Maneco e “Vida Capichaba”

Não fora a obstinação de Manoel Lopes Pimenta, proprietário de uma pequena gráfica, seria realmente impossível à Vida Capichaba (com ch como se escrevia então) varar quatro décadas de publicação (1923-1957).
Numa loja triangular, na Avenida Capichaba (onde hoje está a Casa Strauch) funcionavam redação e oficinas da revista, em que tantos capixabas se iniciaram nas letras. À frente havia três compartimentos empoeiradíssimos: dois dos compositores manuais, Pedrolino Siqueira e João da Cruz (também presidente do Centenário da Praia do Canto, onde impunha respeito por sua figura enorme e bonachona) e o terceiro onde ficava a mesa desorganizadíssima da administração e redação, e onde certa feita Paulo Vellozo, um dos co-autores de Cântaridas, enquanto nos esperava para o caldo de cana no Lyra do Mercado, deixou esta quadrinha para enxovar o dono:
“A vida, que importa a vida,
Esta vida fedorenta.
Só serve para dar dinheiro
A Manoel Lopes Pimenta.”
No vértice do triângulo, ficava a máquina impressora plana, onde pontificava o Luiz Gorassi, ítalo-capixaba narigudo, às voltas com o acerto manual das páginas que seriam impressas.
Com tão pequeno instrumental, a Vida Capichaba prestou importante serviço à cultura capixaba. Maneco, pequenino, muito míope, alegre, uma figura sui generis de jornalista e intelectual capixaba. Antes do Código de Defesa do Consumidor, especializou-se em controlar, pessoalmente, os aumentos nos preços dos mercados, e nas contas de luz da então Companhia Central Brasileira de Força Elétrica (antecessora da Escelsa).
Poeta satírico, redator das temidas Alfinetadas, usando inúmeros pseudônimos, acomodou-se como professor secundário e mantinha a revista, para cuja redação convidava, a leite de pato (gratuitamente, como se dizia), amigos escritores como Alvimar Silva, João Calazans, José Luiz Holzmeister, Guilherme Santos Neves, Euripides Queiroz do Valle, Eugênio Sette, Carlos Madeira e tantos mais.
O irreverente João Calazans ficou poucos números à frente da redação atraindo as iras da sociedade local. Sua crítica literária era deste jaez: O crime, o criminoso e a pena. O crime – o livro. O criminoso – o autor. A pena: O encalhe na livraria. A volumosa epopéia brasileira de Almeida Cousin, Itamonte, foi saudada por ele com um “eta monte”!
No período final da revista, sob a direção de Pimenta, que chamo a fase de Guilherme Santos Neves, pois o extraordinário polígrafo era a alma da redação, procurou-se fazer uma publicação à altura do progresso vitoriense – capas bem cuidadas, colaboração solicitada, a última página imitando O Cruzeiro, então a maior revista do país, com crônicas de Eugênio Sette (depois publicadas em Praça 8) e de José Carlos de Oliveira, cujo talento era proclamado e temido, estando ele com 15 anos! Tulo Hostílio Montenegro, excelente escritor, redigia a “Cidade das Letras”. Muitas vezes Pimenta botava a mão na cabeça, os redatores estavam gastando muito em clichês que eram feitos no Antônio Sepúlveda, do Rio.
Finalmente, já morando no Rio, Pimenta vendeu a revista a jornalistas locais, que procuraram modernizá-la, mas o remédio foi violento e a venerada publicação foi extinta.
Resta aos estudiosos examiná-la em nossa Biblioteca Estadual, e resta aos capixabas do meu tempo recordarem, neste centenário, a figura singular de Manoel Lopes Pimenta, O Maneco.
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 43, ano 1993/1994
Autor: Renato Pacheco
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2013
GALERIA:
O Centro da Capital (Cidade alta). Atrações: - a Catedral Arquidiocesana com o seu rendilhado gótico
Ver ArtigoNa Guanabara consolidou o prestigio de compositor com a marcha-rancho “Depois do Carnaval”. Chico Lessa figura hoje como uma das grandes figuras da música popular brasileira
Ver ArtigoConstituído de uma pequena gleba de terras de um pouco mais de três alqueires e meio (173.400,00 m²), fica localizado às margens do Rio da Costa
Ver ArtigoAs 10 mais espirituosas Frase de Caminhão do Espírito Santo, 1971
Ver ArtigoEm 24 de abril de 1949, o jornalista Waldyr Menezes escreveu em A Tribuna uma reportagem sob o título: "Jardim América, um milagre residencial para Vitória".
Ver Artigo