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Personalidades do Espírito Santo - Antônio Neffa Sobrinho

Personalidade Capixaba - Antônio Neffa Sobrinho

Os fenícios deram ao comércio, no mundo antigo, uma dimensão que, até então nenhum povo havia alcançado, imortalizando-se diante da História Humana, como o povo que mais contribuiu para o progresso e a riqueza das Nações. Intrepidamente eles cortavam os mares com seus barcos indo abastecer com suas mercadorias os diversos mercados de então. E ninguém em sua época superou-os em sagacidade e tirocínio de mercadores natos e sábios.

Nos tempos mais perto de nós, os libaneses, como outros povos da região, substituíram os fenícios com uma visão insuperável de comerciar, alguns iniciando-se como mascates, sofrendo privações e economizando, até abrir uma pequena porta que, logo em seguida, alargava-se como os horizontes que eles sempre perseguiram, transformando-se em abastados e independentes comerciantes.

Esta pode ter sido a história de JOSÉ NEFFA, comerciante libanês, de sua mulher ALICE BUMACHAR NEFFA, ambos imigrantes vindos do Líbano conquistar no Novo Mundo, com seu trabalho abnegado, o prêmio da fortuna.

ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO, filho do imigrante JOSÉ NEFFA, nascido em 26 de janeiro de 1930, continuaria com seus irmãos o trabalho iniciado vitoriosamente por seus pais.

Tendo iniciado sua vida de estudante no Colégio Júlia Penna, onde fez o primário, ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO, completou o ginásio no Instituto Lafayette, no Rio de Janeiro, onde estudaram outros capixabas que venceram em vários ramos profissionais O científico ele cursou aqui mesmo, em Vitória, no Colégio Americano. Seu relacionamento com os pais foi muito bom, sem conflitos e sem choques de gerações.

Ele relata a Vitória de sua infância, bem diferente da cidade vibrante de hoje. Era um lugar em que todo mundo se conhecia, até os recém-chegados, mesmo estrangeiros logo se integravam à Comunidade e aos trabalhos da época. Estava a capital do Espírito Santo muito longe do conforto dos grandes centros urbanos, mas o que faltava em requinte era compensado pelo calor humano da boa gente capixaba. Hoje ele vê a cidade onde nasceu bem diferente. Mas faz questão de afirmar que se bem que o povo da terra continua sendo, intrinsecamente, bom e generoso, o próprio crescimento da Capital do Estado distanciou as pessoas, aumentou seus temores e sua agressividade. Acabaram-se os lugares onde todo mundo se via e confraternizava: a Praça Oito, que deu tantas crônicas de Eugênio Sette; a Praça da Independência; os cafés; os clubes cujos salões estavam sempre cheios, Vitória está parecendo Brasília, uma cidade sem esquinas, para um papo sem compromissos maiores.

TONINHO NEFFA, como é conhecido na intimidade, diz que o seu momento de maior tristeza viveu-o quando sua mãe morreu, de modo imprevisto, sem pré-aviso, marcando o fim de uma pessoa que parecia eterna: alegre, dinâmica, sem qualquer doença aparente, que nunca se queixava de nada, que parecia ter dez anos menos do que sua idade verdadeira.

Quanto a amigos, conta ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO, convivi com alguns dos grandes boêmios da época de modo fraterno, gente alegre, de bom caráter, que desfruta hoje de destacadas posições em seus ramos profissionais, podendo citar dentre tantos, Rubem Rabello, o Hélio Sarlo, o Fenelon Silva Santos e o Dante Michelini, com os quais ainda se identificava no grande calor da amizade, embora seus afazeres não lhe permita mais vê-los com freqüência.

Como TONINHO NEFFA, analisaria a si mesmo? Facilmente. Ele considera-se uma pessoa de bons sentimentos, cujo êxito em alguns empreendimentos empresariais pioneiros nunca mudaram seu caráter ou o fizeram tirar os pés do chão. Acredita que estes pequenos sucessos são frutos não somente do próprio esforço e da colaboração dos que com ele trabalham, como conseqüência também da confiança da Comunidade que acaba sempre por repudiar os maus, os vaidosos e os egoístas. Procura por isto mesmo fazer aquilo que acha justo, adequado e correto, sabendo sempre que a Comunidade é um juiz bastante severo. É preciso, pois, ter humildade necessária para também reconhecer equívocos e procurar consertá-los, nunca se considerando dono da verdade, palmatória do mundo, primo inter pares, tentando sempre transmitir aos filhos as boas lições que recebeu do seus pais e da vida, inclusive o valor do trabalho honesto.

Do mesmo modo, não pretende nunca cair em insinceridade, dizendo que, para ele todo mundo tem a mesma importância. Possui, obviamente, como ser sensível, uma escala de valores afetivos, que começa com sua família. Todavia, com sinceridade e em homenagem à verdade, acha que todo homem é muito importante no mundo para ele.

O grande anseio que ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO cultiva é o de algum dia, quando se for deste mundo, alguém dizer – sem ter estado ligado a ele ou a seus negócios – nem por questões de afeto: ELE FAZ FALTA ... Um desejo puro, somente conhecido pelos corações generosos e pelos espíritos cheios de crença e bondade.

Embora muita gente possa não acreditar, TONINHO NEFFA gosta de cozinhar e é um razoável cozinheiro. Mas nunca chegou à altura de um Ferrinho, de um Antônio Carlos Ayres e de outros mestres-cucas da Ilha.

Sua família é, e ele diz isto sempre, o principal objeto de seu afeto. É um pai que não impõe aos filhos os seus próprios conceitos, nem tenta demolir a sua individualidade. Acha horrível o pai chantagista, sempre dizendo aos filhos que se mata de trabalhar para assegurar o futuro deles. Trabalha porque gosta e se isto ajudá-los, melhor ainda.

Casado com a Sra. Maria Helena Murad Neffa, teve com ela os seguintes filhos: José Henrique Murad Neffa (22 anos); Marco Antônio Murad Neffa (20 anos); Flávia Murad Neffa (18 anos) e Lúcia Murad Neffa (16 anos).

Sua crença no trabalho leva-o a lutar para realizar as coisas que planeja, sem ferir o direito alheio. Dentro de sua filosofia simples considera que o dinheiro pode dar status e prestígio mas coloca o endinheirado na ótica mais severa de sua comunidade. Todo mundo (e ele mesmo) quer ver o mau rico cair, porque ele, tendo dinheiro não sabe usá-lo, fazendo do dinheiro apenas um instrumento de poder.

Aos que tiverem a curiosidade de saber como TONINHO NEFFA começou sua escalada para chegar a ser uma personalidade do Estado ele responde: “Admitindo, para argumentar, que eu seja realmente uma pessoa de destaque (nunca é demais lembrar que a evidência se adquire por boas ou más ações, ou por ambas), ele vem do fato de junto com meus irmãos termos sido pioneiros num tipo de comércio: com as Mercearias São José e com o primeiro Supermercado da terra. Eu seria muito feliz, contudo, se meu destaque viesse, por exemplo, da descoberta do remédio capaz de curar doença até então incurável ou a invenção de um processo para tornar os alimentos ao alcance de todas as bolsas.

Para chegar onde chegou, para progredir, ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO passou por duras lutas inquietações, os percalços da vida. Seria injusto, contudo, se não proclamasse que graças ao seu pai, José Neffa, que soube construir para o futuro, nunca teve instabilidade econômica. Da mesma forma, mostra-se grato os que o ajudaram, um elenco de pessoas a quem deve gratidão. Enumerá-los todos seria impossível, havendo sempre o risco de uma imperdoável omissão.

A sua grande ambição, diz ele, ainda não a realizou: a de ver seus filhos emancipados, lutando as suas próprias lutas, ele e sua mulher ajudando-os a criar os netos, sem maiores (nunca melhores) compromissos.

Visitou vários países e de tais andanças trouxe a impressão de que os homens, no fundo, são os mesmos, quaisquer que sejam suas raças, religiões e culturas.

Aos seus filhos deixaria uma mensagem para o futuro: TRABALHEM COM AFINCO E DIGNIDADE. NÃO PERMITAM QUE O DINHEIRO OS CEGUE.

Completaríamos a filosofia de ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO, com as palavras do Papa João Paulo II, ditas durante em sua visita ao Brasil: “O homem não pode abdicar de si mesmo, nem do lugar que lhe compete no mundo visível: o homem não pode tornar-se escravo das coisas, das riquezas materiais, do consumismo; o homem não pode prescindir da transcendência – amputação no seu ser total: o homem, enfim, só poderá encontrar a luz no seu mistério, no mistério de Cristo”.

Temos certeza, plena e absoluta, que algum dia quando embarcar numa fenícia para navegar em direção à eternidade, ANTÔNIO NEFFA SOBRINHO sentir-se-á feliz, porque os que aqui ficaram dirão aquilo que ele mais desejará, então, ouvir: - ELE FARÁ FALTA...

 

Fonte: Personalidades do Espírito Santo. Vitória – ES. 1980
Produção: Maria Nilce
Texto: Djalma Juarez Magalhães
Fotos: Antonio Moreira
Capa: Propaganda Objetiva
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2020

Personalidades Capixabas

Eurico de Aguiar Sales

Eurico de Aguiar Sales

Eurico de Aguiar Sales nasceu em Vitória em 24 de agosto de 1910, filho de Clímaco Sales e de Ocarlina de Aguiar Sales

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