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Getúlio Vargas - 60 anos de sua morte

Getúlio Vargas e Oswald Guimarães, em visita ao Convento da Penha, anos 50

Inicio da sua trajetória política

Nascido em 19 de abril de 1883 em São Borja – RS, era filho do Gal. Manoel Nascimento Vargas e Dona Cândida, pertencia a uma família de republicanos, ligado ao caudilho Borges de Medeiros. Iniciou a sua carreira política em 1909 quando foi eleito Deputado Estadual até 1913. Em 1917, foi reeleito, por mais um mandato até 1923. Posteriormente foi eleito Deputado Federal de 1923 a 1926.

Durante a Guerra Civil de 1923, foi nomeado tenente-coronel, porém não combateu e viajou para o Rio de Janeiro para exercer a cadeira de Deputado Federal.

Em 1926, o então Presidente da República Washington Luiz escolheu Getúlio para o cargo de ministro da Fazenda.

A eleição de Getúlio ao governo gaúcho foi caracterizada como sem concorrentes, apadrinhado por Borges de Medeiros.

Em 1929 a figura de Borges de Medeiros, seu anjo da guarda, junto com João Neves da Fontoura, líder da bancada gaúcha, na câmara de Deputados, convenceram Getúlio a lançar-se candidato da oposição à Presidência da República e em agosto do mesmo ano, surgiu a Aliança Liberal. A Getúlio coube fazer o enterro da “Velha República”.

 

“A Velha República”

Em 1929, o Brasil enfrentou um desemprego na casa dos 2 milhões. Indústrias trabalhavam dois a três dias por semana, o caos gerou fechamento de centenas de indústrias.

O salário diminuiu 50% na cidade e no campo. As cotações do café caíram no mercado internacional, a bolsa de Nova York faliu; quase 30 milhões de sacas estavam estocadas, de 200.000 réis a saca em agosto de 1929, o preço caiu para 21.000 réis em janeiro de 1930.

O governo de Washington Luiz estava em crise. A política financeira previa a substituição do mil réis para o cruzeiro. Em outubro de 1929, o Brasil registrava uma super produção de café, não havia compradores para o café brasileiro. Em dezembro no Congresso da Lavoura, os cafeicultores expressaram seu descontentamento:

“A lavoura hoje com o governo. E, se não for atendida, amanhã será a lavoura do governo. E depois a lavoura contra o governo.”

Mas o presidente Washington Luiz queria um nome que se mantivesse fiel à sua política e indicou o paulista Julio Prestes do PRP à sua sucessão.

É nesse clima que durante as eleições de 1º de março de 1930 surge o Sr. Getúlio Vargas à frente da Aliança Liberal e promete ao povo brasileiro

- a pacificação geral dos espíritos pela anistia

- a verdade eleitoral pelo voto consciente e livre

- a reforma efetiva dos processos políticos vigorantes no país, na salvaguarda dos deveres fundamentais inerentes ao livre exercício da sabedoria nacional.

Como garantia da verdade eleitoral e de progresso, Getúlio Vargas apresentou à nação os frutos de sua administração, tolerante e operosa no Rio Grande do Sul.

Nas eleições de 30, a violência foi predominante no RJ e o Deputado Souza Dantas foi assassinado dentro do Parlamento. Em Monte Carlos MG, quatro pessoas morreram em comício. Em Vitória, ES, com a chegada da Caravana Liberal, sete pessoas foram mortas.

Em 1º de março de 1930, primeiro dia de carnaval, ocorreram as eleições. Julio Prestes ganhou com mais de 1 milhão de votos contra 737.000 de Getúlio.

A Aliança Liberal estava derrotada. Com as eleições perdidas só restava à Aliança Liberal o caminho da revolução. Apesar de eleito Julio Prestes teve poucas chances de governar o país. O assassinato de João Pessoa no Recife, que era o vice de Getúlio, foi o estopim do levante revolucionário.

Getúlio disse a nação: - “Rio Grande do Sul de pé pelo Brasil! Não podereis iludir o teu destino heróico”. E assim explode a Revolução liderada por Getúlio Vargas no dia 3 de outubro de 1930.

Enquanto isso, em Itaporé - SP, fronteira com o Paraná, forças revolucionárias que vinham do Sul se depararam com 6.200 homens legalistas, enquanto que os revolucionários estavam com 7.800 homens fortemente armados.

Em 25 de outubro de 30, o Presidente Washington Luiz já estava deposto, não havendo mais razão para o confronto, assim acabou a batalha de Itararé conhecida como “a que não houve”. Vargas foi conduzido ao Catete, soldados e povo o aclamaram, estavam com o governo provisório. Em 1937, o dia 10 de novembro entrou para a história, Getúlio Vargas criou o “Estado Novo”.

Implantada a Ditadura, o Estado só tinha uma bandeira, o pavilhão nacional.

Em dezembro foi realizada no Rio de Janeiro, a queima das bandeiras estaduais, uma nova constituição entrou em vigor.

Quase oito anos após a criação do “Estado Novo”, Getúlio Vargas renunciou e disse ao Gal. Cordeiro de Farias: - “Preferia que os senhores me atacassem e meu sacrifício ficaria como um protesto contra esta violência. Já que é um golpe branco, não serei elemento de perturbação. Diga-lhes que não sou mais Presidente da República e desejo retirar-me para meu Estado.”

Getúlio abandonara o Rio de Janeiro, rumo à João Borja, RS.

Terminou o Estado Novo em 29 de outubro de 1945.

 

“O retorno de Getúlio Vargas

No dia 2 de dezembro de 1945 realizaram-se as eleições para Presidente da República e para o Congresso Nacional, Getúlio foi eleito senador por dois Estados e deputado por nove. No dia do aniversário de Getúlio, 19 de abril de 1950, houve uma reunião de amigos e correligionários em São Borja, RS. João Goulart fez um discurso inflamado: “Ele voltará, é o nosso candidato”. Foi o inicio da campanha que o levou de volta ao Catete. Durante o inicio de sua campanha, Carlos Lacerda, jornalista da Tribuna da imprensa escreveu à 1º de junho de 1950: “O Dr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à Revolução para impedi-lo de governar”. Foi o início dos ataques difamatórios do inimigo público nº 1 de Getúlio.

Em 8 de setembro de 1950, houve um grande comício em Vitória, ES, e num desfile de carro aberto ele foi a Vila Velha, acompanhado  do então deputado estadual Saturnino Rangel Mauro e do companheiro Argilano Dario, militantes do PTB na bancada capixaba. Seguiram-se as eleições para Presidente da República, que se realizaram em 3 de outubro de 1950. Getúlio Vargas foi eleito com 384,900,40 votos contra 234,338,4 votos do candidato Eduardo Gomes.

Em 31 de janeiro de 1951, Getúlio tomou posse na Presidência da República tendo como vice João Café Filho. Quando reassumiu, encontrou um país diverso do que conhecera cinco anos antes. Em meados de 1952 e fins de 1953, 500.000 pessoas participaram dos protestos contra a carestia. Era a campanha “Panela Vazia” e assim começou a exploração política adversária, do desespero popular, com as crescentes dificuldades econômicas e o protesto social. Em meados de 1953, Getúlio pensou em modificar seu Ministério, composição conservadora e pró-americana. A figura do antigo amigo de 29, João Neves da Fontoura, ministro do exterior não escondia sua simpatia pelos americanos. Demitiu-se e foi ele que pregara um dos pregos no caixão de Getúlio, ao denunciar em entrevista a “Aliança Secreta” entre Vargas e Perón contra os Estados Unidos. Novamente o puralista Carlos Lacerda foi a voz inflamada contra Getúlio e clamou pelo golpe.

A presença do major Vaz da Aeronáutica não era casual, e se ofereceu para protegê-lo quando disse:

“Se lhe acontecer alguma coisa vai ser mais um jornalista morto no Brasil. Se o Sr., andar sempre com um de nós e nos acontecer alguma coisa, será de muito maior gravidade.”

E assim no dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda voltava para sua residência na Rua Toneleiros em Copacabana junto com o Major Vaz, quando dois pistoleiros começaram a atirar. Lacerda foi ferido levemente no pé e o Major Vaz morreu com um tiro no peito. Foi o estopim e Vargas disse: “O tiro que matou o Major Vaz me acertou pelas costas”.

Pela manhã do mesmo 5 de agosto Lacerda publicou na Tribuna de Imprensa:

“Há neste país quem não saiba que a corrupção do governo Vargas gera o terror do seu bando? Acuso um só homem como responsável por esse crime. Este homem chama-se Getúlio Vargas.”

Três alternativas se colocavam para Vargas e ele deve tê-las ponderado: Persistir até o fim, renunciar ou suicidar-se. Oswaldo Aranha defendeu a resistência: - “Se você não renunciar, vamos dar o exemplo às gerações vindouras; vamos morrer aqui cinqüenta amigos com você.”

Getúlio ponderara: “Não, o problema é meu, eu resolvo sozinho”.

A última reunião do Ministério decidiu pela renúncia. E Getúlio disse: “Só morto sairei do Catete”.

O último bilhete de Vargas: “A salva dos meus inimigos deixo o legado de minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que eu desejava”.

A carta testamento:

[...] “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

Deviam ser umas 4 ou 5 horas da manhã do dia 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no coração, e assim termina definitivamente a “Era Vargas”.

Getúlio Dornelles Vargas

São Borja (RS) – 19 de abril de 1863

Rio de Janeiro – 24 de agosto de 1954 - “71 anos se passaram”

 

Autor: Lauro Rodrigues
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha - Casa da Memória (IHGVV-CM)
Discurso proferido na sede da Academia de Letras de Vila Velha (ALVV) nas comemorações da Proclamação da República e dos 60 anos da morte de Getúlio Vargas - setembro, 2014 

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