Jerônimo Monteiro - Capítulo IV
Bernardino formou-se um ano antes de Jerônimo (1893) e instalou-se como advogado, em Cachoeiro do Itapemirim, em 1894. Assim, orientava o irmão na Promotoria. Era o que mais se parecia com o Capitão Sousa Monteiro, tanto no físico como nas atividades. Conservou do Caraça o imenso tesouro da Fé, cultivado, fervorosamente, até o fim da vida. Era edificante vê-lo, todos os domingos, com a esposa, levar os filhos à assistência à Missa. Toda a família reunida!
Como advogado, foi dos mais conceituados, generoso e amigo dos pobres, o que, de certo, concorreu para a larga projeção que teve na política espírito-santense. Começou na esfera municipal de Cachoeiro, onde foi Conselheiro Municipal, em 1896, apesar de contrário ao Presidente Moniz Freire. E, sempre oposicionista, manteve-se no posto em três legislaturas, merecendo mesmo a honra da Presidência do Governo Municipal, onde estava quando se inaugurou a luz elétrica na cidade, a 1° de novembro de 1903.
Casou-se, a 25 de dezembro de 1894, com a jovem e bela Inah Diniz Goulart, filha do Dr. Gil Diniz Goulart, advogado do Banco do Brasil, em Cachoeiro. Coerente com o sogro, em oposição ao Dr. Moniz Freire, recusou-se a ocupar uma cadeira no Congresso Estadual. Somente em 1905, após a desavença Moniz Freire-Coutinho, Bernardino consentiu em colaborar com o Governo do Estado. Na sessão de 18 de janeiro do mesmo ano, na Câmara Municipal de Cachoeiro, ele e seus colegas Pinheiro Júnior, Presidente, e Joaquim Teixeira de Mesquita, declararam-se solidários com o Cel. Henrique da Silva Coutinho; afirmou Bernardino seu passado político, sempre contra a chefia do Dr. Moniz Freire.
Como advogado, sua atividade estendia-se a toda a zona sul do Estado. E venceu, com a dedicação admirável da esposa. À noite, depois de "pôr os filhos na cama", Da Inah ia para o escritório auxiliar o marido. Ordenava todos os papéis e copiava todos os documentos: certidões, requerimentos, pareceres, notas, etc. Lembremo-nos de que não se pensava, ainda, em datilografia nem em caneta-tinteiro ou esferográfica... E que letra fina e bonita a de Da Inah!...
Em 1906, Bernardino concorreu à renovação da Câmara Federal, com Pinheiro Júnior e Galdino Loreto. A facção monizista, representada no pleito, foi derrotada nas urnas, a 30 de janeiro; mas conseguiu o reconhecimento, profligado de escandaloso até pelo "Correio da Manhã", ligado ao Dr. Moniz Freire. Regressou Bernardino ao Cachoeiro, a 16 de junho seguinte, carinhosa e festivamente recebido pelos seus conterrâneos e saudado pelo Dr. Júlio Pereira Leite e o professor Carlos Mendes. O povo é sempre sincero e agradecido.
Ingressou, então, Bernardino na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, na qual permaneceu até 1909, quando foi eleito Senador Federal. Tomou assento no Senado a 31 de maio de 1909.
E Jerônimo?
Certamente, há de reconhecer o leitor, na leitura deste modesto livro, que se fazemos esta referência a Bernardino é para que se possa evidenciar, na sequência dos fatos, a colaboração dos Monteiros na vida política do Espírito Santo e sua dedicação ao Estado que lhes serviu de berço natal. Aqueles três meninos, que iam a cavalo estudar no Caraça, formariam, depois, a trindade forte que levantaria a Diocese do Espírito Santo, quase extinta, e o crédito do Estado, às portas da falência. A Diocese reergueu-se, consolidou seu patrimônio, teve a fundação de colégios e asilos, sua vida religiosa afervorada, seu clero piedoso e culto, suas obras de assistência social desenvolvidas, as santas Missões até aos núcleos de índios no Rio Doce... graças ao apostolado de Dom Fernando, descrito em "Um Bispo Missionário". O Estado saiu da política de aldeia; livrou-se dos credores, que rondavam a Capital, e das epidemias pavorosas que impediam seu desenvolvimento demográfico e enlutavam seu povo! Teve o estímulo das indústrias, da agricultura e do comércio; a reforma da instrução, de par com o vigor da educação cívica, finalmente projetou-se no cenário nacional, conduzido pela vontade férrea do Dr. Jerônimo apoiado, pela decidida atuação do Senador Bernardino.
* * *
Em São Paulo, quando estudante de Direito, Jerônimo frequentava, com Bernardino, a residência do Comendador Cícero Bastos. Relacionou-se, por isso, com o jovem Alcino, filho do ilustre capitalista. Resultou dessa convivência estreita e perene amizade, evidenciada mesmo após a formatura do irmão e a transferência da família Bastos, para Piracicaba.
Visitava, então, o estudante espírito-santense a fazenda dos Bastos, a convite do Sr. Alcino. E dessas visitas afetuosas e distintas firmou-se, a 17 de abril de 1895, o seu noivado com a inteligente e meiga Cecília. Casaram-se a 25 de março de 1897, em Piracicaba, em cerimônia celebrada pelo Monsenhor Camilo Passalacqua, grande amigo da Família Bastos. Como representante da Família Sousa Monteiro, compareceu o Dr. Manuel Leite de Novaes Melo, cunhado de Jerônimo.
Moço idealista e inteligente, havia Jerônimo se entusiasmado pela projeção do Dr. Moniz Freire, após regressar, formado, ao Cachoeiro do Itapemirim. Era intensa e sobretudo bem divulgada a atuação do Dr. Moniz. Elegeu-se o jovem espírito-santense Deputado, em 1895, partidário da corrente monizista, no Congresso Estadual, onde desenvolveu segura e eficiente atividade, que lhe garantiu, em janeiro de 1897, a eleição e consequente reconhecimento, em abril, como Deputado Federal, de par com Pinheiro Júnior, Galdino Loreto e José Monjardim.
Acontecia, porém, que embora moço e sempre afável, Jerônimo prezava sua independência mental e o apuro de suas atitudes, o que, aliás, representava uma herança dos seus maiores, conforme se verifica em "Um Bispo Missionário". A nobreza dos exemplos de Da Henriqueta e do Capitão Sousa Monteiro seria venerada, sempre, na memória dos seus descendentes, numa confirmação de que "os bons exemplos dos pais são as melhores lições e a melhor herança para os filhos" (Marquês de Maricá).
Seguindo essa diretriz, não se acomodou o jovem deputado com o predomínio político do Presidente Moniz Freire. Alteou a sinceridade sobre a oportunidade e preferiu arriscar-se a perder, em vez de trair, para subir. Investiu-se, de cabeça erguida, contra a opressão reinante no Estado. Empenhou-se em abrir outros horizontes ao povo espírito-santense. E o resultado foi sofrer uma reviravolta política ao ser excluído da chapa de deputados federais para a Legislatura de 1900 a 1904.
Inconformado, Jerônimo fundou, então, o Partido da Lavoura, cujo candidato à Presidência do Estado era o Coronel Ramiro de Barros Conceição, valoroso sertanejo do Guandu, em oposição ao próprio Dr. Moniz Freire.
Vencido nessa primeira tentativa de libertação política do Espírito Santo, recolheu-se à Fazenda Monte Líbano, onde trabalhou intensa e duramente. Com o irmão Antônio, empreendeu pesquisas de ouro e pedras preciosas, no Córrego do Macaco, extremo das terras da grande e valiosa propriedade agrícola. Mas, em vez de ouro e pedrarias, apanharam o tifo!... "Do bravo", como diziam os servos e entendidos. Resistiram, porém, à febre temerosa, que reduzia suas vítimas a "pele e osso”, em consequência da enfermagem e do regímen do tempo. "Língua branca", de remédios, via oral. Água de arroz — alimento exclusivo... Quarto fechado, para "não entrar vento"... Suadouros... Banho, só quando a febre "fosse embora"... Calomelanos...
O Dr. Júlio Pereira Leite transferiu-se para o Monte Líbano, com a esposa, a boníssima e culta Dona Cacilda Werneck Pereira Leite, prima de Dona Cecília.
Antônio seguia as ordens clínicas. Jerônimo segredava à Mamãe: — "Um pedacinho de galinha". Era sempre o Nhonhô, da infância! Dona Henriqueta, às ocultas de todos, procurava uma coxinha bem cozida, metida debaixo da bata e, toda carinhosa, ia contentar seu doente querido. Resultado: a febre subia. Rebuliço na casa. E todos se admiravam, preocupados em descobrir a causa da recaída, até que o médico, muito sagaz, um dia, surpreendeu a enfermeira desobediente às suas ordens. Com sentinela à vista, contra as coxinhas de frango, Jerônimo salvou-se da morte.
Restabelecido, advogou, em Cachoeiro, até 1903, quando, após uma visita do Comendador Cícero Bastos, transferiu-se para Santa Rita de Passa Quatro (São Paulo), onde instalou sua banca de advogado. Venceu, graças à força do seu talento e segurança de sua atividade. Conquistou largo círculo de amigos e admiradores. Fez-se jornalista e foi redator da "União Municipal".
Ao recordar-se dessa época, Dona Cecília confidenciava aos de casa: — "Foram os anos mais felizes do casal".
Já nesse tempo, o Dr. Jerônimo e Dona Cecília tinham quatro filhos: Francisco (Cecinho), Henriqueta (Filhinha), Jerônimo (Cecito) e Darci. Depois, chegaram Dail e Zoé. E, no período presidencial, de 1908 a 1912, nasceu Nise, única vitoriense. Faleceu, no Rio de Janeiro, a 15 de dezembro de 1912. O oitavo foi Cícero.
Notas:
A presente obra da emérita historiadora Maria Stella de Novaes teve sua primeira edição publicada pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo -APEES, em 1979, quando então se celebrava o centenário de nascimento de Jerônimo Monteiro, um dos mais reconhecidos homens públicos da história do Espírito Santo.
Esta nova edição, bastante melhorada, também sob os cuidados do APEES, contém a reprodução de uma seleção interessantíssima de fotografias da época — acervo de inestimável valor estético-histórico, encomendado pelo próprio Jerônimo Monteiro e produzido durante o seu governo — que por si só, já justificaria a reimpressão, além do extraordinário conteúdo histórico que relata.
Autora: Maria Stella de Novaes
Fonte: Jerônimo Monteiro - Sua vida e sua obra
2a edição Vitória, 2017 - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Coleção Canaã Vol. 24)
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2019
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