Jesuítas, índios e Cabo Frio
Pioneiros incontestes da civilização na capitania, os jesuítas, ainda na centúria anterior, haviam fundado a aldeia dos Reis Magos. Foi, entretanto, após a obtenção de uma sesmaria para os seus índios(3) – em 1610 – que sobreveio o período de prosperidade local, ainda hoje atestada pela igreja,(4) cuja inauguração se deu em 1615, entre festas de que participaram entusiasticamente os ameríndios, sempre dispostos para folguedos.(5)
Poderoso exército de reserva, utilizado em numerosas ocasiões, principalmente contra o invasor estrangeiro – aqui e alhures, no período colonial – coube aos índios catequizados do Espírito Santo fornecer quinhentos dos seus melhores filhos para a fundação da aldeia de São Pedro, origem da atual cidade de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro. Isto se deu em 1617, quando, expulsos os holandeses e ingleses que tentavam ali estabelecer-se, os portugueses julgaram de bom aviso instalar na região gente de sua confiança.(6)
NOTAS
(3) - Instrumento de doação in Arquivos do Espírito Santo, Livro Tombo da Vila de Nova Almeida, 42-3.
(4) - Restaurada, em 1944, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (LEITE, HCJB, VI, 180).
(5) - LEITE, HCJB, VI, 159-60.
(6) - LEITE, HCJB, VI, 119-20; e GARCIA, Nota à HG de Varnhagen, II, 224-6.
– Na petição que instrui a “carta de sesmaria das terras dos goiatacazes”, de dezoito de outubro de 1630, lemos: “e os indios da Aldêa do Cabo Frio, e os de naçam Aitacazes que os Padres da Companhia pera ella trouxerão, que por mandado particular de Sua Magestade o Padre Provincial que então era instituio de nôvo a dita Aldêa com indios que pera isso certos Padres da Companhia trouxerão das Aldêas da Capitania do Espirito Santo, por se achar no Conselho de Estado da Coroa de Portugal ser cousa muito importante a assistencia de indios no dito Cabo Frio debaixo da proteção dos ditos Padres pera empedirem aos Olandeses e aos mais enemigos da Coroa fazerem ali fortaleza e pao brasil, do qual antes a dita Aldêa ali estar levavão muitas naos carregadas, o que despois disso cessou, como também o temor de averem de fazer fortaleza, o que consta por experiencia de mais de doze annos, no discurso dos quaes êlles indios tem feito muitas e mui boas cavalgadas, na ultima das quaes neste anno de seiscentos e trinta, êlles indios e Aitacazes matarão obra de duzentos olandezes” (Livro de Tombo, 300).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2017
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