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Roberto Anselmo Kautsky

Roberto Kautsky

O povo europeu sempre foi um ferrenho defensor do verde, certo de que a preservação vegetal representava a sua própria sobrevivência. Como o escritor THOMAS MANN disse certa vez, "A NATUREZA ESTREMECE DE PRAZER QUANDO O ESPÍRITO SE CURVA EM ADORAÇÃO PERANTE A BELEZA!" Os europeus, como a maioria dos povos asiáticos, sempre pensaram como o citado escritor, de modo mais objetivo e mais prático: PARA ELES, DO EQUILÍBRIO ECOLÓGICO DEPENDIA A PRÓPRIA SEGURANÇA DA CIVILIZAÇÃO.

Os tempos atuais serviram para mostrar a dramática realidade de tais transformações. A natureza fez do Homem um privilegiado para ter nele um extasiado aliado e um amoroso preservador, mas ele acabou por se transformar num criminoso destruidor e num odioso depredador.

Os amantes da natureza constituem hoje uma sensível minoria atuante, lutando bravamente em defesa do meio-ambiente e das espécies vegetais mais raras ainda existentes, sob o perigo de extinção.

No meio desta minoria consciente e decidida está um descendente de imigrantes austríacos, nascido em Santa Izabel, Domingos Martins, no dia 23 de maio de 1924: ROBERTO ANSELMO KAUTSKY, industrial e orquidófilo. Ele é filho do casal Roberto Carlos Kautsky e Dona Elizabeth Schwambach Kautsky, sendo casado com a Sra. Mercedes Majevsky Kautsky.

Fez o curso "Técnico Agrícola", na Escola Agrotécnica de São José de Petrópolis, em Santa Teresa, falando corretamente o alemão. Ainda em sua fase de estudante, fez estágio técnico de aperfeiçoamento na Escola Superior de Agronomia em Viçosa, Minas Gerais.

É o único brasileiro que pode se orgulhar de ter descoberto 30 espécies raras de orquídeas, dentre as quais 12 levam o nome de "KAUTSKYI" e as duas principais: CATTLEYA SCHMILLERIANA, de 3 labelos, "MEMÓRIA ROBERTO KAUTSKYI" (único exemplar no mundo) e a "LELIA KAUTSKYI". Orquidófilo internacional, ROBERTO KAUTSKY tem suficiente material escrito para publicar um livro, mas só o fará quando se aposentar de suas atividades comerciais e industriais. Enquanto isto não acontecer, fica satisfeito com a participação que tem dado neste campo, principalmente o material que forneceu para a edição alemã do livro "ORCHIDACEA BRASILIENSE", tais como: plantas novas, condições ecológicas, época de floração, fotos em branco e preto e coloridas etc. Este livro, autêntico "dicionário", foi escrito por amigos residentes no Brasil: Fritz Dungs (alemão) e Guido Pabst, botânicos e estudiosos de orquídeas. Lamentavelmente, com a morte do Dr. Fritz Dungs, perdeu o Brasil um grande cientista, porém a sua participação foi atuante de tal modo que por muitas gerações suas descobertas e experiências serão estudadas e aplicadas. Para ROBERTO KAUTSKY a morte do amigo foi um rude golpe e até hoje lhe dedica "HONRA AO MÉRITO", em seu nome e em nome dos orquidófilos brasileiros.

Embora ainda não tenha escrito o seu livro, sempre que pode colabora com os colegas, pois foi assim que o seu nome foi difundido mundialmente, não somente pelos que vieram a conhecer seu trabalho mas, também, por Mr. Doran, grande sumidade no assunto e especialista em Amarilis, assim como em quase todas as revistas inerentes, nacionais e internacionais. Dentre os inúmeros estrangeiros que o visitam, japoneses, austríacos, italianos, alemães, americanos — incluindo estudiosos brasileiros — destaca ROBERTO KAUTSKY, o famoso editor Dr. J. A. Fowlie, da revista "Orchidea Digest", de circulação mundial, que manifestou profunda surpresa, tendo ficado maravilhado com o que viu em Campinho, no orquidário de KAUTSKY, o mesmo tendo acontecido com o Dr. Gustav Shoser, diretor do famoso e encantador Palmen Garden, de Frankfurt, Alemanha.

ROBERTO ANSELMO KAUTSKY, afirma que, passados os anos, serão encontrados no seu orquidário natural, espécies das mais variadas regiões do mundo, porque, das permutas que faz, semeia-se no meio-ambiente, o que tornará o seu parque, indiscutivelmente, sui generis. Ele agradece a duas pessoas o incentivo que lhe deram para que se tornasse um especialista em orquídeas e um amante da natureza: seu pai, amador no cultivo de plantas e sua querida mestra Dona Maria Stella de Novaes, ilustre e emérita filóloga e erudita dama da sociedade, que ministrou-lhe os primeiros ensinamentos no cultivo de orquídeas.

Mas nem só de orquídeas tem vivido ROBERTO ANSELMO KAUTSKY. Sua indústria de refrigerantes, outrora embrionária e movimentada por seu pai, era o vinho de laranja. Com seu Curso de Agricultura realizado em Santa Teresa, voltou com nova visão e com a ausência de seu pai, ele e Elberto, seu irmão, introduziram os refrigerantes que, industrialmente e financeiramente substituíram em muito os já famosos vinhos de laranja, hoje ainda procurados mas não fabricados.

Filantropo, ROBERTO ANSELMO KAUTSKY faz questão de engrandecer publicamente a grande conquista do seu Município, na pessoa do Pastor Evangélico Carl Ernest Schneider, conseguindo implantar um completo conjunto hospitalar, através da Evangelische Zentrastelle Zur Entwick Lungshilfe E. V. D53 Bonn Bad Godesberg Mitteltrasse, 37, Alemanha. Este hospital, leva o nome do Dr. ARTHUR GERHARDT, contando com 85 leitos, doado pelo povo alemão com 75% das verbas, sendo os restantes 25% doados pela Municipalidade, doação somente possível, graças à interferência do Embaixador Alemão ENRENFRIED HOLLEBEN, quando de sua visita ao Município de Domingos Martins, em 1968. A doação equivale a 9 milhões de cruzeiros. ROBERTO ANSELMO KAUTSKY preside a equipe que está construindo o referido hospital, cujo trabalho tem sido permanente e incessante.

Filho de pai austríaco, ROBERTO ANSELMO KAUTSKY herdou suas qualidades de emérito trabalhador. Sua vida comunitária se estende a vários setores. Seu pai nasceu 78 anos atrás, em Viena, capital da Áustria, a romântica terra das imortais valsas de Strauss, no distrito político católico de Kronland, deixando, ao falecer, muitas saudades. Sua mãe, Dona Elisabeth Schwambach Kautsky muito colaborou para ele ser o que hoje é.

Uma das pessoas que merecem o respeito e a amizade de ROBERTO KAUTSKY é o seu irmão, Diretor-Gerente da firma de refrigerantes sediada em Campinho de Santa Isabel, em Domingos Martins. Ele ajudou muito o crescimento da fábrica e sua produção, sendo a pessoa de maior confiança do Presidente da empresa. ELBERTO CARLOS KAUTSKY é casado com a Sra. Alair Koehler.

Depois de muitas andanças tentando a sorte em vários locais do Estado, a família KAUTSKY chegou a Campinho, onde seus pais abriram um Hotel, que, diga-se de passagem, era muito freqüentado por viajantes do Rio de Janeiro, que traziam seus mostruários em lombos de burros, dos quais Roberto cuidava. Além desta tarefa também ajudava a mãe no Hotel servindo como garçom. Já rapaz, seu ideal era ser engenheiro. Arranjou, por intermédio de um amigo, trabalho em Vila Velha, com o Dr. Pahn, na extração de areia monazítica e, nas horas de folga, aprendia a arte fotográfica com o Sr. Alberto Lucarelli, que muito o ajudou.

De volta a Santa Isabel, onde seu irmão Antônio morreu prematuramente com 7 anos de idade, vítima de hepatite, ROBERTO ANSELMO KAUTSKY procurou auxiliar seus pais que passavam privações, abandonou os estudos, e tomou a frente com muito sacrifício da pequena casa comercial fundada por sua família em 1919, ampliando-a. Independente disto, construiu uma charrete puxada a burro e com ela transportava passageiros entre a Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, Santa Isabel e Campinho. Bafejado pela sorte, começou merecidamente a prosperar. Casou-se, então, em 19 de julho de 1922, de cuja união nasceram os filhos Roberto Anselmo, Rita e Elberto Carlos (fusão dos nomes da mãe e do pai). Em Domingos Martins, onde tudo estava praticamente por ser feito, ele foi tropeiro, agricultor, fotógrafo, enfermeiro, farmacêutico, proprietário de veículo de transporte, juiz de paz, vereador, Presidente da Câmara Municipal, comerciante, floricultor, orquidófilo e industrial. Embora tenha sido inúmeras vezes solicitado, não quis aceitar sua indicação para a Prefeitura do Município. Em 27 de janeiro de 1922, com o apoio do Presidente da Câmara, Sr. Pedro Guimarães e, juntamente com o Sr. Francisco Christ, fez o serviço de água em Santa Isabel, tornando-se uma espécie de líder do lugar. Tomou conta da iluminação pública a querosene, foi cobrador da luz da Central Brasileira (hoje ESCELSA), funcionando também em sua casa a Agência dos Correios. ROBERTO KAUTSKY foi ainda organizador da banda de música local.

O fato de ter escolhido o nome "Coroa" para os seus produtos, deve-se à situação do seu avô paterno, Alexandre, ferroviário, servidor do Imperador Francisco José, que governou a Áustria durante 60 anos. Alexandre era encarregado de fazer os pergaminhos para o lançamento de pedras fundamentais das obras e, como a Coroa é o símbolo da realeza, isto serviu-lhe de inspiração ao pai, fabricante do já citado e famoso vinho de laranja, a optar por aquele símbolo como marca. E o nome "Coroa" permanece até hoje, no rótulo dos refrigerantes fabricados por seu filho.

Atualmente as indústrias KAUTSKY empregam 90 operários diretos e mais 50 autônomos. Ocupa uma área de 2.500 m2 e é a maior do Município. Expandindo seu negócio, ele vai instalar uma enchedora de garrafas com capacidade para produzir 24 mil unidades de refrigerantes por hora. Entre os colaboradores que ele mais destaca estão, Elberto (seu irmão), sua mãe Elizabeth, Alfredo Bautz (40 anos de colaboração), Domingos Klein (in Memoriam), Eduardo Schneider, Nelson Mayer, Aurélio Ewald, Erival Christo, Durvalino Bermond, Dr. Victor Silva Jr., Euclides Colnago, Renato Almeida Santos, José Lopes e muitos outros. As vendas das indústrias KAUTSKY atingem o Espírito Santo todo, parte dos Estados da Bahia, Minas Gerais e RIO DE JANEIRO, sendo pensamento atual da empresa exportar seus produtos.

ROBERTO ANSELMO KAUTSKY possui os seguintes Títulos, Honrarias, e Diplomas: Título no Grau de Comendador "Legião do Mérito Presidente Antônio Carlos", outorgado pelo Instituto Internacional de Heráldica e Genealogia, em 12 de junho de 1977; Medalha Cívica e Cultural "Diogo Antonio Feijó" — Regente Feijó, na classe Ouro expedida em 1° de agosto de 1977; Ordem do Mérito das Belas-Artes no Grau de Grande Oficial, pela Ordem em questão em 28 de abril de 1978; Diploma por ter participado da Primeira Exposição de Orquídeas realizada em Vitória em 1967; várias taças e medalhas obtidas em 15 exposições de orquídeas; Título de Cidadão Vitoriense, concedido pela Câmara Municipal de Vitória no ano de 1966; Personalidade Espírito-Santense de 1977, concedido pela Divisão de Turismo de Vila Velha em 21 de maio de 1977; Diploma da 34ª corrida do "Fogo Simbólico da Pátria", em 17 de julho de 1971; Trabalhos realizados: aulas sobre botânica (orquídeas) e ecologia no Ginásio Domingos Martins; obras a serem publicadas: em fase final de elaboração, trabalho sobre a dispersão das orquídeas no Estado do Espírito Santo, onde existem cerca de 700 espécies (sendo a região mais rica do Brasil e talvez do Mundo).

Participou, ou ainda participa, das seguintes Instituições, Órgãos, Sociedades: Vice-Prefeito de Domingos Martins (candidato mais votado com 95,9% dos votos pela ARENA; Presidente da Fundação Hospitalar e Assistência Social de Domingos Martins; Membro da Direção da Associação Pró-Melhoramentos de Marechal Floriano; Presidente da Sociedade Pró-TV de Domingos Martins; Vice-Presidente da Diretoria da Igreja Católica de Campinho; Membro da Diretoria do Ginásio de Domingos Martins; Membro do Diretório da ARENA; Membro da Diretoria do Esporte Clube Campinho (Futebol); Membro da Diretoria da Banda Musical de Domingos Martins; Sócio do Centro Cívico Recreativo de Domingos Martins; Sócio da Caixa da Cobra de Domingos Martins; Membro do Conselho da Federação das Indústrias do Espírito Santo; Membro do Sindicato das Bebidas e Cerveja do Espírito Santo; Presidente da Sociedade Capixaba de Orquidófilos; por motivos de saúde declinou o convite para integrar o Rotary Internacional e o Lyons Clube.

Para ROBERTO ANSELMO KAUTSKY, "a honestidade foi e será sempre a arma decididamente mais forte para todas as lutas da humanidade que vive e progride". Em sua simplicidade, consciente do valor do que viveu e realizou, ele talvez sinta e justifique um célebre pensamento de Bernard Shaw: "Há pessoas que estão sempre atribuindo às circunstâncias aquilo que elas são. Eu não acredito nas circunstâncias. As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam"

ROBERTO KAUTSKY, parece-nos, soube criar todas as circunstâncias de que precisava para progredir e se engrandecer.

 

Fonte: Personalidades do Espírito Santo. Vitória – ES. 1980
Produção: Maria Nilce
Texto: Djalma Juarez Magalhães
Fotos: Antonio Moreira
Capa: Propaganda Objetiva
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020

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