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O Palácio Anchieta - Por Neida Lúcia Moraes

Palácio Anchieta Museu - Foto: Mônica Boiteux, 2011

O Palácio do Governo do Espírito Santo, hoje denominado Palácio Anchieta, em homenagem ao Padre José de Anchieta, é uma testemunha de toda a nossa História.

Quando vasco Fernandes Coutinho, o primeiro donatário, tomou a resolução de transferir a sede de sua administração para o local onde Vitória se encontra, os jesuítas, dirigidos pelo padre Afonso Brás, encontraram-se com este recanto do Brasil.

Afonso Brás, missionário e catequista, depois de reconhecer a costa, desde a Bahia, declarou que “a vantagem ia para a terra do Espírito Santo”. E escolheu Vitória, que ainda não era Vitória, par ao estabelecimento de uma casa para os seus liderados.

Desde logo os ecos da iniciativa chegaram à sede do Governo Geral “envoltos numa aura de ampla esperança”.

A casa de Afonso Brás, atual Palácio Anchieta, ficou ligada invariavelmente a todos os grandes eventos, começando com a própria fundação de Vitória. Depois a luta contínua com os índios, donos da terra, as invasões dos franceses e holandeses, o episódio heróico de Maria Ortiz, a catequese do padre José de Anchieta, sua morte, o reflexo do ciclo do ouro das Minas Gerais, expulsão dos jesuítas, o desenvolvimento lento, mas seguro, enquanto durou a fase do café, o impulso mais violento após os primeiros anos da República e hoje, com a marcha vigorosa e irreprimível.

Nem as lendas faltaram. A notícia de um tesouro escondido pelos jesuítas expulsos, as diferentes versões relativas a uma relíquia de Anchieta, os túneis que os padres teriam escavado, ninguém sabe muito bem para que, ainda povoam a imaginação dos capixabas.

Afonso Brás – o que caracteriza o primeiro jesuíta a fixar-se no Espírito Santo, além das atividades especiais de sacerdote, era a sua qualidade de arquiteto e construtor, exercitada aqui, no Rio de Janeiro e em São Paulo, durante mais de meio século de apostolado nas terras do Brasil.

Logo pôs o pé na Vila Nova, começou a aplicar a sua atividade de construtor.

“Em 1551, dando o padre Afonso Brás princípio a uma casa, os seus ecos chegaram logo à Bahia, envoltos numa aura de esperança. Escrevia Nóbrega: - Tem grande colégio e manda pedir meninos para principiar.

Depois, quando o próprio Nóbrega, com Tomé de Souza, passou em Vitória, no ano de 1552, já encontrou o Colégio de São Tiago, grande casa e igreja. Entrando com o Governador Geral na igreja, Nóbrega entoou o Veni Cretor Spiritus, alusão ao nome da terra que pisavam”.

A igreja, ou recebeu o nome de algum capelinha que ali existisse anteriormente, ou talvez fosse inaugurada em 25 de julho de 1551, o que explicaria a inovação de São Tiago. Como quer que seja, em 4 de maio de 1552 já se chamava assim.

Afonso Brás não ficou no Espírito Santo. Depois de ser o fundador do primeiro colégio, o primeiro professor de letras, de dar o exemplo de um surpreendente e comovedor aliciador de jovens para a sua “escola de ler, escrever e algarismos”, de ser o arquiteto e construtor da igreja de São Tiago, a primeira de Vila Nova de Nossa Senhora da Vitória, transferiu-se para São Paulo, obedecendo as ordens do padre Manoel da Nóbrega. Deixara plantado no solo do Espírito Santo um monumento que, aumentado e melhorado sucessivamente, atravessaria os séculos.

A Casa de São Tiago, sob a forma de colégio e seminário, deveria ser um fanal da educação por mais de duzentos anos, para vir a ser depois, por outros duzentos anos e mais tempo que há de vir, o polo das atividades políticas e duzentos anos e mais tempo que há de vir, o polo das atividades políticas e administrativas da capitania, depois Província e hoje Estado do Espírito Santo.

E além disso: “O mais belo ornato da capital do Espírito Santo”, na expressão de Saint Hilaire (Segunda Viagem ao Interior do Brasil – Cia Editora Nacional – Ed. 1936).

A Igreja de SãoTiago – inaugurada em princípio de 1552, ou talvez mesmo ainda em 1551, a igreja de SãoTiago construída junto à casa do colégio, tinha área e acomodação suficiente para os serviços divinos e assim os teria por muitos anos, dada a pequena população da vila que não atingia duas centenas de brancos.

Durante o restante do século XVI não houve necessidade de reformas ou ampliações, o que, aliás, era de esperar, dada a capacidade do seu idealizador e construtor.

 

 

Serafim Leite (História da Companhia de Jesus no Brasil – vol. II) assinala que a igreja de São Tiago tem como “a sua maior significação o fato de ter sido túmulo do padre José de Anchieta”.

José de Anchieta faleceu em Reritiba, hoje Anchieta (ES) em 9 de junho de 1597. Assistiram-lhe alguns padres que logo trataram da sua condução para a capital do Espírito Santo, onde o recebeu toda a terra, com as autoridade civis e eclesiásticas à frente. Aos ofícios solenes pregou Bartolomeu Simões Pereira, Administrador do Rio de Janeiro, que chamou a Anchieta “o Apóstolo do Brasil”.

O seu corpo foi acompanhado por um cortejo de mais de trezentas pessoas, na maioria indígenas, sendo sepultado na Igreja de São Tiago.

Sobre a campa do venerável catequista foi, mais tarde, colocada a lápida que lá se encontra com os seguintes dizeres.

HIC JACVIT VENE

RAB. P. JOSEPHVS

DE ANCHIETA SOC.

ET NOVI ORB. NO

VUS THAUMATIRG.

OBIIT RERITIBAE

DIE IX JVN. ANN

MFXCVII

 

Os restos mortais do padre José de Anchieta foram levados, em julho de 1609, para a Bahia, onde ficaram algum tempo, até ao breve de Urbano VIII de non cultu e retiraram-se de lá, sendo dispersadas as suas relíquias por várias casas e colégio, uma das quais foi para Roma.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Ano 1994, Nº 44
Autor: Neida Lúcia Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012 



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