Escrivaninha – Por Reinaldo Santos Neves
Nunca vi, em Vitória, um Michel que não fosse de família libanesa. Em qualquer geração. O, por exemplo, saudoso professor Michel Saade; o médico, por outro exemplo, Michel Sarkis, a quem de vez em quando entrego na bandeja os meus ouvidos para ele desobstruir do entulho auricular; e, também por exemplo, o nosso Michel Minassa, lá da mesa sabamatinal (desculpem-me o joycismo) da Livraria Logos da Praia do Suá.
Já Michèle, ou Michelle, nunca vi, em Vitória, nem uma só que fosse de família libanesa. Pode até ser que haja, mas não de meu conhecimento. Michèle, aliás, só me lembra a oxítona Michèle Morgan, que reinou soberana e fatal entre as décadas de 40 e 50, e que eu vi mais em fotos de revista do que propriamente nos seus filmes — filmes que Ivan Borgo certamente viu, todos eles, sentado nas duras cadeiras de pau do velho Cine Trianon de Jucutuquara. Quanto a Michelle, ma beile, era, é claro, e será sempre, primordialmente, a dos Beatles — e ponto parágrafo.
E Michela? Tem despontado, aqui e ali, tímida e esparsa, essa forma de nome feminino. Tendo em vista que essas Michelas têm cerca de vinte anos, pode-se deduzir que, vinte anos atrás, o nome desfrutou de leve — e efêmero — favor entre pais e mães na hora exata de dar nome às filhas. Não sei, porém, de onde procede o nome. Talvez tenha sido visto, por pais lusófilos, como a forma aportuguesada de Michelle. Ou, por outra, talvez seja a forma italiana do nome Michele (celebrizado por um certo livro de San Michele que fez furor nos ingênuos anos 40 brasileiros) — não tenho Luiz Busatto à mão, para fazer a pergunta, e tanto melhor, porque assim fica no ar a dúvida, como numa bolha, sem pocar.
Faço notar apenas que, nesse caso, a pronúncia seria Miquela e não Mixela. O que o aproxima de uma outra forma desse nome, já se vê, multifário: Micaela — nome típico de violinista erudita e que, em sua forma masculina, Micael, consta que é nome especialmente apropriado para gato.
Esse longo atalho onomástico é só para chegar até Michella Gennifer Silva, a poeta desta edição de Escrivaninha — de que a revista Você não pode ser vendida separadamente. Dela só direi que é da geração 70, é daqui e não dali, é aluna de Letras na boa e velha UFES, fez oficina literária com Valdo Motta, e acredita piamente em si mesma e na literatura — tanto que sua opção preferencial é pela prosa. Enquanto o romance não sai, exercita o espírito e o estilo em versos como estes:
O Anjo da Palavra
Ocultadora da alma,
mascará é o meu nome,
cruel ditador de destinos
que com esforço controlo.
Sufoca-me, Miguel,
Angelicamente
- ser da máscara que ostento,
guardião da essência divina.
Mas, mesmo assim,
amo tua presença
em palavra, nome e verbo.
Madrugada
Correm lágrimas
sob o vento gelado,
tensas idéias
brincam
com o nada.
Escurecendo o céu,
O tempo, garoto
perdido
tentando
encontrar a paz, sufoca.
E eu, à espera
de uma fuga
em sua respiração
e no silencio a ser quebrado,
adormeci.
Lua
Você que é irradiante
não tente me enganar.
simples cansaço
não deixaria seus olhos semi-
úmidos.
Percebo agora que você
só é doce quando quer
e suas palavras amargas
são vultos negros na minha alegria.
Dia de lua
Noite sem brilho
O brilho dos seus olhos
Cadê?
Atrozmentante
Uma dor atrozmentante,
diluidora de trêmulas
realidades,
chocou-se contra mim,
jogando-me no espaço
vazio da palavra.
O sol que era para mim
brilho,
tornou-se lua.
Alma
Andando por todos os cantos,
olhos através de mim,
pareço invisível,
e às vezes até gosto disso.
Posso ver tantas coisas
e sentir tantas outras coisas
silenciosas
sem ninguém sentir que as sinto.
E me realizo
Sabendo que meu silêncio incomoda.
Fonte: Você – Revista da Secretaria de Produção e Difusão Cultural/UFES – ano V – nº 42 – set/1996
Autor: Reinaldo Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2015
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