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Os anos 60 e 70: a prosa de ficção e a poesia de contestação - Por Francisco Aurélio Ribeiro

Bernadette Lyra, Fernando Tatagiba, e Amylton de Almeida no campus da UFES

Nos anos sessenta e setenta, ao mesmo tempo que ocorre uma poesia engajada, preocupada com o social, há um revigoramento da prosa de ficção. Duas romancistas publicam, nessa época: Neida Lúcia Cunha Moraes (1929) e Margarida Lena Pimentel (1936). Neida Lúcia publicou Olhos de ver, em 1968, romance premiado pelo INL, de cunho social, ainda que maniqueísta, em 1971, publica Sete é número impar, romance em que se alternam dois narradores em primeira pessoa, e que, mais uma vez, focaliza problemas da sociedade moderna, como a desorientação da juventude e reflete sobre eles. Simbiose, seu terceiro romance, foi publicado em 1987, e nele, quatro jornalistas recebem o desafio de escrever, em um ano, um romance que retratasse a realidade política e social brasileira. Em seus três romances publicados, a ficção cede lugar à estudiosa dos problemas nacionais, dai o menor valor literário da obra de Neida Lúcia. Agora ela anuncia seu mais novo romance. O mofo, no pão, baseado em pesquisas feitas em Portugal, e ambientado na época da inquisição.

Margarida Lena Pimentel estreou com o romance Apenas um homem, em 1965, história sentimental, repleta de clichês: em 1967, publica um livro de crônicas, Vento macho e, em 1968, outro romance, Adultério sem flagrante, mais bem escrito que o primeiro e cuja narradora, Rizza, descreve a sua vida de mulher casada e as razões por que substitui o marido pelo amante. Margarida Pimentel possui outros romances inéditos, dentre os quais: Chaminé de barro, República dos bodes e Dois maridos e um cavalo.

A escritora capixaba, no entanto, que melhor representa a geração dos anos 60 e 70 é Kátia Bento, nascida em Castelo, em 1941. Kátia é poetisa de grandes méritos, ativista em prol das liberdades e contra os discriminados de toda espécie. Sua obra reflete uma preocupação com a emancipação da mulher, da criança, do ancião, da cultura indígena e com a luta ecológica. Recebeu menção especial no prêmio Fernando Chinaglia em 1979 com o texto Geração verde e em 1980, com a obra O jogo da velha. Histórias de Jesus para cachorros, publicado em São Paulo, em 1980. Nela, coloca em cena como personagens seres alienados da história oficial, perseguidos pelos donos do poder, incompreendidos pela sociedade: a velha, o cachorro e a criança. Obra densa de lirismo, recupera a linguagem do humanismo, da ternura, sem pieguices e moralismos.

No mesmo ano, Kátia Bento publicou, no Rio, O romanceiro de Amuia, coletânea de poemas em versos curtos, retratando sua bisavó, uma índia puri e seu bisavô, um capitão-do-mato. Em 1981, publica Bichuim, em Recife, poemas para crianças e jovens. Em 1986. O azul das montanhas ao longe, poemas. Iniciou-se na literatura em 1968, tendo publicado seu primeiro livro, Principalmente etc, no Rio de Janeiro, em 1972.

Outra escritora que se destacou escrevendo crônicas em jornal, foi Nilge Limeira, que publicou crônicas em A Gazeta, a partir de 1966, reunidas, depois, no livro As crônicas de bolso de Nilge Limeira, em 1974. Em 1981, publicou Nilge limeira e o seu canto de vida, com crônicas, poemas e reflexões sobre a vida.

Yvonne Diniz Miguel, que havia estreado na literatura em 1934, publica peças de teatro, O amor que redime, Martíres e poemas: Poeira de sonhos, 1969 e Simplesmente poesia, 1978.  Sua poesia. conforme Walter Siqueira. "Não tem compromissos estéticos" (In: prefácio a Simplesmente poesia. Vitória: 1978. (p. 5). É uma poesia sentimental, dedicada à família e aos sentimentos cotidianos. Possui inéditos romances e contos.

Em 1974, a extinta Fundação Cultural do Espírito Santo publica poesias selecionadas em concurso realizado em 1973, obra intitulada Poetas do Espírito Santo. Nela, há poemas de Bernadette Lyra, Carmem Lúcia Có, Maria Ângela de Oliveira Pellerano e Rita de Cássia Fernandes Rosa, cujos textos refletem a angústia e o vazio existencial predominantes naqueles anos negros de repressão e falta de liberdade. Em outra antologia, publicada pela FCES, em 1979, de contos premiados, há a presença de Miriam Leitão, Bernadette Lyra e Carmem, Schneider Guimarães, esta última com várias obras premiadas e atualmente presidente da Academia de Letra Femininas de Minas Gerais

 

Fonte: Literatura do Espírito Santo: uma marginalidade periférica, 1996, Vitória/ES
Autor: Francisco Aurélio Ribeiro
Capa (execução eletrônica): Renato Costa Neto e Luiz Alexandre Mess
Ilustração: Attílio Colnago
Editoração Eletrônica (texto): Antonio Gil e Alexandre Moraes
Revisão: Reinaldo Santos Neves
Agradecimento especial: Idelze Maria Vieira Pinto
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2021

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