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O Circo em Vila Velha no tempo do Seu Dedê

A Prefeitura antiga, o Colégio Vasco Coutinho e o pátio da Praça Duque de Caxias, local onde eram montados os circos nos anos 40

Circo, quanta saudade...

"Furar o pano" do circo era o termo usado pela molecada para passar por baixo do pano e assistir ao espetáculo de graça. Era assim: de bilhete comprado legalmente, entravam no circo, bem antes do espetáculo começar, um ou dois meninos. Dirigiam-se ao último degrau da arquibancada e escolhiam um lugar onde o pano estivesse frouxo e fácil de ser levantado. Disfarçadamente, ficava um sobre a bancada, colocando a cabeça para fora do pano e dava o sinal combinado para que a turma de fora soubesse que estava tudo certo e era só aguardar o sinal de "já"!

Dentro do circo havia o perigo de ser apanhado pelos borés. Os borés eram ajudantes locais, contratados para armar e desmontar o circo e seus apetrechos antes e durante o espetáculo, manter a limpeza e, sobretudo, rondar dentro do circo durante o espetáculo, visando os furadores de pano.

Naquele tempo o circo era circulado por uma lona branca e separado dos invasores por uma cerca de arame farpado. Fora do circo um policial requisitado pelo proprietário fazia também a ronda, para evitar invasão.

Os furadores iniciavam do lado de fora sua parte, vendo se era possível arrancar um ou mais grampos da cerca de isolamento do circo; abriam uma vala sob o arame e aguardavam. A furiosa, pequena banda formada por músicos, animava a platéia tocando marchinhas (tipo a bandinha Lira do Xopotó), anunciando que o espetáculo ia começar. É a hora!

O policial do lado de fora, na sua ronda, não percebia o local a ser furado porque a turma previamente tinha tudo planejado; passar sob a cerca era moleza, o chão arenoso sob o arame já estava cavado; o circo é circular e o policial, ao passar, tendia a seguir em frente; era nesta hora que o de fora falava: Suspende o pano! Se lá dentro a barra estava livre, o pano era levantado e um dos garotos de fora forçava o arame enquanto outros se esgueiravam sob o mesmo e adentravam no circo; estes ocupavam novos lugares e continuavam o fura aqui, fura ali e acolá. Em pouco tempo todos já estavam acomodados. Muitas vezes algum espectador ajudava a garotada depondo a seu favor.

Anos mais tarde surgiu o circo dos "Irmãos Temperani" que, em vez de cerca de arame farpado, usava o tapume de folhas de zinco como proteção, o que dificultou a entrada dos furadores de pano; mesmo assim, nada segurava o Aloir do Seu Amazonas: conseguiu furar o circo, escalando um dos cabos de aço de sustentação dos mastros, passando por cima do alambrado.

Não mais podendo assistir a todos os espetáculos a gente recorria ao hoje tem. Era assim: às 14 horas havia um ajuntamento de garotos (não se usava a palavra moleque) aguardando a saída do palhaço com suas pernas de pau para anunciar o espetáculo. Apoiado sobre o alto do muro do Grupo Vasco Coutinho, o palhaço calçava as pernas de pau e as calças. Levantava-se e em passadas largas, tendo às mãos um grande cone de lata pintado com alegorias e um bocal que levava a boca e gritava:

— Hoje tem espetáculo?

E a garotada: Tem sim senhor!

— O palhaço o que é?

— É ladrão de mulher!

— Oh raio! Oh sol! Suspende a lua!

— É o palhaço que está na rua!

— Hoje tem espetáculo?

— Tem sim senhor!

— A mulher no buraco?

— Tem sim senhor!

Depois de muita barulheira o cortejo parava e o palhaço apresentava o programa e a hora do espetáculo para a noite. A seguir, tudo ia se repetindo de parada em parada, até retornar com a garotada ao circo. Era chegada a hora da distribuição das senhas à garotada, para o ingresso ao espetáculo. Era costume também, na falta de senhas ou ingressos, marcar o pulso do garoto com uma tinta azul ou vermelha credenciando-o à entrada.

Os circos eram montados no largo destinado à Praça Duque de Caxias. Após a construção da praça, o local destinado foi atrás do Grupo Escolar Vasco Coutinho, de frente à Rua Soldado Aquino de Araújo e lado com a Rua Antônio Athayde. Os últimos circos foram armados no terreno vago da família Laranja, na Avenida Jerônimo Monteiro, lateral com a Rua Henrique Laranja.

 

Fonte: Memória do Menino... e de sua Vila Velha – Casa da Memória Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha-ES, 2014.
Autor: Edward Athayde D’ Alcantara, conhecido carinhosamente por Seu Dedê
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2020

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