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De como Anchieta aprendeu a língua do Brasil

Anchieta e catequese

No meio destas ocupações e outras muitas em que o Pe. Nóbrega se aproveitava de sua indústria, diligência e conselho, aprendeu a língua da terra, pondo de sua parte, além da muita facilidade que Deus para isso lhe tinha dado, muita diligência e aplicação, com grande desejo que tinha de ajudar as almas dos naturais que por falta de obreiros padeciam muitas necessidades espirituais. E tanto de raiz [a sério] apreendeu que não somente chegou a entendê-la e falá-la com toda perfeição e compor nela e transladar as coisas necessária para a doutrina e catecismos: mas também, veio a reduzi-la a certas regras e preceitos e compor arte dela, com que se ajudam muitos os Nossos que apreendem a língua.

Foi coisa maravilhosa o fruto grande que com esta sua língua fez em proveito das almas, porque além de exemplo que deu aos demais e fervor que causava neles para apreenderem com diligência, além da muita doutrina e práticas espirituais, assim pública como particulares. Além das muitas confissões que fez, sendo intérprete. Além dos muitos que aparelhou [preparou] para o batismo e para bem morrer, — que por seu meio, quanto se pode crer, estão na glória —, ajudou a compor ou foi o principal autor dos Diálogos das  coisas da fé, Confessário, Instrução dos que hão de ser batizados, e para ajudar os que estão para morrer, de que os Nossos que não são tão boas línguas, em extremo [em fim de vida] se têm ajudados e ajudam.

E, porque não lhe ficasse coisa com que pudesse aproveitar, compôs também Cantigas devotas na língua, para que os moços cantassem, porque para tudo tinha habilidade. Uma vez a este propósito desejando Pe. Nobrega impedir alguns abusos que se faziam em autos [representações sagradas] na igreja, lhe mandou que para a Noite de Natal fizesse um modo de representação devota em português e na língua dos índios, com que todos se aproveitassem em devoção e alegria espiritual. Esta se fez em muitas partes da costa, com muitos frutos dos ouvintes que com esta ocasião se confessavam e comungavam. E para N. Senhor mostrar que esta obra lhe era aceita sucedeu o seguinte. Havia-se de se representar em São Vicente - tendo-se já representado em Piratininga - e como com o português, tinha muitas coisas na língua, ajuntou-se toda a capitania, na véspera da [da festa da] Circuncisão. E estando toda a gente junta sobreveio uma grande tempestade, e sobre o teatro se pôs uma nuvem negra e temerosa, que começou a lançar de si algumas gotas de água grossa. Com isso começou a gente a se inquietar e levantar. Acudiu o Irmão José dizendo que se aquietassem que não era nada. Fez-se a obra [representação] que durou três horas, com muita quietação, devoção e lágrimas, e depois da gente recolhida em suas casas, descarregou a nuvem com tão grande tormenta de vento e água que a todos fez espantar e louvar o Senhor.

Este zelo, que por via da língua aproveitar [ajudava] aos índios, não se diminuiu nele com a velhice e pesadas enfermidades, que com ela lhe sobrevieram. Porque tendo trazido ao mar por via dos Nossos, uns Índios chamados Marunimis, - que é uma nação mui estendida pelo sertão -, já que por outro modo não tinha força para os ajudar, determinou-se de reduzir a certas regras sua língua, e fazer dela arte para com ela os Nossos com mais facilidade pudessem apreender sua língua. Ajudou-se para isso, dalguns dos Nossos como dos Índios, que sabiam sua língua e a da costa. E, saiu com seu intento e abriu caminho para ajudar uma nação tão grande e que tem algumas coisas que facilitam sua conversão: scilicet [a saber], não comer carne humana, não ter, pelo comum, mais que uma mulher e serem muito amigos dos Portugueses e muito mais dos Padres que tem cuidado deles.

 

Fonte: Anchieta: um santo desconhecido? – 2014
Organização: Padre Illário Govoni
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2020
Onde comprar o livro: Santuário de Anchieta, Anchieta/ES ou Marques Editora, Belém-PA

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