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Oposição a Lindenberg - Gil Vellozo

Tuffy e Carlos Lindenberg, governador do ES. Ao fundo, a Igreja do Rosário, final dos anos 50 - Fonte: Tuffy Nader

Foram várias as oportunidades em que Antônio Gil Velloso subiu à tribuna da Assembléia para defender Vila Velha e seu prefeito, Tuffy Nader, para criticar o governador Carlos Lindenberg ou para fazer as duas coisas no mesmo discurso. Carlos Lindenberg (PSD) havia sido eleito para seu primeiro mandato numa coligação com a UDN. Depois descartou os antigos aliados e voltou ao Palácio Anchieta numa coligação com o Partido Social Progressista – PSP.

Os aliados de ontem passaram a ser os inimigos de hoje com a plena força dos pulmões. Segundo as contas de Antônio Gil Vellozo, então presidente regional da UDN, o partido em peso fazia oposição a Lindenberg, excetuando-se dois líderes de Santa Tereza que preferiram aderir ao Governo, provavelmente para sobreviver politicamente.

Algumas vezes, Vellozo subiu à tribuna para criticar o Governo, sua própria bancada na Assembléia e defender o prefeito de Vila Velha. Tudo num só discurso, cheio de energia oposicionista. Segundo ele, a bancada do PSD encostava nos favores do Governo e esquecia suas obrigações parlamentares.

O resultado é que a Assembléia passava dias sem conseguir realizar uma sessão, porque, sem a presença dos governistas, não havia quorum para continuar a sessão. Indignado, Vellozo denunciava que a base governista (as bancadas do PSD e do PSP) sumia do plenário quando estavam sendo discutidos os interesses do povo e só aparecia para defender os interesses do Governo, principalmente quando havia “nova taxa para escorchar ainda mais os contribuintes do Estado [...]”   

Quando falava sobre o prefeito de Vila Velha, Tuffy Nader, não perdia oportunidade de mencionar o quanto Carlos Lindenberg estava sendo ingrato com o colega de partido. É que Tuffy Nader, também filiado ao PSD, foi um cabo eleitoral importante em Vila Velha para o retorno de Carlos Lindenberg ao Palácio Anchieta. Mas as questões municipais fizeram com que fosse eleito para a prefeitura num acordo costurado com a UDN. Gil Velloso registrou:

Parece que o nobre prefeito Tuffy Nader não está recebendo o prestígio a que faz jus do atual governador, do Partido Social Democrático a que o Dr. Tuffy se devota honesta e dedicadamente há muitos anos. O Dr.Tuffy Nader foi elemento relevantíssimo e, talvez, primordial, para a vitória d Sr. Carlos Fernandes Monteiro Lindenberg no município de Vila Velha. Através de trabalho indormido, diuturno e incansável, Tuffy Nader consolidou, solidificou [...]  a vitória do Sr. Carlos Lindenberg naquele município.   

Tuffy Nader estava a pão e água por ter sido eleito em Vila Velha com o indispensável apoio da UDN de Gil Vellozo, que acabara de sair da Prefeitura. Vellozo chegou a dizer que, se Carlos Lindenberg ficasse satisfeito, a UDN poderia até se afastar do prefeito para não prejudicá-lo e nem à sua administração, isto é, se o crime de Tuffy Nader fora o de ter sido eleito com o apoio da UDN e se a UDN estava atrapalhando seu prestígio junto ao Governo, nesse caso, e na defesa dos interesses do município, os udenistas se desvinculariam do acordo, passariam uma esponja nele, a fim de que o prefeito e o Município pudessem ser lembrados pelo governador Carlos Lindenberg. 

Vellozo também denunciava o empreguismo e a gulodice do PSD na ocupação dos cargos públicos no Estado. Havia, no Governo, uma imensa quantidade de cargos públicos ocupados sem concurso, o que sobrecarregava a folha de pagamentos.

Por isso, o deputado canela verde desafiava a Assembléia a vetar os recursos para o pagamento dos comissionados como uma forma de obrigar a administração a realizar concurso para a contratação de funcionários efetivos. Desafio feito em vão, pois o empreguismo beneficiava os deputados do Governo.

Vellozo denunciou várias vezes a chamada Comissão Revisora de Atos Administrativos. O nome inocente, sugerindo a intenção de passar a limpo e aperfeiçoar os atos da administração, na verdade escondia uma equipe montada por Carlos Lindenberg para desfazer todas as ações do Governo anterior, do udenista Francisco Lacerda de Aguiar.

Quando a equipe de Carlos Lindenberg assumiu o Governo, todos que haviam colaborado com a administração anterior foram afastados. A dita Comissão Revisora, conforme denunciava Gil Vellozo, foi criada para fazer o rescaldo e apagar qualquer resquício da administração udenista e afastar elementos simpáticos à UDN que porventura tivessem sido esquecidos na máquina burocrática.

O pretexto era o da revisão da administração. Mas denunciava Vellozo, “O Sr. Carlos Lindenberg, ao invés de planejar e executar obras de proveito público se compraz indefinidamente em revolver as catacumbas do arquivo dos atos do Governo Lacerda de Aguiar para saciar a sua sede de perseguições que é uma constante em sua vida pública”.

Além disso, segundo o deputado de Vila Velha, as perseguições políticas visavam também abafar os desmandos do seu próprio Governo. Vellozo proferia as palavras devagar, como se as ditasse aos funcionários do serviço de taquigrafia, para permitir o registro claro das suas denúncias:

A persistente, diuturna, infatigável e causticante campanha de desmoralização do governo passado, intentada pelo atual governo, dissemos ter a impressão de que essa seqüência de diatribes e objurgatórias em cima de nós outros que pertencemos ao governo passado poderá ser, nada mais, nada menos que  também uma cortina de fumaça para esconder as indignidades e as imoralidades que porventura possa haver dentro da atual administração. 

O deputado vilavelhense não criticava apenas a conduta política de Carlos Lindenberg. Naquela época ele já defendia os direitos do consumidor capixaba diante das empresas concessionárias de serviços públicos, especialmente no que se referia à Companhia Telefônica Brasileira.

Passados mais de 40 anos, suas queixas seriam perfeitamente atuais nos dias de hoje, quando a maioria das reclamações dos consumidores vai para as prestadoras de serviços telefônicos: “[...] pesa sobre a população de Vitória, contribuinte da Companhia Telefônica, o fantasma de mais um aumento de tarifas. E como esse aumento se conduz para o quadro das tarifas telefônicas interurbanas, o assunto deve ser levado em conta pelos altos poderes estaduais” 

Bem informado, o deputado alertava a Assembléia e a população, com antecedência, sobre a intenção da empresa, controlada por uma multinacional, de aumentar abusivamente os preços dos seus serviços, sem dar qualquer satisfação ao usuário e ao próprio Governo do Estado, o último na partilha dos lucros da concessionária. Ele dizia que esse aumento de tarifa não se justificava, argumentando: “[...] no regulamento da Companhia, o custo do telefonema interurbano é distribuído dessa forma: 70% vão para a Companhia Telefônica Brasileira, ou seja, a Light & Power, 20% para a Companhia Telefônica, sua subsidiária em Campos (RJ) e apenas 10% para a Companhia Telefônica do Espírito Santo” 

As constantes intervenções contra o comportamento abusivo das concessionárias de serviço público constituíram um marco da passagem de Gil Vellozo pela Assembléia Legislativa. Ele não se limitava ao debate ideológico contra o Governo de Carlos Lindenberg, encarnando perfeitamente o seu papel de defensor dos interesses do povo. O empenho nessa tarefa fez com que o parlamentar udenista conseguisse, mesmo na condição de suplente, fazer do mandato um trampolim para a Câmara Federal.

 

Fonte: Coleção Grandes Nomes do Espírito Santo - Antônio Gil Vellozo, 2013
Texto: Roberto Moscozo
Coordenação: Antônio de Pádua Gurgel/ 27-9864-3566
Onde comprar o livro: Editora Pro Texto - E-mail: pro_texto@hotmail.com - fone: (27) 3225-9400

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