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Anos de 1570, e 1572 e 1573 - Por Basílio Daemon

Rio Doce visto do espaço

1570. Falece no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, o padre provincial Manoel da Nóbrega, a 18 de outubro deste ano, com 53 anos de idade e 28 de assistência no Brasil, tendo estudos profundos adquiridos nos Colégios de Coimbra e Salamanca; foram-lhe feitas solenes exéquias e sepultou-se naquele mesmo colégio. Muito deve a província do Espírito Santo a este célebre padre, pois que nunca deixou de atender às suas necessidades, promovendo em alta escala a catequese e civilização dos índios, em que foi coadjuvado sempre pelo padre José de Anchieta, seu imediato.

1572. Neste ano Sebastião Fernandes Tourinho, descendente do primeiro donatário da capitania de Porto Seguro, parte dali com alguns companheiros e dirigindo-se diretamente ao rio Doce até encontrar com um braço do mesmo, a que os indígenas davam o nome de Mandij, ou Mandigi; aí desembarcando, fez por terra o caminho de 120 quilômetros em rumo LS, indo esbarrar em uma grande lagoa que julgamos ser a Juparanã. Ou porque os barcos em que veio fossem destruídos, ou por serem de grande calado, o fato é que com os companheiros construiu na volta quatro grandes canoas das cascas das árvores, podendo algumas conter 20 homens, e subiu pelo rio Doce e tomou o braço a que os indígenas chamavam Aceci, aí saltou em terra e com rumo de norte internou-se nas matas, tendo em suas investigações encontrado grande abundância de ouro, esmeraldas e safiras, perto de uma serra que tem ainda hoje o nome de serra das Esmeraldas; e continuando a viagem chegou até Minas Gerais(102) e seguindo depois o curso de diversos rios desceu o Jequitinhonha e por ele foi seguindo até a Bahia; ali então apresentou-se Sebastião Tourinho ao governador a quem relatou a sua viagem e as descobertas que havia feito.

1573. Neste ano, era então governador da Bahia Luís de Brito, que fora nomeado a 10 de dezembro de 1572, e que viera substituir Mem de Sá no governo, visto que D. Luís Fernandes de Vasconcelos, que fora nomeado a 6 de fevereiro do ano de 1570, não pôde suceder a Mem de Sá, por ter a frota em que vinha com o novo provincial da Companhia de Jesus, na província do Brasil, padre Inácio de Azevedo, que fora visitador e mais de sessenta religiosos, sido atacados por navios pertencentes a huguenotes e comandados pelos corsários Cap de Ville e Jaques Sore,(103) que desbarataram a frota, matando e aprisionando a muitos dos que vinham. Luís de Brito, governando então as capitanias ao norte, principiou a mandar investigar as terras, rios e costas, assim como as minas de metais e pedras preciosas de que havia notícia existirem nos sertões, e é assim que neste ano, tomando em consideração o que comunicara Sebastião Tourinho no ano antecedente(104) a respeito do rio Doce e sua riqueza adjacente, deliberou mandar nessa investigação a Antônio Dias Adorno, em busca das minas relatadas por aquele; e, com efeito, dirigindo-se este àquela descoberta subiu o rio Caravelas com cento e cinquenta homens de comitiva e mais quatrocentos índios e escravos; desembarcando, seguiu por terra o roteiro de Sebastião Tourinho, havendo tido com diversas hordas de índios alguns encontros, mas chegando afinal à serra das Esmeraldas, e ali ao norte desta serra e em suas imediações encontrou, com efeito, turmalinas verdes e outras azuladas, da parte de leste, das quais se sortiu, fazendo ainda investigações; trataram em seguida de regressar, dividindo-se os exploradores em duas seções, partindo uns pelo rio Belmonte até o oceano, e outros comandados por Antônio Dias Adorno atravessando os sertões até a Bahia, onde este deu conta de sua comissão.(105)

 

Notas

102 (a) Segundo Mário Freire, “Depois de uma tentativa, sem grande êxito, Sebastião Fernandes Tourinho, em 1573, subiu pelo rio Doce. Quando voltou, trouxe pedras julgadas esmeraldas e safiras, bem como a notícia de haver ouro no sertão. Melo Moraes afirma que Tourinho era natural da capitania do Espírito Santo.” [Bandeiras e bandeirantes, RIHGES, 1934, 7:3] (b) “Sebastião Fernandes Tourinho sai de Porto Seguro; e subindo o rio Doce em busca de minas de metais preciosos, descobre grande parte do território hoje ocupado pela província de Minas Gerais.” [Malheiro, Índice cronológico, 1573] (c) “Sebastião Fernandes Tourinho, natural do Porto Seguro, entrou no ano de 1573 pela foz do rio Doce e pela primeira vez descobriu o território de Minas.” [Machado de Oliveira, Notas, apontamentos, RIHGB, 1856, 19:254]

103 Jean Capdeville e Jacques de Soria, famosos corsários huguenotes do século XVI.

104 Vide nota 102.

105 “Alguns anos depois, as expedições de Tourinho e Adorno tiveram êxito mais compensativo: conheceram-se as jazidas de esmeraldas, de safiras e de turquesas, na serra das bacias do Mucuri, do Jequitinhonha e do São Francisco.” [Rocha Pombo, História do Brasil, p. 309]

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2019

 

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