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De como o Padre Anchieta continuou a conversão dos índios

Anchieta e o índio Diogo

O Irmão José tirado do cativeiro tornou a continuar na conversão dos gentios e na doutrinação dos já convertidos. Era muito amado pelos Índios pela sua brandura com que procurava o bem de suas almas. Era muita a sua caridade para com eles ou curando-os em suas enfermidades ainda que fossem muito nojentas e asquerosas. Uma vez tomou um Índio pagão para o curar de uma lepra, e fazendo-o cristão o curou da lepra da alma e do corpo. Não se negava para lhes acudir, nem de dia nem de noite, nem recusava caminhos por ásperos e compridos que fossem, nem chuvas, nem calmarias, nem fome nem outros perigos que a cada passo se ofereciam.

Seu caminho era a pé e descalço por praias, montes e vales. Esse jeito não mudou nem quando feito Provincial, visitava as aldeias dos Índios.

A cada passo achava encontros de almas, que parece não esperavam mais que por ele, ou para o batismo ou para a confissão, e daí a pouco se iam para Deus. Muitas vezes ia com um Padre por uma praia e, quase movido por outrem, se desviava do caminho para o mato e dava com um índio doente em algumas choupana e sabida sua necessidade vinha com muita alegria chamar o Padre para o batizar. Nisso, muitas vezes se viu clara a Providência de Deus para com todos e em especial para seus escolhidos, acudindo- lhes em tais tempos com remédios, tão pouco esperados.

Um vez, cansado, quer o Padre, quer ele, das muitas confissões que tinham feito - sendo ele intérprete - se foram à praia que estava perto, a tomar um pouco de alento e descanso. Acharam nela um índio de cento e trinta anos, falou-lhe o Irmão das coisas de Deus das quais nenhum conhecimento tinha, recebeu muita consolação e mandou chamar seus filhos e netos - e tinha muitos - que ouvissem também aquelas coisas e ajudassem a apreendê-las. Não dormia de noite o bom velho com o gosto e cuidado que tinha ouvindo, e mostrava grande sentimento de seus antepassados carecerem de tanto bem. Finalmente depois de bem instruído por alguns dias foi batizado na igreja, da qual não se queria ir para a casa, se não ir logo daí para o Céu. Mas pouco tempo lhe dilatou N. Senhor estes desejos levando-o para si como desejava.

Tratando uma vez na salvação dos negros, disse que folgaria de morrer atolado num lameiro para acudir à sua salvação.

Nisto mesmo continuou e com mais fervor e zelo, depois que foi ordenado, que foi no ano de 1565, quando já de por si podia dar remédio. Oh! quantas vezes o vimos sentados sobre um tição [tôco] pegado com a rede do índio doente - às vezes de doenças que podiam causar horror - consolando-o e esforçando-se com não menos afeto e brandura, do que uma mãe pode ter em tal tempo com um filho que muito ama! E verdadeiramente parece que assim como seu gosto em vida foi tratar com os Índios e empregar-se todo em seu remédio, assim Deus lhe quis dar por última consolação que morresse entre eles, com o adiante se dirá.

Como temos dito, não somente procurava a salvação dos Índios, mas como bom filho e bom discípulo do Pe. Nóbrega, por todos os modos defendia sua liberdade. E em pregações e prática repreendia e estranhava os maus tratamentos que os Portugueses lhes faziam. Querendo uns homens em São Vicente fazer uma entrada aos Carijós, fizeram prestes [prepararam ] dois navios. Acudiu o Pe. José e publicamente os repreendeu aquela ida pelas muitas injustiças que contra os pobres Índios se haviam de cometer; mas eles foram por diante com a sua determinação. O capitão de um dos navios sonhou uma noite sobre um mar que caía de um rochedo abaixo, e que Pe. José lhe pegara pelo cabeção e o livrara, repreendendo-o do caminho que levava. Acordando pela manhã, mandou virar a proa e tornou-se para sua casa. O outro quis continuar sua viagem, mas ele e toda a gente se perdeu.

 

Fonte: Anchieta: um santo desconhecido? – 2014
Organização: Padre Illário Govoni
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2020
Onde comprar o livro: Santuário de Anchieta, Anchieta/ES ou Marques Editora, Belém-PA

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