Ouro e Açúcar

A maioria das capitanias foi entregue a pessoas de recursos médios, sem alto crédito financeiro que lhes desse condições de montar engenhos que ao produzirem, oferecessem, pelo menos a médio prazo, retorno no investimento propício ao pagamento das dívidas contraídas. Foi o caso do nosso capitão. Vendeu tudo que tinha para angariar dinheiro. Chegou a renunciar a uma tença recebida mensalmente do Erário para em troca obter de sua majestade uma caravela com artilharia e farta munição. Na mesma situação estavam outros donatários, exceção feita para as capitanias de São Vicente e de Pernambuco, respectivamente de Martim Afonso de Souza e de Duarte Coelho, que prosperaram. Seus donatários, além de serem muito ricos, possuíam elevado crédito junto às classes dominantes do comércio no Reino e fora dele. Já Vasco Fernandes Coutinho não era um homem rico, de amplos recursos como os seus colegas de Pernambuco e de São Vicente. Logo, só mesmo um forte motivo poderia induzi-lo a protagonizar uma missão tão espinhosa, na qual colocava em risco todos os bens que possuía, sujeitando-se também ao perigo de perder a própria vida. Portanto, o motivo seria ouro! A esperança de enriquecimento rápido. Não foi por mera coincidência que entre os ocupantes da caravela Glória estava o espanhol Felipe Guilhem, entendido em mineração. Não se pode deixar de acrescentar que a cultura da cana e a construção dos engenhos para a produção açucareira representavam um bom investimento, pois o açúcar se destinava exclusivamente ao consumo dos europeus. Pagava-se caro para se ter o produto. A produção do açúcar, conforme estimativa da época, poderia gerar recursos financeiros iguais ou até superiores ao comércio das especiarias, tal a sua procura pelos povos da Europa. Naquela época era produzido apenas pela Sicília e pelas ilhas portuguesas do Atlântico. Para se ter uma idéia do quanto era valioso, vendia-se o açúcar em pequenas porções nas casas especializadas em venda de remédios. Valia uma fortuna, pois figurava até como dote no casamento das princesas.
Para se fabricar o açúcar, o caldo da cana era fervido em tachos e, para se obter sua purificação, adicionava-se ao suco fervente cal e clara de ovo. Na falta da clara colocava-se sangue de animal. Com a fervura, as impurezas do caldo aderiam a esses ingredientes e formavam crostas que subiam à superfície. As crostas eram retiradas e o líquido continuava a ferver até a evaporação de toda a água. Restava então uma pasta que era colocada em moldes de argila postos a secar. Quando a massa cristalizava, isto é, quando se formava o açúcar, era retirada do molde de barro com o formato de um cone parecido com um pão. Por isso era chamado de “pão de açúcar”. O morro da Urca, no Rio de Janeiro, tem este nome devido à semelhança com um dos pequenos montes de açúcar que assim eram exportados para a Europa. Aliás, o nosso Penedo, em outras épocas, tinha também o nome de Pão de Açúcar.
Fonte: VILA VELHA - Seu passado e sua gente, ano 2002
Autor: Dijairo Gonçalves Lima
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