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Movimento Cineclubista – Por Antônio Claudino de Jesus

UFES 1980 - Passarela da Ufes na Av. Fernando Ferrari - Vitória

CENA I

Osmar, Marco Antônio e Chefinho ajeitam a sala do IC II para a projeção de Teorema, de Pasolini, numa quinta-feira, 13 horas. O "mosquitinho" circulara na véspera no almoço do RU e despertou minha atenção naquele triste ano de 1973. Era o primeiro sinal de vida inteligente no planeta Ufes.

CENA 2

Após dois anos de sessões com periodicidade variável, muitos Felinis/Glaubers/Godards/etceteras, público pequeno e fiel, já me sentia parte do que descobri ser um cineclube. Dívidas acumuladas, pressões camufladas, máquina 16mm desajustada, entre inúmeras outras dificuldades, somadas à heróica condição de funcionar sem qualquer apoio institucional, apontavam para a extinção daquela espécie de única luz no fim do túnel. Era necessário o apoio ativo do público fiel, que respondeu sob a forma de pressão junto à direção da Ufes.

1975: A Sub-reitoria Comunitária passa a fornecer as condições mínimas e o Cineclube Universitário se organiza política e administrativamente com os estudantes. É o início de uma trajetória cultural que mobilizou a universidade em torno de sessões, mostras, festivais, debates, publicações e outras atividades, suprindo a lacuna produzida pelo regime autoritário, que proibia organizações de alunos, professores, funcionários e, de resto, da sociedade.

CENA 3

1976: O Cineclube Universitário se insere na comunidade, é reconhecido pela cidade de Vitória e ganha espaço na mídia local. Comentários ásperos (... "as péssimas condições de projeção"...) comentários estimulantes (... "apesar das dificuldades é a melhor opção do fim-de-semana..."), comentários irônicos (... "Os meninos do Cineclube"...), comentários elogiosos (... "com garra e qualidade vai se implantando como alternativa ao silêncio cultural do estado"...). Comentários e mais comentários, críticas e mais críticas, avolumam as pastas de recortes de jornais do já organizado arquivo, fazendo companhia a cartazes, folders, críticas, sinopses e fotos do futuro banco de informações cinematográficas que subsidiaria o trabalho.

1976: (fevereiro). Correspondência oriunda de São Paulo informava da reorganização do Conselho Nacional de Cineclubes e convidava para a XIV Jornada Nacional de Cineclubes, em Campina Grande-PB, onde fizemos contato com cineclubes de todas as regiões do Brasil, conhecemos as diferentes formas organizativas existentes, ouvimos Jean Claude Bernadet, debatemos com Felipe Macedo e Marco Aurélio Marcondes, percebemos a força política do movimento cineclubista. Não estávamos só reinventando o "cinematógrapho". E, melhor, estávamos intuitivamente acertando no retorno. Magno Godoy e eu estávamos cheios de novidades para contar pra Margareth Taquetti, pro Osmar, pra Nerli, pro Chefinho, pro Luciano Cola, pra toda a turma da coordenação do cineclube, que já não era tão pequena. Iniciou-se assim um novo movimento em Vitória, com relações nacionais e internacionais, que possibilitou à cidade o contato com produções do país e do exterior, que não seriam conhecidas através do circuito formal de exibição, seja pela força bruta da censura vigente, seja pelo desinteresse dos distribuidores e exibidores comerciais — tradicionais aliados do poder. Veio a primeira entrevista para o Caderno Dois, com Tinoco dos Anjos, na antiga sede de A Gazela, centro de Vitória. A tônica foi apresentar a diferença entre o movimento sócio-cultural que surgia, com organização democrática e participação ativa do público, e o chamado cinemão e sua relação fascista com o público. Dessa forma, o cineclubismo chegou a um sem-número de pessoas, instituições e organizações sociais que com ele se identificaram e passaram a frequentá-lo e/ou a organizarem seus cineclubes em escolas, bairros, igrejas etc, até atingir outras cidades do Espírito Santo nos anos subsequentes. Na Ufes, já se tornara ponto de encontro, debates, montagem de espetáculos cênicos, shows musicais, lançamentos literários, além do cinema, seu objeto central de trabalho, funcionando onde hoje é o teatro Metrópole em uma sala de piso frio, sem cadeira ou cabine de projeção.

CENA 4

Década de 80. O movimento cineclubista se estabeleceu no Espírito Santo, atuando com parceiros (SEC/MEC, DEC, Prefeituras, Iniciativa Privada), implementando as respostas à demanda surgida e se estruturando na Federação de Cineclubes do Espírito Santo, sob a Presidência de Sebastião Ribeiro Filho (Tião Xará). Esta Federação, congregando cineclubes de 23 municípios, dezenas de escolas, sindicatos, igrejas, associações de moradores, enfim, consolidando-se como um dos movimentos sociais de importância e destaque na década, sem perder de vista sua especificidade cultural, calcada na formação de público e de mão-de-obra voltada para o cinema, teve reconhecimento nacional e internacional. Sediou o Conselho Nacional de Cineclubes, foi membro do Conselho Nacional de Cinema — Concine — e da Federação Internacional de Cineclubes, participou da organização de festivais (Rio-Cine-Festival, Festival de Brasília, de curtas de Salvador, entre outros), exportou profissionais para o Rio de Janeiro e São Paulo (Lúcia Chequer, Lena, Tadeu de Jesus, Paula Guedes e outros), solidificando o espaço do cinema no Espírito Santo.

CENA 5

1996. Após ter passado pelas denominações de Universitário, da Ufes, Cláudio B. Rocha (justa homenagem ao precursor do cineclubismo no Espírito Santo) e, por fim, Metrópolis; depois de ter funcionado com almofadas, cadeiras móveis, cadeiras fixas, bitola 5.8, 16mm e 35mm; depois de ter participado ativamente da reorganização do movimento estudantil, do sindical, de moradia e de campanhas como a antinuclear, de defesa do ensino público e gratuito, de ajuda aos flagelados da enchente de 79, da reabertura do DCE, da efetivação da Casa de Cultura Capixaba; depois de ter sido "incomodado" pela repressão, de ter participado de eventos em todos âmbitos e locais, o cineclube é hoje, incontestavelmente, o representante mais qualificado do cineclubismo no estado, corporificando seu passado de inserção social e de vanguarda cultural. De seus quadros emergiram profissionais de destaque nas mais variadas profissões, com atuações destacadas no Espírito Santo, como Adilson e Adelson Ferreira, Sérgio Lucena Mendes, Cloves Mendes Neto, Sebastião Ribeiro Filho, Penha Padovan, Jorge Alencar, Marcelo Ferreira, José Antônio Challwb Jr., Luis Cláudio Moisés, e tantos outros. De sua história fica a lição de que a Universidade tem como cumprir sua função social, desde que esteja antenada com as necessidades e/ou expectativas da comunidade.

 

Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal: Paulo Hartung
Secretária Municipal de Cultura e Turismo: Silvia Helena Selvátici
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo: Rômulo Musiello Filho
Diretor do Departamento de Cultura: Rogério Borges de Oliveira
Diretoria do Departamento de Turismo: Rosemary Bebber Grigatto
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias: Elizete Terezinha Caser Rocha
Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial: Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão: Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa: Vitória Propaganda
Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer
Impressão: Gráfica e Encadernadora Sodré

 

Fonte: Escritos de Vitória, nº 16 Movimentos Sociais, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV
Texto: Antônio Claudino de Jesus
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2018

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