O Centro, hoje - Por Cristina Dadalto

"Ah... Vitória! Se suas artérias financeiras foram desviadas para a Zona Norte, certamente sua origem, alma, história e poesia continuam a habitar aqui. Quem sabe, conto nos contos de fada, algum príncipe — detentor de um mandato popular — apaixone-se perdidamente e a resgate desse insultuoso quebranto!" Jeanne Bilich - Jornalista
Depoimento à Campanha Revitalização do Centro de Vitória
Cidade presépio. Cidade sol. Muitos apelidos carinhosos ganhou Vitória. E tudo, e todos, principiaram no Centro da cidade. Centro, que deu origem à própria formação da cidade. (É preciso, antes de prosseguir, esclarecer o limite que foi definido neste trabalho: Centro, para fins deste livro, está sendo considerada apenas a região congregada em toda extensão da Avenida Jerônimo Monteiro. São ricas demais as histórias do Parque Moscoso e da Vila Rubim para não serem tratadas em livros à parte.)
Harmonizado nos movimentos rotineiros do dia-a-dia, o Centro é sinônimo de encanto, acolhimento e solidariedade. É também sinônimo de história, de movimento de porto, de congestionamento de veículos, de crianças brincando, de silêncio e de gritos.
O dia começa no Centro com os homens do porto se preparando para a labuta de carregar e descarregar navios. Acomodados nas muradas de concreto, pescadores jogam suas varas enquanto observam a grandiosidade do Penedo. Idosos e crianças aproveitam a tranquilidade para o passeio matinal nas praças e caminhadas no calçadão à beira-mar.
O horário comercial é tomado pelo movimento incessante de carros e transeuntes, sempre apressados para chegar a diverso destino. Misturam-se aos gritos de ambulantes e de flanelinhas.
A noite encerra com a boêmia de bares com mesas na calçada e marinheiros à cata de companhia.
Maria Silly Vargas, dona de casa, registra assim seu sentimento sobre residir no Centro: "Moro na cidade alta, próximo à OAB e à Arquidiocese. Gosto daqui porque é perto de tudo: dos supermercados, das farmácias, da minha igreja, de hospitais, do Parque Moscoso e da Praça Costa Pereira, onde, aos domingos, tantas pessoas se reúnem para ouvir o regional do Mestre Flores. Aqui estamos na capital com a tranquilidade do interior acordo com o cantar dos galos, tenho fruteiras no meu quintal e cuido, eu mesma, do gramado em frente à minha casa. Conheço todos os vizinhos, que são bons amigos e muito atenciosos. No Centro, o comércio forte nos oferece lojas com produtos muito bons e muito mais barato do que nos outros bairros. Por isto, compro aqui tudo o que preciso. Daqui de cima da cidade alta, temos a bela vista das matas, com seu verde permanente, de dia, e as luzes do casario morro acima, que, à noite, mais parece um presépio de natal. O silêncio e a tranquilidade permanecem dia e noite." Maria Silly deu este depoimento para a campanha de Revitalização do Centro.
Quem reside ou transita no Centro de Vitória não pode deixar de perceber suas centenárias divisões: Cidade Alta, ruas e recantos que preservam histórica qualidade de vida; e cidade baixa, onde impera o movimento comercial.
Está na Cidade Alta também o coração das decisões político-administrativas do estado do Espírito Santo, tomadas a partir da sede do Palácio do Governo e da Assembléia Legislativa. Logo abaixo, a praça Oito, testemunha dos grandes movimentos políticos, como a Campanha pelas Diretas Já.
É o Centro que guarda monumentos e prédios que marcam as diferentes fases do desenvolvimento de Vitória. E que já foi fonte de inspiração de prosa e verso por cantores e escritores. Como fez o cantor Pedro Caetano, autor do hino emocional de Vitória — Cidade Sol.
Do esplendor do princípio do século à boêmia das décadas de 70 e 80, ao declínio comercial dos anos 90, o Centro carrega marcas de movimento contínuo de preservação. Como o de hoje, com a sociedade, governo e empresas juntando-se em campanha para sua revitalização. A atual campanha é desenvolvida pela Associação Comercial de Vitória e Câmara de Dirigentes Lojistas de Vitória, com apoio da Prefeitura de Vitória.
A campanha, segundo o presidente da Associação Comercial de Vitória, Roicles Matos Coelho, quer mostrar a importância do Centro como importante patrimônio histórico, arquitetônico, turístico e comercial de Vitória e do Espírito Santo. "É preciso que as pessoas vejam o Centro com novos olhos."
Olhos carinhosos e apaixonados, como o do poeta Fernando Tatagiba, em sua crônica Cadeiras na Calçada, que expressa da seguinte forma seu sentimento pelo Centro:
"Uma cidade vive em torno de seu bares, das luzes e dos loucos nas mesas da calçada.
Vitória já vivenciou muitos momentos com os mágicos tempos da Sorveteria Pinguim, do Bar Sagres, do Bar Estrela, do Elite, do Dominó, da Lanchonete Petrópolis e Canaã.
Uma multidão, ao longo dos anos, sentou, dançou, bebeu, amou e dormiu naquelas mesas, naquelas sombras.
O Britz viveu seus últimos instantes de folguedos.
Houve lágrimas e lances dramáticos, como outrora, mas a vida continua.
E, como uma cidade não pode morrer, outros bares-lares boêmios — surgirão e também se eternizarão."
Fonte: Centro de Vitória, Coleção Elmo Elton nº2 – PMV, 1999
Texto: Maria Cristina Dadalto
Fotos: Judas Tadeu Bianconi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020
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