Museu Capixaba do Negro Verônica da Pas: Conquista, Diálogo, Inclusão
Nas minhas falas como coordenadora do Museu Capixaba do Negro (Mucane), tenho feito questão de destacar o fato de sua criação, em 1993, ter sido fruto das reivindicações dos setores organizados da população negra em movimentos sociais, que ansiavam por um espaço para a preservação da memória e valorização das manifestações da cultura negra no processo de afirmação de sua identidade étnica.
O Mucane foi criado na gestão do governador Albuíno Azeredo (1991- 1995), pelo Decreto 3.527-N, de 13 de maio de 1993.
Contudo, longe de ser uma iniciativa benevolente do governo, o Museu foi fruto de pressões sociais, resultado da movimentação de negras e negros do Espírito Santo cujas lutas por dignidade, respeito e reconhecimento remontam ao período da escravidão (CASTRO, 2012, p.5).
Sendo assim, é bom lembrar que o surgimento do Mucane é resultado dessa capacidade dialógica do movimento negro com o poder público na viabilização de uma ideia relevante. Nesse momento inicial, o nome da saudosa Verônica da Pas destaca-se como fundamental, por ela ter sido uma liderança mentora no movimento que levaria à criação do museu.
Desde 1988, ano do centenário da Lei Áurea, na Universidade Federal do Espírito Santo, ela coordenou diversas atividades e discussões sobre a questão do negro no Brasil que levariam ao surgimento da ideia da criação de um museu negro no Espírito Santo. Nesse sentido, em 1991, houve uma primeira tentativa, que unia a Ufes, o antigo Departamento Estadual de Cultura (DEC) e a Prefeitura de Vitória, que estudaram a possibilidade de viabilizar a ideia na Igreja do Rosário. Apesar de a negociação não ser bem sucedida, foi a primeira semente.
Segundo Elias Barcelos – outro nome importante nesse período – “o ponto crítico das discussões era o espaço para instalar o museu”. De fato, criado em 1993, o prédio para a sua instalação só viria um ano depois, em 13 de maio de 1994. Vencida essa etapa, a luta ainda não estava terminada. A entrega do espaço não significava condições de funcionamento e manutenção. Ele ficaria abandonado se não fosse o movimento de ocupação e resistência empreendido, de forma voluntária, por muitos atores sociais, com várias atividades artísticas (saraus, oficinas de capoeira, dança-afro, música) e também cursinho pré-vestibular. Mais uma vez, Verônica da Pas foi uma líder nesse momento e acabou sendo a primeira coordenadora do Museu Capixaba do Negro, de 1994 a 1996, ano em que veio a falecer.
Após a morte de Verônica, o Mucane foi coordenado um período pela historiadora e militante do movimento de mulheres negras Edileuza Penha de Souza, eleita pelas organizações do Movimento Negro da Grande Vitória. Com Edileuza, Zuilton Ferreira, Madalena Telles, Ariane Meireles, Gil Mendes, Ilma Viana, entre outros nomes, o grupo deu continuidade ao movimento de ocupação do Mucane. Posteriormente, as negociações por parte do Governo do Estado foram interrompidas e a prometida reforma do prédio ficou abandonada até 2007, quando a Prefeitura Municipal de Vitória assumiu a reforma do prédio em 2009.
Justiça seja feita, se o Mucane leva o nome de Verônica, não é por acaso. Lembremos sempre: Museu Capixaba do Negro Verônica da Pas. Depois de anos de luta, mais de uma década de reivindicações, entendo que a nova fase começa em 2007, quando o governo estadual transferiu para a Prefeitura de Vitória a administração do museu. Naquele ano, o então secretário de cultura, Alcione Pinheiro, prometeu a revitalização do espaço. As obras de reforma, restauração e ampliação começaram em 2009 e terminaram em 2012, ano de sua reinauguração, no dia 5 de julho, como um grande acontecimento para a cidade. Houve o fechamento da Avenida República, ocupada pela população e autoridades, especialmente pela Ministra da Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, e ainda com shows do Feijão Balanço e do Ilê Ayê.
No dia seguinte, a abertura da exposição “Nos Caminhos Afros – 170 fotografias de Pierre Verger” também marcou a reinauguração do Mucane em grande estilo. Ainda no mês de julho, o lançamento da Revista Mucane, pesquisa realizada pelo Instituto Elimu Professor Cleber Maciel, sob coordenação de Nelma Gomes Monteiro e pesquisa da historiadora Fernanda de Castro, foi um acontecimento importante para o resgate e preservação da história do museu.
Durante todo esse tempo, observa-se que o diálogo entre os movimentos sociais, especialmente o negro, e o poder público nunca cessou. Foi a partir das reivindicações, desde a criação, passando pela ocupação do espaço até resistência, que chegamos até aqui, com o prédio novo e em condições de funcionamento de forma digna para a população, especialmente a comunidade negra. Essa foi uma conquista respeitável, uma boa dose de ânimo para a nossa autoestima. Todos ficam admirados com a beleza do prédio, considerado um dos melhores espaços culturais da cidade de Vitória atualmente. Ainda há muito o que fazer, mas o pior já passou. O museu está funcionando com atividades culturais e de formação, com destaque para as cinco oficinas oferecidas: teatro, danças populares, canto de matriz africana, percussão e capoeira. O importante agora é olhar para o futuro, sem esquecer o passado e manter a conquista desse espaço de inclusão que é o Mucane. O diálogo não pode cessar.
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Governador
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Subsecretário de Cultura
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GSA
Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Suely Bispo – 2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2022
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