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Manoel Moreira Camargo

Manoel Moreira Camargo

Certas vidas, certos homens, ultrapassam as muralhas do lugar comum e, como a alada Fênix, ave fabulosa, de que nos fala a arcaica mitologia, alcançam as dimensões maiores da espécie e se tornam criaturas superiores e únicas em seu gênero. Mestres da retórica, estes privilegiados da palavra, possuem o dom de transmitir carismaticamente a sabedoria e os princípios sagrados e intocáveis da inteligência como os antigos quando se dirigiam ao povo, ora com a mansidão de humildes servidores, ora com a fúria devastadora dos deuses do Olimpo.

Com brilho e audácia invulgares, tornam-se notáveis nas carreiras que abraçaram, transformando-se em novos e portentosos Leviatãs, diante dos quais curvam-se os povos em reverência, os olhos ofuscados por sua cegante e irresistível luz. Deixam, portanto, a condição de simples seres mortais para confundirem-se com a própria glória da imortalidade.

Estes mitos humanos autênticos e conscientes de sua própria condição especialíssima, resistem às acusações dos invejosos que os têm por simples vaidosos, pela consciência honesta e pessoal que possuem interior e exteriormente, como um dom especialmente herdado de Deus em momento algum maculado pela modificação do próprio caráter, que permanece integralmente voltado para a humildade e o ideal de serem eternamente úteis à Humanidade e a seus semelhantes.

MANOEL MOREIRA CAMARGO, se enquadra neste preâmbulo escrito especialmente para ele, quando nos propusemos a contar a história de sua vida, de suas lutas e de suas conquistas.

Fênix exuberante por sua fluente palavra, Leviatã de uma gigantesca e portentosa mentalidade fascinante em todos os sentidos, como diria qualquer sábio, na construção de suas palavras e frases, "atleta do pensamento", com um sólido embasamento euclidiano, cujo brilho permanece inalterado ao longo de sua carreira, para orgulho do nosso Estado e de sua gente.

CAMARGO deixou de ser um simples ADVOGADO, homem largamente independente, para ser um exemplo de como se deve viver e vencer na vida, cultivando o otimismo, o domínio das tendências inferiores, pairando sempre acima de vulgaridade e da mediocridade, tão aplaudidas hoje em dia, nesta inversão de valores que o Mundo atravessa, em estado permanente de medo e receios.

Mais que um exemplo, a própria e incontestável realidade, MANOEL MOREIRA CAMARGO, não precisaria de elogios rebuscados, porque a sua vida justifica qualquer tipo de conceito elogioso, resiste a qualquer exame apurado, pode ser exaltado sem o susto de se ser contestado ou de se ser surpreendido em exagero ou em desrespeito aos princípios da verdade.

Sem desmerecer os demais integrantes deste Livro, da mesma forma que ele ultrapassará sempre os limites mais rigorosos do julgamento alheio, excederá também as limitações criadas para se expor numa mera síntese a própria história de suas experiências, de suas vivências e convivências nesta terra.

Nasceu, MANOEL MOREIRA CAMARGO, no dia 9 de fevereiro de 1909, na cidade de Itaúna, Minas Gerais. Filho de Procópio Camargo e Maria Moreira Camargo, ambos falecidos. Seu pai, sitiante em Itaúna, atendendo convite que lhe fora feito pelo irmão, Euclides Camargo, engenheiro do Estado e que foi também Prefeito de Vitória, trouxe a sua família para residir em Vitória, aqui chegando nos idos de 1919.

Matriculou-se MANOEL MOREIRA CAMARGO no Grupo Escolar Gomes Cardim, cursando ali até o 3° ano primário, transferindo-se para a Escola-Modelo Jerônimo Monteiro, onde foi aluno do saudoso professor José Nunes, baiano ilustre e que grandes e inestimáveis serviços prestou à cultura capixaba. A seguir, fez exame para matricular-se no antigo Ginásio do Espírito Santo, hoje Colégio Estadual, onde terminou o curso secundário, tendo sido, em 1928, orador da turma paraninfada pelo Prof. Dr. Fernando Duarte Rabelo. Em 1928, prestou dois vestibulares no Rio de Janeiro, havendo sido aprovado em ambos: Na Faculdade de Medicina e na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Bacharel em Direito, no dia 19 de novembro de 1932, cuja solenidade realizou-se no Teatro João Caetano. Foi orador da turma de 1932, o colega Antônio Balbino de Carvalho, e paraninfo, o Prof. Afrânio Peixoto. Devido a dificuldades financeiras renunciou ao desejo de se formar em Medicina, optando pelo curso de Direito. Jamais se arrependeu, entretanto, da opção que o destino lhe reservou, uma vez que, considera-se vitorioso na profissão que ainda exerce com o brilho inicialmente citado, profissão que ele considera líder dentre as profissões liberais.

Recorda-se MANOEL MOREIRA CAMARGO, com grande emoção, dos tempos em que estudou na Escola-Modelo, anexa à Escola Normal Pedro II, então dirigida pelo Dr. Arnulfo Matos. Quando cursava o 4° ano primário, aluno do Prof. José Nunes, no mês de setembro, entraram na classe o Diretor, um estudante que para ali havia se transferido e o seu pai, pessoa então influente na política da época. Após as apresentações de praxe, e tão logo deixaram a sala o Diretor e o político, o Prof. José Nunes, de imediato, convidou o novo aluno a se apresentar diante do quadro-negro para sujeitar-se a uma rigorosa sabatina. Foram feitas ao novato para mais de 20 perguntas que não foram respondidas, mas que, à proporção que eram feitas, eram respondidas pelos outros alunos. O Prof. José Nunes, homem honesto, competente e correto, cioso do cumprimento do dever, afastado do exercício do cargo por motivo de moléstia, deu aos seus alunos uma orientação: o recém-chegado não tinha mostrado conhecimento para ser aprovado. No mês de novembro, verificou-se a festa para a solenidade de entrega das cartas de aprovação. A expectativa de CAMARGO e de todos os seus colegas era muito grande. Quando foi feita a chamada do "NOVATO" para receber o seu cartão de aprovação ao 5° ano, estabeleceu-se, na hora, um certo mal-estar em toda a turma. É que havia sido o mesmo aprovado. Em represália, a turma entrou em greve. Ao regressarem à classe, chegaram ali dois serventes: um carregando uma bandeja cheia de balas, e outro os prêmios que deveriam ser distribuídos àqueles que lograram as primeiras classificações. Nove dos quarenta colegas, chefiados por MOREIRA CAMARGO, tomaram a bandeja e os presentes que foram atirados para o ar, provocando o maior pânico, tendo sido em seguida arrancadas várias carteiras escolares, então pregadas no assoalho e atiradas pela janela no pátio da Escola; também quebrada a grande talha, inundando a sala de água.

Em meio ao tumulto inesperado, a professora Alaéce do Nascimento pôs-se a gritar, havendo os serventes, espavoridos corrido para chamar o Diretor, Dr. Arnulfo Matos. Este, ao chegar, acalmou os ânimos com a sua presença austera e respeitável. Em seguida, solicitou da professora a indicação dos cabeças do movimento, sendo apontados justamente os nove que foram convidados a acompanhá-lo. No gabinete do diretor, CAMARGO e seus outros colegas receberam uma repreensão e a declaração de que poderiam ser expulsos, mas que, para não serem prejudicados com o seu retorno à Escola, concedeu a todos a guia de transferência para outros estabelecimentos de ensino. Começava com aquele episódio a vida brilhante do futuro advogado MANOEL MOREIRA CAMARGO, cuja liderança foi de modo tão atribulado inaugurada e a sua aversão aos engodos, à mentira e ao apadrinhamento político, em detrimento do valor e da capacidade. O fato serviu também para que, mais tarde, ele se decidisse pela carreira que o levou a formar-se em Direito.

Mas não terminam aqui as aventuras de MOREIRA CAMARGO estudante. Em companhia de seus colegas do Ginásio Espírito Santo, após uma ruidosa passeata pela Avenida Capixaba, promoveu ele, na Praça Costa Pereira, em 1928, o enterro simbólico do então Diretor da Companhia Serviços Reunidos de Vitória, Dr. Flávio Ribeiro de Castro, apelidado de "Grapinhem", como sinal de protesto pelo péssimo serviço que então era prestado à população pela referida concessionária. Foi o próprio MANOEL MOREIRA CAMARGO que mandou confeccionar, não só o caixão, mas, também, coroas de flores. O cortejo foi bastante concorrido, terminando com discursos inflamados na Praça Costa Pereira, após a intervenção do seu professor, e Chefe de Policia, Dr. Fernando Duarte Rabelo que os aconselhou, depois de apreendidos o caixão, as flores e coroas pelos agentes de polícia, a regressarem às suas casas.

Como se vê, a vida de MANOEL MOREIRA CAMARGO, estudante, difere muito pouco da vida que veio a ter ao longo de uma grande trajetória, toda ela marcada por lutas em favor do povo e do Estado.

No casamento, CAMARGO foi muito feliz, tendo suas núpcias sido celebradas no dia do seu aniversário natalício, no ano de 1941. Tem cinco filhos e cinco netos que constituem a sua maior alegria de viver. Todos alcançaram o curso superior, obtendo, os três filhos homens, bolsas de estudo no Exterior: dois foram oradores de suas turmas.

Tendo sempre encarado a vida e o mundo com o maior otimismo, em face disto, todas as suas lutas tiveram consequentes recompensas. Sempre manteve o espírito muito dinâmico nas atividades que abraçou, encarando as vitórias (em maior número) e as derrotas que experimentou com muita serenidade. Não tem, na verdade, do que se queixar.

MANOEL MOREIRA CAMARGO considera muito importante em sua vida, o bem-estar dos seus familiares, bem como a consideração que lhe dispensam os seus incontáveis amigos. O seu maior objetivo tem sido sempre poder continuar desfrutando a amizade dos amigos, dos quais se aproximou, e continuar a assistir à alegria de viver dos familiares.

Gosta muito de viajar, conversar e, especialmente, veranear na famosa praia de Guarapari, considerada por ele e decantada como o melhor recanto do mundo. E pode dizer isto com honestidade porque tendo percorrido quase todo o Exterior teve ocasião de conhecer lugares maravilhosos.

Casado com a Sra. Stella Aboudib Camargo, teve com ela os seguintes filhos: Marcelo (cirurgião Cardiovascular), médico do Hospital da Lagoa, do Rio de Janeiro; Maria Stella, casada com o Gerente do City Bank de Salvador, Bahia; Márcio, Engenheiro Civil, casado, residente em Vitória; Fernando, advogado, solteiro, residente em Vitória e Menara, formada em Pedagogia pela UFES, residente em Vitória. Netos: possui os seguintes: Leonardo, Adriana, Bernardo, Rafael e Fernando.

Sua filosofia de vida é a seguinte: Viver, Sentir e Gozar o mais que for possível a vida, se puder e Deus lhe permitir.

CAMARGO considera o dinheiro importante, porém não o mais importante para se alcançar na vida a verdadeira felicidade. A pessoa, no seu entender, só adquire status na vida se tiver uma conduta irrepreensível, que possa servir de exemplo e de espelho para os seus semelhantes. No seu caso, por exemplo, a escalada que realmente empreendeu na vida, decorreu de muito trabalho, muita luta e elevada compreensão dos problemas que, diariamente lhes são oferecidos e que requerem solução rápida.

O trabalho que vem desenvolvendo tem lhe proporcionado uma vida de certa estabilidade e, também, uma razoável situação econômica. Para conseguir o que pôde amealhar com grande esforço, contou sem dúvida com o apoio de generosos amigos.

A maior ambição acalentada por MOREIRA CAMARGO foi no inicio de sua vida: obter um diploma de bacharel em Direito para, com maior facilidade, vencer as agruras do dia-a-dia. Isto, com a ajuda de Deus, ele diz ter conseguido.

Vive uma vida de simplicidade, gostando, todavia, de se alimentar bem, de se vestir sobriamente, de desfrutar de residência que tenha relativo conforto, de participar de conferências, de congressos e de teatros. Aprecia bastante a leitura dos clássicos, que muito influíram na sua formação espiritual.

CAMARGO conhece muitos países. Publicou no jornal "A Gazeta" 26 artigos relatando a vida na América do Norte que já visitou cinco vezes; escreveu também sobre o Panamá, dando a sua impressão sobre o seu famoso canal. Visitou 3 vezes a Europa e, particularmente, adorou Paris. Esteve 40 dias em Berlim Ocidental, tendo visitado também Berlim Oriental onde ficou horrorizado com o "Muro da Vergonha". Esteve em Istambul, a capital do Império Bizantino, tendo visitado as suas monumentais Mesquitas e o famoso Mercado Persa. Visitou Ankara, a Capital da Turquia, que foi, como todos sabem, traçada pelo arquiteto Clemente Heffmeister, nascido em Santa Leopoldina, neste Estado.

Tendo sido um jovem capaz de defender o direito e a justiça até sob a ameaça de expulsão dos colégios onde estudou, MANOEL MOREIRA CAMARGO, teria para transmitir aos jovens atuais, a fim de que possam ser elementos úteis à Sociedade em que vivem, a sua própria confiança no futuro, aconselhando-os a fazer o que ele fez: estudar, obedecer os sábios conselhos de seus pais, enfim, ter noção de responsabilidade e saber cumprir rigorosamente seu dever. Se atingirem tal objetivo, serão, sem dúvida alguma, grandes vitoriosos e sentirão a verdadeira alegria de viver.

MOREIRA CAMARGO recebeu em sessão solene realizada na Assembléia Legislativa do Estado, o Título de Cidadão Espírito-Santense, assinado pelo então Governador Arthur Carlos Gehardt Santos, havendo na ocasião pronunciado um orgulhoso discurso de agradecimento. Recebeu, também, nas Câmaras Municipais de Vitória, Guarapari e Viana, o título de Cidadão Honorário dos citados Municípios, fazendo, na oportunidade, o discurso de agradecimento.

Na administração Hugo Borges, foi agraciado com uma estátua representando o GUARÁ DE OURO, o pássaro já extinto e que deu nome a Guarapari, por ter feito mais de sessenta conferências em Congressos Municipalistas realizados no Brasil e no Exterior, abordando a radioatividade produzida pelo óxido de tório, considerado o mais raro minério do mundo (ThO2).

Neste ponto, os leitores poderão até pensar que já sabem tudo sobre MANOEL MOREIRA CAMARGO, que poderíamos fechar a cortina e colocar um final feliz, no relato da vida deste notável advogado, que foi ao longo de sua fulgurante trajetória: Vereador da Câmara Municipal de Vitória (tendo exercido a Presidência da Casa); Deputado Estadual; Secretário da Educação (no Governo Francisco Lacerda de Aguiar), cargos que desempenhou sempre com altivez, dentro do espírito e sua personalidade rara, que o torna a cada dia, um "mito", admirado e respeitado em todo Espírito Santo. Mas, não acabou, não. Aqui, e agora, é que começa a parte principal da vida deste autêntico cidadão do mundo, intérprete de uma filosofia que o faz ainda maior do que parece ser em qualquer circunstância ou ocasião.

Em 1959 foi nomeado Procurador Geral do Estado e, logo em seguida, Procurador do Tribunal de Contas do Estado, organizado pelo governador Francisco Lacerda de Aguiar, de cuja luta por sua implantação MOREIRACAMARGO muito participou, sendo um defensor da referida Corte de Contas, especialmente quando outros governos tentaram sob variadas alegações extingui-la. Como primeiro Procurador do Tribunal de Contas, CAMARGO, sempre defendeu o ponto de vista de sua inestimável importância que, no futuro, ficou plenamente comprovado. E foi no exercício do cargo de Procurador Geral da Justiça Estadual, que MOREIRA CAMARGO se aposentou.

O ilustre educador é professor registrado no Ministério da Educação e Cultura, nas seguintes disciplinas: Ciências Físicas e Naturais, Física e Química, Geografia e Cosmografia. É, também, professor catedrático da cadeira de Física e Química da Escola Normal Pedro II e de Química Orgânica e Inorgânica do Coleio Estadual do Espírito Santo.

Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Espírito Santo, desde 1935, foi eleito Membro da Comissão de Disciplina em 1939, da Comissão de Assistência Judiciária no biênio 1937/1938 e Secretário no biênio 1941/1943, reelegendo-se para o período imediato. Representou o Conselho, com seu presidente, no 2° Congresso Nacional, realizado em 1962, no Estado de São Paulo.

CAMARGO foi, ainda, tesoureiro da Associação Espírito-Santense de Professores, procurador do Aeroclube do Espírito Santo, redator-forense do jornal "A Gazeta”, que se edita em Vitória e fundador e Diretor das Escolas de Comércio Domingos Martins e Técnica de Comércio Capixaba.

Tendo ocupado funções diversas, MOREIRA CAMARGO, foi Tabelião de Notas e Escrivão vitalício do Cartório do 2° Ofício da Capital do Estado, tendo sido um dos primeiros presidentes da "Liga Eleitoral Católica Jesus Maria José; sendo também professor de Direito Administrativo da Universidade Federal do Espírito Santo e foi Presidente do Instituto dos Advogados do Estado. É, ainda, advogado dos Sindicatos dos Ferroviários de Vitória e dos Empregados Hidroelétricos do Espírito Santo. Orgulha-se de ser componente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado, sendo também membro da "Associação do Ministério Público do Brasil".

Além do mais, MANOEL MOREIRA CAMARGO, sempre se destacou como ferrenho municipalista, com larga folha de serviços prestados ao Espírito Santo neste terreno, tendo sido eleito tesoureiro geral da Comissão Organizadora do 8° Congresso Brasileiro de Municípios, realizado na cidade de Belém, capital do Pará, em julho de 1967.

Ele publicou dentre outros trabalhos os seguintes: "Teses de Concursos para a Escola Normal Pedro II e Colégio Estadual do Espírito Santo -, "Apelação Cível n° 1.341", "Corte de Apelação do Espírito Santo, "Prestação de Contas" (Câmara Municipal de Vitória), "Areias Monazíticas" (parte de uma Conferência pronunciada pelo General de Divisão Raymundo Sampaio), "V Congresso Interamericano de Municípios", realizado em Porto Rico, "A Evasão das Areias Monazíticas do Espírito Santo", "Apontamentos de Química" (escrito em 1930); "Tese de Concurso para Provimento da Cadeira de Física e Química da Escola Normal Pedro II", "Tese apresentada ao 3° Congresso Municipalista Brasileiro”, realizado em São Lourenço, Minas Gerais, além de inúmeros trabalhos esparsos, ainda sem publicação, porém todos sem dúvida alguma fruto de sua rara inteligência.

A seu respeito, escreveu o saudoso José Benjamim Costa, no seu livro "JURISTAS ESPÍRITO-SANTENSES", editado em 1967 pelo Departamento de Imprensa Oficial do Estado: "O jurista Manoel Moreira Camargo é, como se vê, uma figura categorizada, que se destaca com evidência, para projetar também o professor, o notário, o orador, o intelectual, o político e, sobretudo, o fino homem de sociedade que ele é".

José Benjamim Costa ainda diz a respeito de CAMARGO: "É, incontestavelmente, um autêntico espírito-santense, que ama esta terra de Domingos Martins — gleba dos seus filhos — com o mesmo sadio patriotismo de todos nós".

Tendo ocupado a Secretaria de Educação, a convite do governador Lacerda de Aguiar (Chiquinho), ao voltar à Assembléia Legislativa para a qual tinha sido eleito, MOREIRA CAMARGO se destacou como corajoso defensor do Ensino no Estado, desde os Cursos Pré-Primários aos Secundários e aos de nível Superior. De um de seus notáveis discursos, proferidos da tribuna da principal Casa de Leis do Espírito Santo, destacamos o seguinte trecho: "A experiência tem indicado que o pré-escolar e os egressos do curso primário são, nos dias atuais, os mais sacrificados. Estes, no período mais grave e perigoso de sua vida, não podem fugir aos percalços do desamparo e se debatem em suas crises naturais sem uma orientação bastante para ajudá-los a resolver seus problemas psicológicos. Os primeiros, crianças de 3 a 7 anos, que mal começaram a viver, são os mais atingidos pela vertigem da vida moderna; ficam em casa, irremediavelmente condenados a um triste abandono, entregues a si mesmos ou a seus irmãos maiores, expostos à desnutrição, às doenças, assim como a deformações psíquicas e desvios de caráter. Tanto estes, como os demais, quando termina o período letivo diário, não havendo o que os retenha em casa, tornam-se cheios de complexos e recalques, ou então vão para a rua levados pela sua curiosidade natural, em busca de aventuras".

Este foi, sem dúvida um discurso profético, porque pronunciado tantos anos atrás, prenunciava os dramas vividos pelos jovens desviados do bom caminho nos dias atuais, como contestadores e depredadores da própria Sociedade à qual pertencem, desrespeitando leis e autoridades constituídas.

MOREIRA CAMARGO, eterno defensor das areias monazíticas do Espírito Santo, foi um dos signatários do famoso “MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO", pela proibição da exportação de monazita sob qualquer forma ou pretexto bem como pela encampação pelo Governo das jazidas do referido minério, manifesto inspirado pela Conferência Continental de Juristas reunida no Rio de Janeiro, em novembro de 1952, em sua XV Resolução, resultante de proposições de Mário Rolón Anaya, da Bolívia, e do Senador capixaba já falecido, Attilio Vivacqua, que então declarou: "E um princípio consubstancial à plena soberania dos Estados a nacionalização de suas fontes de riqueza e serviços públicos sem que este poder possa sofrer a interferência mesmo de organismos de jurisdição internacional".

Assim como tudo parece acontecer na vida de MANOEL MOREIRA CAMARGO, ou ele às vezes contribui para que aconteça, o inesperado veio sentar-se a seu lado, num Eletra, da VARIG, no dia 1° de junho de 1972. Tratava-se de Geraldo de Jesus Silva, ex-integrante da Marinha de Guerra do Brasil, que após uma longa conversa amistosa mostrando-se sempre delicado, quando a aeronave sobrevoava Paranaguá, pediu licença, foi ao banheiro sanitário e ali, munindo-se de uma pistola 45, iniciou o sequestro do avião que durou nove horas. CAMARGO que viajava para Curitiba onde participaria do "Encontro de Presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil", desembarcou com os outros passageiros em São Paulo, onde foram levados para o Hotel Jaraguá, onde teve ocasião de conceder mais de 20 entrevistas para jornais e diversas televisões do País, pelo fato de ter sido o único passageiro que havia conversado com o sequestrador. Sua condição de participante do seqüestro levou-o a fazer um relato na Assembléia Legislativa do Paraná, convidado pelo líder do MDB, Nivaldo Krieger; na Universidade de Curitiba, convidado pelo Maestro Mário Garau e, acabou, participando como convidado de um jantar americano, em homenagem ao Reitor que aniversariava. Sobre o assunto, publicou um artigo no jornal "Diário do Paraná" de 1° de junho de 1972, sob o título: "ADVOGADO FAZ DIÁRIO DE BORDO NO AVIÃO".

No relato que CAMARGO publicou em "A Gazeta" de 11 de agosto de 1956, 1ª página, sobre os últimos trabalhos das comissões encarregadas do estudo de uma fórmula extrajudicial a fim de pôr termo a questão de limites MINAS-ESPÍRITO SANTO, esclareceu, nos mínimos detalhes tudo que ocorreu em Belo Horizonte, tendo afirmado, na qualidade de líder da Delegação Capixaba, constituída de 18 deputados, na saudação que fez ao governador Bias Fortes, ao Secretário do Interior, Dr. José Ribeiro Pena e às demais autoridades presentes ao banquete que lhes fora oferecido no Palácio da Liberdade, dito o seguinte: "Um poderoso grupo político das alterosas impediu que as comissões dos Estados de Minas e Espírito Santo, na Capital Mineira, firmassem um acordo honroso na questão de limites, entre os dois Estados, prejudicando, assim, os altos interesses da unidade nacional".

Naquela ocasião, a culpa coube, por inteiro, ao matutino "Diário de Minas" que acirrou os ânimos e agitou a opinião pública, atendendo apetites de José Fernandes Filho (Fernandinho) que se portou, em todo o lamentável episódio, como legítimo e autêntico testa-de-ferro de Israel Pinheiro, Otacílio Negrão de Lima (dono do Jornal) e Benedito Valadares. O Governador Bias Fortes e o Dr. Ribeiro Pena, seu Secretário, foram os pontos altos na momentosa questão. Os capixabas transigiram ao máximo e, no final, tiveram que se contentar com uma Nota Oficial que visava o aceleramento da questão então em curso no Supremo Tribunal Federal. No final de sua exposição, MANOEL MOREIRA CAMARGO formulou votos para que os dois Estados conseguissem um rápido julgamento, para restabelecer a tranquilidade para os habitantes da região contestada.

Na qualidade de Diretor da Associação Brasileira de Municípios (ABM), a partir de 1952 até a presente data, CAMARGO participou ativamente de todos os Congressos de Municípios que foram realizados no Brasil (já em número de nove), isto é, os que foram realizados em Petrópolis; São Vicente, SP; São Lourenço, MG; Rio de Janeiro; Recife; Amazonas; Pará; Guarapari, ES; e Curitiba. Quando foi realizado o Congresso de Manaus, pleiteou e obteve do plenário, através de votação, autorização para que o Oitavo Congresso fosse realizado em Guarapari. Havia necessidade, para tanto, que fosse construído o Centro de Convenções, para tal fim, o que foi por ele obtido por intermédio do Governador Arthur Carlos G. Santos, que por sua vez lhe forneceu uma carta se comprometendo, no início do seu governo, construir o referido Centro de Convenções de Guarapari, que foi construído em 60 dias, sendo a conclusão das instalações no dia que teve início o Congresso. CAMARGO foi autorizado pela Diretoria da ABM a fazer convite viajando de avião a todas as autoridades do Brasil, o que conseguiu em menos de 40 dias.

MOREIRA CAMARGO, foi, também, líder do Governo na Assembléia Legislativa na primeira gestão do Governador Francisco Lacerda de Aguiar, tendo mantido inesquecíveis debates de oratória contra deputados do quilate de Eurico Rezende, Clóvis Stenzel, Judith Castelo Ribeiro, Dirceu Cardoso e Jeferson de Aguiar.

Foi fundador de dois jornais impressos na antiga Vida Capixaba: "Vitória Nova" e "Ordem Jurídica", este órgão da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Espírito Santo.

Além das funções relevantes que tem exercido, CAMARGO não esconde a honra e satisfação de ser Membro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, representando o Espírito Santo e, Presidente do Fundo de Ajuda e Assistência ao Advogado Carente do Brasil, que funciona junto ao Egrégio Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, tendo sido durante quatro biênios, Presidente da Seção Estadual da Ordem dos Advogados, onde realizou um excelente e profícuo trabalho. Como advogado, defendeu a legalidade do Tribunal de Contas do Espírito Santo, em causa ganha amplamente no TJ do Estado e no Supremo Tribunal Federal.

Participou de cinco Congressos Hispano-Luso-Americano e Filipinos de Municípios.

Excelente orador e argumentador, pronunciou várias conferências na Companhia Vale do Rio Doce.

Eclético, não se atendo a uma só opinião ou a uma única filosofia, MANOEL MOREIRA CAMARGO encontrou um destacado lugar entre as legítimas e autênticas personalidades do Espírito Santo, honrando esta posição, como o portentoso jurista, homem público de nomeada, amigo do nosso povo e defensor das coisas sagradas do nosso Estado. Como diria o seu biógrafo já falecido, José Benjamim Costa, "Ao traçar os contornos da febricitante personalidade do jurista MANOEL MOREIRA CAMARGO, quero exaltar, paralelamente com sua inteligência vibrátil, a sua excepcional energia e a sua indomável força de vontade, qualidades que fazem do homem, elemento exponencial, para se destacar dentre os seus concidadãos. O Dr. MANOEL MOREIRA CAMARGO é, inegavelmente, figura de indiscutível relevo nos meios culturais e sociais deste Estado e produto do seu esforço e de sua tenacidade".

 

Fonte: Personalidades do Espírito Santo. Vitória – ES. 1980
Produção: Maria Nilce
Texto: Djalma Juarez Magalhães
Fotos: Antonio Moreira
Capa: Propaganda Objetiva
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2020

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