O Mapa do Espírito Santo no Aeroporto - Por Judith Castello
Papai, para educar os filhos, empregava o processo indireto. Judiciosas sentenças aplicava às circunstâncias, enquadrando - as bem. Cortava rente uma maledicência, dizendo: “Mais vale um burro elogiando, do que um sábio criticando.” Ótima lição de bem viver.
Não sou nem uma coisa nem outra. Apenas uma observadora indulgente. Conscientizada, muito cedo estou, de que “errar humano é”. Também, cônscia de que “corrigir o erro é divino.”
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Tarde linda, linda mesmo, aquela em que fui ao aeroporto de Goiabeiras, ali nas terras do meu irmão Rômulo, que o governo Getúlio Vargas desapropriou a troco de nada até hoje. Sim, como ia dizendo, fui levar minha sobrinha com a ninhada de filinhos. Tomariam o avião, deixariam Vitória. Iam embora, de morada, partiam de vez. Amarfanhada de tristeza, a minha alma era que nem papel amarrotado entre mãos raivosas. Saudade antecipada, pressentimentos angustiosos. Incerteza de reencontro. Sei lá se terei, em breve, de responder “presente” Àquele que tudo manda?
A vida é amendoeira, árvore de folhas caducas. As folhas caem, morrem, adubam o chão. Reluzente, verde-musgo, macia, a folhagem aparece, com novas forças, para enfrentar ventos e vendavais. As gentes se sucedem, dando lugar aos novos. É a vida.
Filosofando, saí de mansinho. Fui curtir o meu pesar à porta do saguão, olhando pra fora. Vi a beleza do céu. Garanto, se um pintor ousasse fixar, numa tela, a variedade de tonalidades que havia naquele céu, seria criticado por fugir à realidade, criticado pelo arranjo feito no intuito de impressionar. Do tom de fogo, fazendo barra no horizonte, ao violeta, de mistura com amarelado laranja, manchas de azuis entre tufos de nuvens brancas. Uma lindeza!
Era o céu uma paleta de pintor descuidado, desperdiçador de tintas.
Emoldurado no painel, o hercúleo Mestre Álvaro, vestido de tons arroxeados, faiscante de luz!
Embrenhei-me no passado. A saudade mudou de rumo. Recordações da Serra, das pessoas que foram levadas de olhos fechados, mãos no coração. Aqueles que não voltarão.
Esta saudade feita pela morte amainou o meu estado de espírito. Na terra, a ausência é marcada por paralelos e meridianos. Os vivos estarão ali, lá longe. Minha palavra chegará até eles. Mas, para os meus pais e irmãos, que deixaram a casa vazia, não há tempo para a volta. Separação, em silêncio, sem comunicação, é longa demais, quase eterna. Chorei. Procurei apoio. Encostei-me no portal. Estava ocupado por um mapa. Afastei-me para observá-lo. Que decepção! Lá estava minha Serra, assinalada com erros. Revoltada, vi Jacaraípe colocado na fronteira com Santa Leopoldina. No sertão! Santo Deus!
Nesta época em que se incrementa o turismo, principalmente o aceno é para a parte litorânea, Jacaraípe menosprezado. Jacaraípe, a melhor amostra de ricas praias radioativas, de areias pretas e brancas, marchetadas de conchas, praias amplas, abertas em curvas imensas, como braços acolhedores no carinho de um abraço, Jacaraípe, de rio azul, piscina natural, de amendoeiras, catedrais imensas, onde a orquestra dos pássaros festeja o nascer do sol, Jacaraípe colocado no sertão?
Ah, se vivo fosse o saudoso médico, cantor de Jacaraípe, o Dr. José Leão Borges, autor da canção “Jacaraípe” e deparasse com aquele menosprezo, já teria, por certo, procurado o descuidado responsável pelo levantamento daquele mapa, exprobrando o seu desleixo, ridicularizando a infeliz iniciativa.
Em ação, autoridades zeladoras pelos foros da cultura espírito-santense. Bem depressa, corrijam o erro ou os erros, antes que estranhos ao Estado, visitantes, veranistas comprovem o descaso pelas coisas boas de nossa terra. Tragam, no mapa, Jacaraípe para a orla marítima, lá, onde as ondas revoltas brincam de “sela”, pulando, umas sobre as outras, em busca das praias.
Jacaraípe, lindamente à beira mar plantado, não pode ser escondido, reclama posição certa no mapa do aeroporto.
Fonte: Presença, 1980
Autora: Judith Leão Castello Ribeiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2014
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