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Rua Moniz Freire (ex-rua da Assembléia)

Rua das mais antigas de Vitória. O primeiro caminho situava-se entre o largo da Misericórdia e o de Santa Luzia

Rua das mais antigas de Vitória. O primeiro caminho situava-se entre o largo da Misericórdia e o de Santa Luzia. Depois esse caminho recebeu o nome de rua da Assembléia, visto que ali funcionava a Assembléia Legislativa, em sólido e amplo edifício que, após, serviu, por muitos anos, de Fórum, sendo demolido em 1964, para, no local, ser construído o Palácio da Justiça.

Na revolta da 1842, em São Paulo, com a tomada de Sorocaba pelo Barão de Caxias, teve fim o conflito, encontrando-se, entre os vencidos, o padre Antônio Feijó, então preso. Conduzido à capital daquela província, e depois a Santos, foi dali embarcado para o Rio de Janeiro, de onde, com o senador Campos Vergueiro, passou para o brigue Andorinha, da Marinha de Guerra, sob a escolta do capitão-tenente Antônio José Teixeira da Paixão, chegando, dia 25 de junho, a Vitória.

Residiram os referidos políticos no sobrado n° 5 da rua da Assembléia (hoje Moniz Freire), casa que recebeu, por algum tempo, a alcunha de "fatídica", em conseqüência de uma série de acidentes e adversidades que, a partir dessa época, sofriam seus inquilinos.

Sabe-se que, durante a permanência do padre Feijó em Vitória, esteve o mesmo, também, refugiado na Fazenda de Jucutuquara, na casa-grande (agora Museu Solar Monjardim), assim como sabido ter passado dias no Convento da Penha, onde celebrou missas.

Feijó regressou ao Rio de Janeiro, em dezembro do mesmo ano, na sumaca Flor da Vitória, acompanhado pelos padres Matias Pinheiro Furtado, Manoel de Freitas Magalhães e frei José de Santa Helena, tendo, então, no Senado, onde logo se apresentou, pronunciado minucioso discurso de defesa.

Na rua da Assembléia foram construídos, além da referida Assembléia Legislativa, outros sobradões, quando em Vitória, as casas, de modo geral, eram baixas, tendo eu conhecido muitos deles, já que a rua custou a modernizar-se, tanto que, até os anos 30, mantinha parte de seu calçamento original, em pé-de-moleque. O sobrado da família O'Reilly, dos mais antigos da rua, já então fora do alinhamento, era de três andares, tinha mirante, e, quando o freqüentei, funcionava, no andar térreo, o consultório da dentista Eurídice O'Reilly, a primeira mulher capixaba a diplomar-se em Odontologia, no Rio de Janeiro.

Nessa artéria instalou-se, em 1913. o Ginásio São Vicente de Paulo, propriedade dos irmãos Barbosa Leão (Miguel, Aristóbulo e Kosciuszko), em prédio onde residiu Moniz Freire, nela, também, a Maçonaria construiu, em 1872, a Loja União e Progresso, ainda em funcionamento, se bem que em imóvel mais recente, tendo funcionado em suas dependências térreas, a partir de 14 de dezembro de 1877, um liceu, de duração efêmera. Da sacada dessa Loja, quando da extinção da escravidão no Brasil, Francisco Escobar de Araújo, em vibrante discurso, comunicou à população, na noite de 13 de Maio de 1888, a grande vitória dos abolicionistas.

Dos moradores desta rua, já neste século, se destacavam os Beiriz, os Borges, os Barbosa, os Assumpção, os irmãos solteirões Silvano e Silvana, o Dr. Ubaldo Ramalhete Maia, pai do jurista Clóvis Ramalhete, os Rocio, os O'Reilly, D. Perpedigna Onofre Coutinho, o Sr. Santos Junior, pai da Sra. Jurema Barroso e avô do oficial da Marinha de Guerra Waldir Barroso e do engenheiro civil Wilmar Barroso, as professoras Colatina Mascarenhas e Suzette Cuendet, que hoje dão nome a importantes estabelecimentos de ensino do Estado, os Marcondes de Souza, os Cerqueira Lima, os jouffroy, o capitão José Francisco Ribeiro, pai da Senhora Leocádia Escobar, que, ainda em 1907, dirigia a orquestra do Sagrado Coração de Jesus, da Catedral, também a família do desembargador João Manoel de Carvalho. O Dr. Luiz Jouffroy, tenor admirável, era dos que animavam os serões musicais de Vitória, recebendo muitos aplausos modulasse qualquer das peças de seu vasto repertório, sendo que uma das suas filhas. Maria Cecília Jouffroy, era tida como a moça mais bela da Cidade Alta.

Infelizmente, a rua se desfigurou, as fachadas de suas casas foram modernizadas, os telhados substituídos por outros de telhas francesas, de Marselha, conservando apenas esta ou aquela casa suas características primitivas, mas, ainda assim, o Conselho Estadual de Cultura decidiu, há dois anos, tombar alguns desses imóveis, ato que não mereceu consideração por parte do Tribunal de Justiça, que os mandou demolir, para, no local, construir outras de suas dependências.

Moniz Freire, hoje rua de trânsito movimentado. não mais recorda, portanto, aquela que por onde o autor costumava passar, quando menino e adolescente, atraído, muitas vezes, pela presença de Rainha das Flores, tipo popular dos mais curiosos, que ali "freqüentava algumas casas, / onde tomava café, / onde cheirava rapé. / Sentadinha, nas saletas. / dava a seus sonhos mais asas".

O patrono da rua, José de Mello Carvalho Moniz Freire, nasceu em Vitória, a 13 de julho de 1861. Concluídos seus estudos de humanidades no Ateneu Provincial, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, transferindo-se, em 1880, para a de São Paulo, onde se bacharelou em 1881. No ano seguinte, casado com D. Colatina Soares d'Azevedo,  que viria, mais tarde, emprestar seu nome à progressiva cidade de Colatina, retorna ao torrão natal, iniciando intensa atividade advocatícia e jornalística. Funda, com o concurso do senador Cleto Nunes, o jornal Província do Espírito Santo, primeiro diário que teve a província, depois circulando com o título — Estado do Espírito Santo. Ingressando na política, foi eleito deputado à Assembléia Provincial de 1884 a 1889 e, neste último ano, volta a representar sua terra, como deputado geral, reelegendo-se, logo após, à Constituinte de 1890. Elevado à presidência do Estado, no quadriênio 1892/ 96, ao término de seu mandato, recebe a missão de representar o Espírito Santo como delegado geral, em Paris, de 1897 a 1899, sendo que, ao retornar ao Brasil, reelege-se presidente do Estado (1900 a 1904). Eleito e reeleito senador pelo Espírito Santo, cargo que ocupou de 1906 a 1915, sempre com o maior brilhantismo. Publicou: A Vitória através de meio século. 1885: Cartas ao Imperador, 1885: A Constituinte de 1892; Minha terra, discurso proferido na inauguração da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, 1893: A Caixa de Conversão, 1910: Pela política do Brasil; Existência política dos estados e O Conde Monteiro e seus feitos, 1912. Faleceu no Rio de Janeiro, a 3 de abril de 1918.

Fonte: Logradouros antigos de Vitória, 1999
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2014

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