Farol de Santa Luzia – Por Elmo Elton
Situam-se à entrada da barra de Vitória vários acidentes geográficos (ilhas, ilhotas e arrecifes), os quais dificultam a passagem de embarcações rumo ao cais do porto, enumerando-se, entre outras, as seguintes ilhas, ali existentes: — do Boi, antiga Dom Jorge de Menezes, bem na entrada da baía; dos Frades, antes pertencente aos religiosos beneditinos, que pouco se demoraram na capitania do Espírito Santo; do Fato, antiga propriedade dos jesuítas; dos Bodes; das Andorinhas, situada perto da praia de Itaparica; dos Papagaios, localizada quase defronte da antiga fortaleza de São Francisco Xavier, em Piratininga; da Forca, na enseada de Vila Velha, assim chamada porque nela, no início da colonização da capitania, eram lá enforcados os criminosos; das Cobras, antes cognominada Morro do Céu, em frente a Jaburuna; de Bento Ferreira, da Pouca Fumaça, também conhecida por ilha da Fumaça; de Santa Maria, outrora pertencente aos jesuítas, hoje não mais ilha, ligando-se por aterro a Vitória; das Pombas, em frente à Pedra d'Agua, tendo servido, no passado, para depósito de gado; das Flores, também tida como ilha do Marçal e da Pólvora; da Baleia; do Calhau; da Guerra, primitivamente apelidada Bela Vista; a ilhota dos Urubus e a Pedra do Ovo; igualmente as ilhotas dos Pacotes e do Cavalo, a primeira situada ao sul do farol da barra e a segunda em frente ao mesmo.
Os navios terão, em virtude desse número considerável de ilhas, que estar atentos, quer na direção de seu roteiro, como em suas manobras, assim navegando sinuosamente rumo à baía de Vitória, a fim de que não sejam prejudicados por qualquer ocorrência imprevista.
Quando os corsários andaram saqueando a vila de Vitória, e isso por três ou quatro vezes, ancoravam seus galeões não dentro da baía, mas sempre em lugar que pudessem melhor fugir dos contra-ataques da população, já que sabiam, como experientes homens do mar, o quanto era difícil a entrada no porto, tal o número de acidentes encontrados antes de se transpor o canal de acesso ao mesmo. Aliás, para não permitir a chegada de seus galeões até à enseada, do Forte de São João ao Penedo, foram estendidas pesadas correntes de ferro, presas, de um lado ao outro, por argolões, estes ainda vistos ali.
O almirante Koin e o conselheiro Newlant, quando aqui estiveram, deixaram fora da barra os navios de grande calado, entrando somente na baía "uma polaca e nove tanchões com setecentos homens de tropa", embora a expedição corsária fosse de onze navios.
Antes da inauguração do farol de Santa Luzia, de que falarei adiante, as ilhas de Vitória, ao cair do sol, eram iluminadas em sua maioria por tochas, de modo a facilitar a passagem de navios, rumo ao cais da cidade, o que evitava encalhamentos e mesmo afundamentos dos mesmos, mas, ainda assim, se tem notícia de vários naufrágios na entrada da barra, antes de ali instalado aquele engenho, citando-se, como exemplo, o do vapor Santa Maria, ocorrido entre as ilhas do Calhau e da Baleia, em 1879.
Em 1848 veio pela primeira vez ao Espírito Santo, em atenção a pedido do presidente provincial Luiz Pedreira do Couto Ferraz e por ordem do Governo Geral, o oficial de Marinha capitão-tenente Rafael Lopes de Araújo a fim de estudar e levantar a planta necessária aos melhoramentos da barra e porto de Vitória, sem que nenhum resultado positivo se obtivesse dessa missão, assim como infrutífera a tentativa esboçada, no mesmo sentido, pelo tenente Manoel Costa, em 1854.
Pelo ofício n° 2301, de 25 de abril de 1871, o Ministério da Marinha comunicava ao Dr. Francisco Ferreira Correa, então presidente da província, ter determinado fossem remetidas para Vitória as peças de um farolete que o engenheiro Zózimo Barroso enviara da Inglaterra, comunicando, no mesmo expediente, a nomeação de engenheiros encarregados de escolherem o ponto mais indicado para a montagem do aparelho. Esta comissão, composta dos engenheiros tenente-coronel João de Souza Melo Alvim, Júlio Alvares Texeira de Macedo e tenente José Maria do Nascimento Júnior, chegou a Vitória, a 16 de maio do mesmo ano, pelo navio Juparanã. Os estudos, realizados de imediato, concluíram que o farol devia ser colocado, sobre rocha, nas imediações do morro do Moreno, em Vila Velha, tal como é visto até hoje.
A 18 de junho, no iate Helena, chegaram as peças anunciadas no citado ofício, incluindo a torre de ferro, de fabricação escocesa, sendo que, da comissão encarregada de estudar a área para a colocação do farol, ficou por mais tempo, em Vitória, apenas o engenheiro Júlio Alvares Teixeira, já que os outros dois, concluídos os estudos preliminares, retornaram ao Rio de Janeiro.
Pouco mais de um mês da chegada das peças do farol, isto é, a 27 de julho, colocou-se a primeira pedra de cantaria, que serviria de base ao aparelho, realizando-se, na ocasião, uma cerimônia no local, sendo que, dias depois, a 7 de setembro, "a luz do farol já anunciava aos nautas, antes incertos, a segurança da aproximação do porto. O primeiro navio favorecido, por essa obra, foi o Juparanã".
O farol de Santa Luzia, em forma diagonal, sempre pintado de branco, mede doze metros de altura, vendo-se acima dele um anemoscópio (cataventos), a altitude com relação ao nível do mar é de 29 metros, seu alcance luminoso atingindo 15 milhas. Funciona com luz alógena, com um sistema de emergência a gás acetileno. Antes, isto é, até 1917, era iluminado a querosene gasificado por meio de aquecimento vaporizador.
A luz, acendida sempre ao pôr-do-sol, é desligada ao nascer do mesmo. O aparelho lenticular tem quatro painéis luminosos e um cego. De um lampejo para outro dura um segundo e meio, sendo que a duração de cada lampejo é de 0,5 segundos. A ocultação maior do painel cego de 5,5 segundos. Em resumo: a característica luminosa do farol é de 12 segundos.
Estas as suas coordenadas geográficas:
Lat. 20° 19' 27" S (sul) — Long. 40° 16' 03" (oeste)
Gremwich — Long. — 0.
O farol, o mais antigo instalado no litoral espírito-santense, é de desenho elegante, trazendo sobre a porta de entrada esta inscrição: — "REINANDO o Senhor D. Pedro II — I. C. O Barão de Cotegipe, Ministro da Marinha, mandou construir este pharol. Engenheiro, Zosimo Barroso. Construtores, P & W. Maclellan. Glascow, 1870."
Em seu interior uma escada em espiral, de ferro, de trinta e três degraus, dá acesso ao aparelho lenticular, sendo que duas placas foram colocadas, fora, nas paredes laterais da base. A primeira registra: Data do acendimento: 7 de setembro de 1871. Júlio Alvares Teixeira — Engº civil. A segunda, ali afixada quando do centenário do farol, informa: Farol Santa Luzia 1871-1971. Comemoração do primeiro acendimento em 7 de setembro de 1971. Diretor geral de Navegação — Almirante de esquadra Maurício Dantas Torres. Diretor de Hidrografia e Navegação — Contra-Almirante Paulo Gitahy de Alencastro.
Atualmente, por detrás do farol, se assentam duas casas: uma delas datada de 1892, onde reside o militar Washington Luiz Teixeira de Castro e família, outra não é senão a que se refere o presidente provincial Herculano Marcos Inglês de Souza, em seu Relatório de 1882, quando comenta: "Reparou-se, ultimamente, a casa em que residem os empregados 2° e 3° faroleiros, e bem assim a cozinha, cujas paredes tinham caído. Dispendeu-se com essas obras a quantia de 600$000 réis, sendo as mesmas dirigidas pelo capitão Joaquim Salles Torres Homens". A data de 1892, que ora ali se vê, não é, pois, a da construção do imóvel, mas de sua ampliação. É, agora, conhecida por casa da guarnição. A outra moradia, ocupada pelo faroleiro Wolmar Pessanha, é de construção bem mais recente. Esse senhor, amante de sua profissão, já esteve servindo em outros faróis, sendo casado com a senhora Áurea de Araújo Pessanha, que, filha do faroleiro Antonio Gomes de Araújo e irmã de Aurino Gomes de Araújo, faroleiro dos Abrolhos, nasceu no farol de Santo Agostinho, em Pernambuco, sendo que, através dela, fiquei sabendo que as famílias de faroleiros se entrosam entre si, pelo matrimônio, como que por uma quase imposição atávica.
Também, na área em que se ergue o farol, há uma outra construção que serve de posto de controle de navios.
O farol de Santa Luzia, antes de difícil acesso, agora, com a urbanização do bairro da Praia da Costa, pode ser facilmente visitado, aos sábados, domingos e feriados, no horário das 9 às 17 horas. Vale a pena um pulinho até lá.
Fonte: Velhos Templos de Vitória & Outros temas capixabas, Conselho Estadual de Cultura – Vitória, 1987
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2017
A 07 de setembro de 1871, a luz do farol já anunciava aos nautas, antes incertos, a segurança da aproximação do porto
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