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Comércio Exterior - Por Arthur Gerhardt (Parte IV)

Enseada do Suá - Pátio tomado por carros na era do FUNDAP

4 – O quadro de hoje

 

O Espírito Santo possui um sistema portuário bastante bom (ótimo podemos dizer se compararmos com o quadro nacional), uma excelente ferrovia atualmente subtilizada e uma rede rodoviária necessitando de melhorias, mas a sua implantação básica é muito boa.

Os portos de Vitória, Paul, Capuaba, Tubarão, Praia Mole, Samarco e Portocel formam um complexo invejável. Junto a eles, localizaram-se áreas alfandegadas modernas que visam complementar a eficiência dos portos. Temos uma classe portuária voltada para a eficiência e o progresso, com uma noção muita clara de que a atividade portuária é atividade meio e que só poderá ter sucesso se for eficiente e ter custos competitivos.

Completando, a rede rodoviária contribui para tornar o nosso sistema portuário atrativo. Agora, é hora de fazermos um apanhado de algumas das atividades importantes que este sistema integrado de transporte permitiu que se instalasse aqui em nosso Estado.

Em primeiro lugar, vale ressaltar a importância da cafeicultura. Desde o final do século passado, a agricultura e o comércio de café têm ocupado lugar de destaque como atividade econômica maior geradora de emprego. Chegou até a ser atividade quase que exclusiva da economia local, apesar de todas as crises por que passou. Chegou a ter importância superior a 50% na geração do nosso Produto Interno Bruto. E foi a crise da cultura do café que despertou no capixaba a necessidade de diversificar a sua economia, procurando atrair atividades industriais que pudessem ser geradoras de renda e emprego. Nunca é demais lembrar a formidável recuperação da cultura cafeeira após a crise dos anos 60. A cafeicultura capixaba estava em plena decadência. Cafezais de baixíssima produtividade deterioravam a economia local. Com a crise e a erradicação promovida pelo Governo Federal, vislumbrou-se a possibilidade de renovação da atividade não somente fazendo novos plantios, com melhor tecnologia e consequente melhor produtividade, como também se introduziu o plantio do café Conilon, mais propício para muitas áreas do Estado, áreas de clima mais quente e de menor altitude. Esta revolução foi feita, diga-se de passagem, contra a política defendida pelo Instituto Brasileiro de Café – IBC e o interesse da grande cafeicultura nacional, principalmente a paulista e paranaense. Quando fui governador do Estado, a minha equipe e eu percebemos que poderíamos gerar milhares de empregos na cafeicultura com o plantio de Conilon. Com o auxílio de algumas prefeituras, principalmente no norte do Estado, nos lançamos nesta que o IBC e o “stablishment” da cafeicultura nacional chamavam de aventura e, como se pode constatar hoje, foi uma aventura que deu certo. Só para ficar em um indicador, hoje temos uma produção mais de duas vezes maior que a anterior à erradicação com menos da metade plantada.

A partir da década de 70, a economia local sofreu uma verdadeira revolução. A atividade industrial passou a ter uma importância na formação de nosso PIB próxima do percentual que tem as economias mais desenvolvidas. E esta mudança deu-se basicamente em atividades voltadas para a exportação.

Menciono de maneira sucinta algumas destas atividades.  Para começar com o café o Espírito Santo passou a sediar uma das poucas indústrias de café solúvel que se instalaram no país. Hoje, exportamos café solúvel para os maiores mercados mundiais. Aproveitando muitas das terras que estavam abandonadas após a crise do café e o clima favorável, instalou-se aqui uma moderna e eficiente exploração de florestas artificiais, que permitiu a construção de uma fábrica moderna e eficiente de celulose. O minério que a Vale transportava e aqui embarcava foi o gerador direto de duas atividades industriais: as usinas de pelotização e a construção da Companhia Siderúrgica de Tubarão. A Samarco construiu um sistema de transporte de minérios finos que também gerou uma usina de Pelotização.

Fico somente nestes exemplos mais expressivos da capacidade que nossa vocação portuária gerou de atividade industrial. Muitos outros exemplos poderiam ser dados.

Mas não pode ser desprezado o que esta atividade portuária gerou de atividades na área dos serviços. O comércio exterior que, até bem pouco tempo, se resumia no de café, hoje esta muito diversificado, tanto no sentido da exportação como da importação. Com a abertura recente do Brasil para as importações, os empresários encontraram aqui campo propício à sua atividade comercial, não só devido ao sistema portuário e o seu complementar sistema de transporte, mas também a uma política financeira com mais de vinte anos de experiência que quiçá tenho sido o maior impulsionador da atividade importadora por nossos portos, chegando a termos quase o monopólio das importações de veículos automotores.

Quem comparar a distribuição do nosso PIB entre os setores primário, secundário e terciário de nossa economia poderá avaliar a transformação que ocorreu no Estado e poderá entender porque os dados divulgados recentemente pelo IBGE nos colocam como o Estado da Federação que mais cresceu entre 1970 e 1994.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 47, ano 1996
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2014 

Portos do ES

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