Mapa constando o Morro do Moreno no século XVI
Quando o historiador José Teixeira de Oliveira (que, por sinal, não é capixaba nem nunca foi radicado no Estado), publicou a sua preciosa “História do Estado do Espírito Santo”, houve por bem fazer, para ilustração da capa do volumoso compêndio e da folha de rosto, um aproveitamento do motivo cartográfico de um trecho do litoral da Capitania: a Baía de Vitória.
Trata-se do “Roteiro de todos os sinais na costa Brasil”, autoria atribuída a Luís Teixeira (século XVI), manuscrito pertencente à Biblioteca da Ajuda, Portugal.
O Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação, ao comemorar o V centenário de nascimento do descobridor do Brasil (1968), lançou uma edição fac-similar, desse códice quinhentista.
É pena que a impressão não reproduzisse, também, as cores do origianal, com os delineamentos em azuis e esverdeados que eram considerados constantes características nos manuscritos do suposto autor. Mas a edição ganhou com os comentários do historiador Max Justo Guedes, o qual considera o “Roteiro” como uma das mais notáveis obras da cartografia portuguesa dos tempos coloniais, relativas ao nosso país, e o classifica como o 1º roteiro conhecido das costas brasileiras, uma vez que outros, antecessores, são, até hoje, dados como perdidos.
Das 13 cartas insertas no códice, interessam-nos, particulamente o fólio 12 r – Carta-planta da Baía do Espírito Santo e suas proximidades, 120 x157mm; o texto para orientação dos navegadores, que antecipa e que envolve a cartografia, bem como a transcrição e os comentários da edição.
O histriador e Capitão de Fragata, Max Justo Guedes está convencido que o documento, tanto na parte do roteiro quanto na parte de cartografia, é fruto de observações diretas e de levantamentos hidrográficos. Assinala o conhecimento dos ventos e o terror aos Abrolhos que levava os navegantes das caravelas a extrema cautela no bordejar a costa, procurando o largo, orientando-se pelas cumieiras dos montes. Deixavam às menores embarcações, os caravelões, navios mais toscos, de uma só coberta, que demandavam de seis a sete palmos d’água, a prática de arranharem a costa.
Na opinião do mesmo historiador, a carta-planta da Baía do Espírito Santo e suas proximidades “peca pelo traçado da baía e colocação de suas ihas”, tornando dificultadas as identificações. Ele julga este “um dos maiores traçados do cartógrafo” mas acha “excepcionalmente bom” o traçado da costa brasileira, bem como a arrumação em latitudes dos principais acidentes geográficos, muito pouco discrepantes das latitudes reais. Acredita que a primeira utilização das informações geográficas do “Roteiro” foi feita por Gabriel Soares de Souza, o autor do “Tratado Descritivo do Brasil”, cujos originais manuscritos em português teriam sido consumidos num incêndio, por ocasião do terremoto de Lisboa, restando, porém , 2º apógrafos.
Se imaginarmos o quanto são escassos os documentos quinhentistas da nossa História, aquilataremos melhor a importância da divulgação do “Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, baixos, alturas e derrotas que há na costa do Brasil desde Cabo Santo Agostinho até o estreito de Fernão Magalhães” (ms. 51-IV-38 da Biblioteca da Ajuda) e parabenizaremos, ainda que um pouco fora de data, o lançamento do Instituto Nacioanl do Livro.
Fonte: De Vasco Coutinho aos Contemporâneos, 1977
Autor: Levy Rocha
Compilação: Walter de Aguiar Filho,outubro/2011
GALERIA:
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo