Itaúnas - Por Adelpho Monjardim
As primeiras explorações do território do atual município de Conceição da Barra resultaram da penetração organizada em 1554, a fim de afastar os botocudos das vizinhanças de Vila Velha, onde se estabelecera Vasco Fernandes Coutinho, Donatário da Capitania do Espírito Santo. Assim, ao norte do Rio Cricaré, fundou-se a povoação que passaria a denominar-se Conceição da Barra, homenagem à Santa Padroeira.
Situada na embocadura de importante rio, na orla marítima, possuidora de magnífico e extenso litoral, cedo desenvolveu-se, tornando-se próspera povoação, com intenso comércio com a Bahia.
ltaúnas, na língua nativa — pedra preta, era fértil região ocupada por uma tribo da poderosa nação aimoré, a mais numerosa e temível de quantas habitavam a Capitania. As densas florestas, os virentes campos, a caça, a pesca abundante. despertaram cedo a cobiça dos lusos, que desejaram aquelas terras, desalojando dali os legítimos senhores. Sob fúteis pretextos moveram aos índios impiedosa guerra de extermínio. Surpreendidos, estes viram arrasadas as suas aldeias e escravizados os seus filhos. Os que lograram escapar vagaram pelas matas sem teto e sem guarida.
Segundo o rito, o pajé lançou sobre Itaúnas a maldição: o espírito dos ventos impeliria as areias sobre toda a região cobrindo-a com o seu manto, transformando-a em deserto para todo o sempre.
Indiferentes à maldição, os lusos, raça superior, não ligaram ao amuo indígena. Lançando-se ao trabalho ergueram no meio da mata belo e próspero povoado. Crescendo, crescendo sempre, tornou-se futuroso e pleno de recursos. Ninguém mais se lembrava da maldição do vingativo pajé, nem mesmo os mais idosos. Já construídas boas casas, igreja, ruas, praças, escola e florescente o comércio, quando as areias começaram a lenta marcha sobre a vila. Embora tardia a vingança do pajé estava chegando. Poucos deram importância ao fato. Os mais variados motivos foram aventados. Tudo se normalizaria com a mudança do vento, que não era o da estação, diziam os acomodados - E naquele “engano d'alma ledo e cego”, procuraram se enganar. Implacável, como se guiado por mãos invisíveis, o alvo lençol de areia avançava, alcançando as primeiras ruas. A população começou a inquietar-se; quando as velhas histórias voltaram à baila — a maldição do pajé!
Lenta, porém segura, a marcha das areias. As casas começaram a ser invadidas. Dias e meses se passaram e as areias tornaram-se a tétrica obsessão. Subiam, subiam sem parar. Arenadas as primeiras ruas, expulsos dos seus lares, os habitantes foram abandonando a vila. Movimenta-se a Igreja. Ao cair da noite as procissões saem às ruas, formando lúgubres cortejos à luz bruxuleante das velas, ao som cavo das matracas, entoando cânticos que traduzem toda a angústia daquelas almas. Impertinente, o vento sopra sem parar e o surdo ruído das areias não cessa.
Passam-se os meses. O quadro se agrava. Não restam mais esperanças. Fechara-se a escola. As areias substituem os alunos. Nenhuma rua escapou ao assoreamento, sepultadas todas sob o alvo sudário. Só o campanário da igreja resiste ainda. Será o último a perecer. Sepultada sob a alva mortalha, a torre da igreja acabara de desaparecer. ltaúnas tornara-se um cemitério. Itaúnas deixara de existir. Como os homens, as cidades também morrem.
Um viajor que por ali passara diz ter ouvido planger o velho sino da igreja, sons misteriosos que brotavam do âmago da terra, gemidos de um moribundo. É o coração de Itaúnas, que ainda pulsa.
Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015
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