Elmo Elton - Discurso de Posse no IHGES em 12.06.1981
Senhoras e senhores:
Moravam meus pais próximo à Praça João Clímaco, nesta cidade, de modo que, fosse hora de lazer, corríamos para lá, eu, meus irmãos, os demais meninos da vizinhança. A praça era um ponto de atração, tinha jardim com coreto, este sempre animado por vibrante banda de música, tanto que, em dias de festa, organizadas nosso batalhões mirins, simulávamos desfiles marciais, à cadência de seus dobrados inesquecíveis, tal se nos imaginássemos não soldadinhos de mentira mas já autênticos soldados da Pátria. Foi aquele tempo, para os meninos da Cidade Alta, um tempo de ruidosa alegria, de esperanças, também de descobertas. Recordo que, na manhã de um 12 de junho, era domingo, algo me despertou a atenção. É que na mesma praça, em torno da estátua de Domingos José Martins, alguns senhores (eram os membros deste Instituto) homenageavam, com discursos, a memória do herói espírito-santense. Lá, aplaudindo os oradores, estavam ainda, grupos de alunos dos mais diversos colégios da cidade. Foi assim que, de retorno à casa paterna, pedi me contassem mais coisas sobre o homenageado do dia. Contaram-me, de raspão, o que sabiam, mas desde aí, se bem me lembro, agucei a curiosidade – a curiosidade foi sempre uma característica do meu espírito -, já não faltando àqueles anuais encontros cívicos do dia 12 de junho, sempre no mesmo local. Antes lá chegassem os membros do Instituto, eis que ali, bem cedo me punha de sentinela, depositando sempre, religiosamente, ao pé da estátua, flor qualquer colhida no jardim caseiro. Desejoso de melhor informaram-me acerca do grande herói, passei a freqüentar a vizinha Biblioteca Pública e, embora a minha pouca idade para leituras de maior fôlego, pus-me a ler, com avidez, tudo quanto se me ia deparando com referência à Revolução Pernambucana de 1817, inclusive artigos encontrados na excelente revista desta Casa. Depois, menino de quinze anos, indo estudar na velha cidade de mariana, em Minas, enquanto os colegas, orgulhosos e triunfais, falavam de Felipe dos Santos e de Tiradentes, propugnadores da independência nacional, eu me punha a discorrer, um tanto bisonhamente, sobre Domingos José Martins, e foi com visível indignação que ouvi, certa vez, de um colega mais crescido, ser o herói espíritossantense natural da Bahia. Ora isto me soou como clamorosa inverdade, mesmo quando, ao depois, li tal afirmativa em compêndio de mestre João ribeiro, então adotado no colégio. Verdade que, ao correr dos anos, se ora lia algum estudo mais correto a propósito daquela Revolução, ora lia também sempre com pesar, críticas às causas deflagadoras da mesma Revolução, ora ainda, e aí com maior pesar, comentários acerbos ao comportamento de nosso coestaduano.
Felizmente, a pesquisa continuada e séria,a interpretação política, histórica, firmada por estudiosos honestos, porque isentos de qualquer partidarismo, fizeram com que a figura de Domingos José Martins, afinal, se nos mostrasse inteira, incorruptível e majestosa no delineamento de seus traços exatos.
Perdoai, senhores, vos tenha trazido, ao recordar-vos o nome daquele herói, velhas lembranças de minha infância, já que outra a incumbência que, para este momento, me delegastes. Mas imaginai o quanto de comoção se me enche o espírito, quando sei que dentro de mais alguns minutos, já sócio efetivo desta Casa, estarei convosco na Praça João Clímaco, tal como faziam aqueles senhores de que vos falei de início, reverenciando a memória de Domingos José Martins, o imortal patrono deste Instituto, cuja data de arcabuzamento, no Campo da pólvora, na Bahia, se comemora hoje, dia 12 de junho. Ali, convosco, estará o antigo menino da Cidade Alta, agora, bem vedes, já de cabeça embranquecida, mas felizmente, com o coração ainda moço de civismo.
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Nº 31/33. 1980/1982
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011
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