, encontrando no colégio os RR. padres Rafael de Jesus (reitor), Manoel das Neves, Fabiano Martins, Antônio Pires e Pedro Gonçalo.” [Nery, Carta pastoral, p. 83] (b) “Chega num navio com pesado aparato militar, vindo da província do Rio de Janeiro, o desembargador Dr. João Pedro de Souza e Siqueira Ferraz”, 04/12/1759. [Leite, HCJB, VI, p. 141-2]

266 (a) Ofício do conselheiro Manoel Estevão de A. de Vasconcelos Barberino para Tomé da C. Corte Real, em que se refere desenvolvidamente ao sequestro geral dos bens pertencentes aos padres da Companhia de Jesus. Bahia, 25 de março de 1760. (b) “Vindo a fazer o valor principal de todos os bens de raiz, que até o presente tenho sequestrado ao colégio desta cidade a quantia de 223:035$000rs e os seus rendimentos anuais a de 13:325$320rs...” [Ofício do conselheiro Manoel de Almeida de Vasconcelos Barberino para Tomé J. da Costa Corte Real, sobre o sequestro dos bens dos jesuítas, informando acerca das avaliações e rendimentos dos bens. Bahia, 14/04/1760]

267 (a) “No dia 7 do mesmo mês deixavam os padres da Companhia de Jesus o Espírito Santo, embarcando, no lugar chamado hoje cais do Imperador.” [Nery, Carta pastoral, p. 83] (b) “De batina, capa preta e crucifixo no peito, todos os padres da Companhia de Jesus na capitania do Espírito Santo embarcaram rumo ao Rio de Janeiro e ao exílio”. 22 de janeiro de 1760. [Leite, HCJB, VI, p. 142]

 

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2019

 

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No Espírito Santo, o acontecimento teve lugar a 22 de janeiro de 1760 (data do embarque), tendo em vista a lei de 03 de setembro do ano anterior, do marquês de Pombal, decretando a medida para Portugal e colônias

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