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Jayme Fernandes Figueira - Por Sérgio Figueira Sarkis

Arquiteto Jayme Fernandes Figueira

Filho de uma das mais tradicionais famílias do Rio de Janeiro, meu avô materno, Jayme Fernandes Figueira, nasceu naquela cidade em 25 de novembro de 1870. Iniciou seus estudos na Escola Naval, pois pretendia seguir carreira militar. Entretanto, por falta de recursos, motivado por cisão familiar, foi obrigado a concluir sua formação na rede pública comum.

Autodidata, desenvolveu, no transcorrer de sua vida, grande habilidade para o desenho. Isto o fez caminhar para a profissão de engenheiro projetista, que correspondia, na época, à de arquiteto. O curso oficial desta especialidade só foi criado muito tempo depois.

Casou-se, em primeiras núpcias, e veio a ter dois filhos: Aracy e Nestor. Após o falecimento de sua esposa, casou-se com minha avó, Laurinda Borges, de origem portuguesa. Ela nasceu na província de Trás dos Montes, em Portugal. A união gerou duas moças, Inah e Selika, esta última, minha mãe. No início do século XX, juntamente com o engenheiro Júlio Lima, Jayme foi designado para construir os pavilhões brasileiros da Exposição Internacional de 1911, em Turim, na Itália.

Levou, além da esposa Laurinda, o filho Nestor, com pouco mais de 10 anos. Chegou a Turim em 1910, concluiu a obra em junho de 1911, para inauguração em julho. Durante a estada em terras italianas, nasceu sua filha, Inah. Anos depois, ela viria a ser a mãe da cantora Maysa.

Naquele grande evento, além do país anfitrião, juntamente com o Brasil, participaram Alemanha, Argentina, Bélgica, França, Hungria, Inglaterra, Sião (atual Tailândia) e Sérvia.

Todos os pavilhões foram localizados à margem do Rio Pó, em Turim, e apresentavam as produções dos exibidores nas áreas de mineralogia, metalurgia e agronomia. O espaço brasileiro foi composto de três prédios. Além da cantaria nas fachadas, artistas nacionais produziram afrescos e painéis. Este trabalho marcou profundamente o desenvolvimento das artes plásticas no País.

Todos os participantes são hoje reverenciados como notáveis pintores, sendo suas obras objeto de muita procura no mercado das artes. Carlos Chambelland, Lucílio de Albuquerque, Rodolpho Chambelland e Timótheo da Costa foram alguns deles. Vovô Jayme, pelo resultado financeiro alcançado nesta sua incursão pela Europa, retornou ao Rio de Janeiro e constituiu uma empresa de construções, juntamente com um irmão de sua primeira esposa.

Após alguns anos de atividades na área, por problemas diversos, foi obrigado a fechar a firma. E isto deixou-o financeiramente abatido. Seguiu então para Recife, na tentativa de recuperar os prejuízos sofridos.

Ficou por lá até 1925, quando o destino o fez encontrar o senhor Anthenor Guimarães, de passagem turística por aquela cidade. Criaram um profundo relacionamento, e seu novo amigo o convidou para vir a Vitória. Aqui, teria oportunidade de mostrar sua competência de engenheiro projetista.

O empresário Anthenor Guimarães detinha a exclusividade de desembarque das mercadorias chegadas pelo mar. Na época, não havia cais para atracação dos navios. Ele pretendia erguer o primeiro edifício com mais de três andares na Capital.

Já instalado, vovô Jayme projetou o Edifício Anthenor Guimarães, localizado na Praça Costa Pereira, até hoje marco de referência em Vitória. Entregue por volta de 1930, ele também foi o primeiro inquilino do novo prédio.

Daí para a frente, vovô projetou várias outras edificações para a firma, inclusive a residência de um dos filhos do senhor Anthenor, Alcides Guimarães. Ela existe até hoje, imponente, lá no Parque Moscoso.

Meu avô também exerceu funções na Prefeitura de Vitória, sobressaindo-se como autor de vários monumentos da cidade, como o relógio da Praça Oito e o da Colonização Espírito-Santense, localizado em frente à Praça dos Desejos, na Praia do Canto.

É dele ainda o visual da atual sede do Clube Saldanha da Gama, na Beira Mar, reformada segundo projeto de sua autoria, assim como da primeira sede do Banco de Crédito Agrícola do Espírito Santo, o atual Banestes. Infelizmente, foi demolida, dando lugar ao Edifício Ruralbank, na Praça Oito.

Saíram de sua prancheta a antiga residência da Família Lorenzoni, na Rua Coronel Monjardim, na Cidade Alta, denominada de Castelinho, também posta abaixo, e inúmeras outras residências, inclusive a nossa, à Rua 7 de Setembro 300.

A arquitetura desta última chocou a população, pois não tinha telhado, e sim uma laje calculada para obedecer à dilatação dos materiais sem sofrer qualquer rachadura, coisa raríssima naquele momento.

Sobre este fato, existe um episódio que causou muitas gargalhadas. Minha mãe, Selika, tinha um admirador que a perseguia, exaltando seus dotes de beleza. Fazia versos, poemas etc. Um tipo popular como o famoso Otinho anos após, fazendo a mesma coisa com Ana Maria Batalha.

Ao saber que mamãe ia se casar com papai, sentiu-se ofendido e traído, passando a maldizer a futura união. E, quando descobriu que a casa na qual moraria sua amada não tinha telhado, foi a glória.

Berrava de alegria anunciando a todos que ela teria uma vida matrimonial repleta de chuvas e trovoadas para o resto de sua existência. Após o falecimento de papai, vovô Jayme e sua esposa Laurinda foram morar com mamãe na Rua 7 de Setembro, onde terminaram seus dias.

 

Nota do Autor: Há muito, pretendia escrever alguma coisa da minha memória, levando causos ocorridos comigo ou com outras pessoas que me foram transmitidos de forma agradável e hilariante. Meu dilema era: como fazer? não tinha início, nem meio e, muito menos fim. E, invariavelmente, vinha a preocupação deles perderem o charme quando expostos em texto.

Contados verbalmente, tem sabor diferente, agradando a que os ouve. E escritos? Conseguiria eu dar a entonação necessária, estimulando o leitor a continuar até o fim? Entre dúvidas e certezas, amadureci esta ideia anos. Até que decidi: vamos ver como fica! O resultado é este. Tirei da cabeça, coloquei no papel. Eu revisor deu uma boa arrumada.

Me perdoem aqueles que, envolvidos nos fatos, tenha esquecido de mencionar. E os citados não sintam-se ofendidos ou magoados. Minha intenção nunca foi esta.

Espero que gostem,

Sérgio Figueira Sarkis


Todo os direitos reservados ao autor.

Partes desta obra pode ser reproduzida por qualquer meio, desde que citada a fonte.

A foto da capa é de Paulo Bonino.

As fotos do miolo são do acervo familiar e de arquivos digitais públicos; as que fogem a isto têm suas origens identificadas junto a suas legendas.

As principais fontes de consulta para este trabalho, além da memória pessoal, foram os livros Os dias antigos, de Renato Pacheco, edição de 1998; A ilha de Vitória que conheci e com quem convivi, de Délio Grijó de Azevedo, 2001; Tipos populares de Vitória, de Elmo Elton, 1985; e, Coquetel de saudades, de Dario Derenzi, 1980.

Revisão, edição e editoração
João Zuccarato
DDD 27 – Telefone 3314-2757 – Celular 9-8112-6920
Textos@textos.etc.br

Impressão
Gráfica Universitária
DDD 27 – Telefone 4009-2389
www.grafica.ufes.br

A verdadeira viagem se faz na memória.
Marcel Proust

 

Dedicatória do autor: Dedico este livro à minha querida esposa Regina;
aos filhos Sérgio, Michel, Andréa, Alexandre e Ricardo
e aos netos Pedro Henrique, Ingrid, Carolina, Leonardo, Thiago e Victória

SFS


Fonte: No tempo do Hidrolitol – 2014
Autor: Sérgio Figueira Sarkis
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2019



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