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O Suá hoje - José Carlos Mattedi

Setor pesqueiro da Praia do Suá

A Praia do Suá atual é limitada pelas avenidas Leitão da Silva (setor sul) e César Hilal (oeste), e por uma linha reta imaginária partindo do prédio da Prodest até o canal de Vitória (leste), na proximidade do Trapiche. Compreende ainda o ex-morro da Garrafa (norte), hoje habitado por duas comunidades que contam com associações próprias de moradores: Alto São José e Alto Santa Helena. Toda essa área abriga prédios importantes na vida capixaba, como a própria Prodest (Processamento de Dados do Espírito Santo), a Sedu (Secretaria Estadual de Educação) e a Faculdade de Ciências Humanas.

Há, ainda, outros endereços de peso na região, como o Hortomercado, o Colégio Polivalente, o Hospital São Sebastião e o Terminal de Pesca Alvarenga, que centraliza a atividade pesqueira. Tem também um posto policial e duas praças modernas, com quadras esportivas e uma pista de bocha: a Dr. Demócrito Freitas, na César Hilal, e a José Francisco Arruela Maio, na Rua João Batista Parra. Um estaleiro para atender os pescadores locais e de outros bairros da capital está sendo providenciado pela prefeitura, sendo erguido no terreno da Colônia Z5, ao lado da Capitania dos Portos.

A Praia do Suá convive hoje com ruas movimentadas, bares populares e densidade habitacional — são cerca de 4 mil moradores, fora a população flutuante. Ainda é conhecida como área tradicional de venda de frutos do mar. Mantém as peixarias na Almirante Tamandaré e, sobre suas calçadas, ambulantes negociam o pescado em barracas improvisadas. Tudo um pouco diferente de antes, mas seus habitantes continuam sofrendo de um "mau local virtuoso": o bairrismo. "Não existe melhor lugar no mundo do que aqui", exulta Maria Leonor, assinalando que os mais antigos conservam o costume de sentar nas calçadas para conversar, relembrar histórias ou falar da vida alheia... E existe coisa melhor?

Ilha urbana

O bairro deixou de ser uma praia para se tornar uma ilha urbana, cercada pela modernidade da Enseada do Suá e de Bento Ferreira (a ex-área de mangue que vem crescendo verticalmente), possibilitando assim que guarde costumes e aspectos passados. O núcleo da ex-colônia de pescadores parece dominar a volúpia dos complexos imobiliários, mantendo a todo custo legados de outrora. É possível, por exemplo, andar pelas ruas centrais, sobre calçadas arborizadas, onde moradores ficam conversando no portão por horas, como se o mundo não tivesse pressa — "e daí?", peguntariam.

Diferentemente do que ocorreu em outras regiões de Vitória, hoje nobres, cuja população nativa foi "empurrada" para a periferia para dar espaço à especulação imobiliária, na Praia do Suá — estranhamente — isso não ocorreu por inteiro. Antigos proprietários ainda preservam suas casas, tanto é que não se vê nenhum arranha-céu no centro do bairro ou grandes lojas de departamento. Um dos motivos para tal resistência seria o fato de que os filhos dos pescadores se tornaram "doutores", obtendo assim ascensão social e melhorando o padrão familiar com o status de classe média.

Peso político

Zezito Maio, neto de um dos fundadores da colônia (David Maio), é um exemplo, ou uma mostra de que muitos descendentes de pescadores já não querem mais a solidão do mar, preferindo outras profissões. Contudo, poucos deixam de lado suas raízes praianas. Vereador no segundo mandato, Zezito tem um história de luta em favor da preservação dos costumes e tradições do Suá, e por isso tem o apoio e a confiança da comunidade. Dinâmico, conta que o bairro ganhou ao ter um representante na Câmara Municipal, listando em seguida uma série de obras conquistadas em seus mandatos. Sua casa virou ponto tradicional de encontro de políticos capixabas. É reduto de parlamentares, prefeitos e ministros, que comparecem para discussões ideológicas e para apreciar a moqueca e o peixe assado feito por sua mãe, Gilda. Os tempos realmente são outros: se antigamente os governantes corriam do lugar, ou o mantinham longe dos investimentos, agora o bairro também tem o seu peso político, e já briga por seus interesses. Nos últimos anos, o Suá ganhou ruas asfaltadas, uma praça, uma unidade de saúde, abertura da rua Professor Sarmento (antigo "Beco do Formigueiro"), melhoramento de escadarias e de saneamento básico em São José e Santa Helena, além de ver realizado o sonho de ter um píer para os pescadores.

É certo que o bairro já não tem a mansidão de outrora, mas, por outro lado, melhorou em comércio e tem boa infraestrutura. "A comunidade da Praia do Suá obteve qualidade de vida e, melhor, sem abrir mãos de seus valores e costumes. O pescador hoje tem mais condições profissionais, é alfabetizado. Há mais barco e ganha-se mais dinheiro", destaca Zezito. A opinião do vereador é compartilhada por José Pedro: "Antigamente havia muito peixe, mas tinha pouco valor porque quase não havia comprador. Hoje é melhor ser pescador, pois se vende o que se pesca". E completa: "A Praia do Suá é mais rica e agora tem de tudo. Antes ficávamos aqui isolados. Tudo era longe".

Peixarias

A tradição da pesca é o que movimenta o comércio local. São cerca de 400 pescadores no bairro, ou seja, 10% da população, sendo que, indiretamente, outras 600 pessoas vivem da pesca, o que corresponde a 25% do total de moradores, segundo informações da Colônia Z5. Os marujos saem de madrugada para o mar, viajando uma hora de barco. Quando não trabalham para terceiros, vendem pescado para os comerciantes ou no mercado da colônia. A Almirante Tamandaré é o corredor das peixarias — são sete. Nas calçadas, ambulantes montam suas quitandas onde é possível comprar todos os temperos, primordiais à culinária capixaba.

Uma diversidade de peixes e mariscos são expostos nos balcões. O cheiro é forte. O movimento de fregueses é diário, e aumenta durante o verão com a chegada de turistas e na Semana Santa, época em que o peixe torna-se ingrediente essencial à torta capixaba. A mais tradicional das peixarias é a Colônia Z5 (criada na década de 20), que abriga o pescado dos associados, e a Capixaba, fundada na metade dos anos 60 por César Stocco, José de Castro, Eugênio Rodrigues e José Arruela Maio, e que agora tem outros donos. Mas, já no final dos anos 50, Eugênio vendia seu produto em uma grande banca de pesca na Almirante Tamandaré, sendo ainda fornecedor de restaurantes — para muitos, esta banca foi a primeira peixaria particular do bairro.

 

Fonte: Praia do Suá – Coleção Elmo Elton nº 9 – Projeto Adelpho Poli Monjardim, 2002 – Secretaria Municipal de Vitória, ES

Prefeito Municipal: Luiz Paulo Vellozo Lucas

Secretária de Cultura: Luciana Vellozo Santos

Subsecretária de Cultura: Joca Simonetti

Administradora da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Mª Mello Nagato

Conselho Editorial: Adilson Vilaça, Condebaldes de Menezes Borges, Joca Simonetti, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lígia Mª Mello Nagato e Lourdes Badke Ferreira

Editor: Adilson Vilaça

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Cristina Xavier

Revisão: Djalma Vazzoler

Impressão: Gráfica Sodré

Texto: José Carlos Mattedi

Fotos: Raquel Lucena

Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

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