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Um Parque Atraente - Por Ormando Moraes

Parque Moscoso - Coreto, onde a Banda da Polícia Militar fazia retretas aos domingos

Procedente de Cachoeiro, em 1936, com apenas 20 anos, cheguei a Vitória pelo misto da E. F. Leopoldina (passageiros e cargas), em busca de um lugar ao sol, como professor primário e/ou secundário.

Relembro, com saudade, a pacata capital daquela época que, além das atividades portuárias, era pouco mais que "uma ilha de funcionários públicos, cercada de água por todos os lados".

Mas tinha encantos que não mais se encontram: os bondinhos, as regatas, os jogos de basquete ali no centro, mais ou menos onde é hoje a Caixa Econômica da avenida Jerônimo Monteiro, os velhos bares, as gostosas e sensuais festinhas nos bairros, que eram praticamente apenas Jucutuquara, Santo Antônio, Praia do Suá e Praia Comprida, onde o mar ia até as castanheira e havia poucas ruas e casas.

Camburi era um matagal desabitado, sem ligação por ponte com a ilha, Bento Ferreira era quase só mangue com a ilha de Santa Maria e ainda não havia o aterro do Suá, nem o da Esplanada Capixaba, pois as águas da baía chegavam perto do Edifício Glória, do prédio da FAFI, do velho mercado, até se encontrarem com a base do morro do Forte de São João. Portanto, não havia a avenida Princesa Isabel nem a Beira-Mar.

No centro urbano, os principais pontos de atração eram o Parque Moscoso, a Rua Duque de Caxias, do meretrício mais popular, que jovens como eu, com muito medo, só frequentavam de longe em longe e a Praça Costa Pereira, onde, das 7 às 10 da noite, as mocinhas em flor se exibiam num desfile contínuo pela calçada, circulando sempre no mesmo sentido, e os rapazes o faziam em sentido contrário, ou permaneciam parados no meio-fio, para lançar suas piadas e seus gracejos na direção da garota desejada, que às vezes davam certo.

O objetivo desta crônica, porém, é o Parque Moscoso, que, segundo a historiadora Maria Stella de Novaes, foi projetado e construído no governo de Jerônimo Monteiro e inaugurado a 19 de maio de 1912, passando a ser o ponto principal de atração da modesta capital da época.

A extensa área ocupada pelo Parque, antes denominada Campinho, era formada por mangues e alagadiços, que foram aterrados por um método prático e curioso, muito próprio da época.

A propósito, minha tia Iracema, esposa do conhecido professor Arnulpho Mattos, residentes nas imediações, contava-me que, no aterro da área em 1910, os burros iam e vinham com suas carroças, sem carroceiros para guiá-los. Nas abas dos morros próximos, trabalhadores braçais, com suas pás, enchiam as carroças de terra e davam uma chicotada no animal que disparava no sentido do aterro, onde, após a descarga por outros trabalhadores, levava outra chicotada e retornava paciente ao ponto de carregamento, e a cena se repetia o dia todo.

Logo após a construção do Parque, as ruas em torno e as próximas passaram a ser os locais preferidos para residência pelas famílias da elite vitoriense.

Quando cheguei em Vitória em 1936, o Parque era todo aberto, e além da rica arborização, dos gramados e jardins e dos lagos artificiais, tinha apenas ao centro um bonito coreto, onde a Banda da Polícia Militar fazia retretas aos domingos e feriados e atraía muita gente, inclusive mocinhas pobres e empregadas domésticas, porque as mais ricas iam para a Praça Costa Pereira.

Contornavam o Parque Moscoso, as avenidas República e Cleto Nunes, em cujas esquinas se situavam o Cine Politeama, um "poeira" de baixíssima categoria, mas muito frequentado, e o Clube Vitória, e as ruas 23 de Maio e Padre Anchieta, onde, mais tarde, o mesmo clube construiu sede própria.

Outras instituições importantes nas imediações eram a Polícia Militar com seu quartel na praça Misael Pena, o Colégio Americano Batista, que continua no mesmo local, e o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, com sede em prédio no final da avenida República, em cujo primeiro pavimento funcionou também, durante alguns anos, a Cooperativa de Consumo dos Servidores do Estado. Tal prédio foi inadvertidamente demolido para dar lugar ao atual espigão denominado Edifício Domingos Martins.

Após as décadas de 30 e 40, o Parque Moscoso recebeu vários melhoramentos, como as grades metálicas que o protegem do intenso movimento nas ruas que o circundam, a Concha Acústica, o Jardim de Infância Ernestina Pessoa, a Capela Católica e algumas instalações esportivas para crianças, iniciativas de várias administrações estaduais e/ou municipais, entre as quais as de Jones Santos Neves, Setembrino Pelissari e Crisógono Teixeira da Cruz.

Hoje o Parque Moscoso não tem mais a grandeza de outros tempos: é um pulmão muito pequeno para os grandes espigões que o cercam indiscretamente e o sufocam, e para a densa população das imediações. Mas, ainda assim, representa uma grande atração para crianças e adultos e é um importante ponto de referência em nossa capital.

 

 

Fonte: Escritos de Vitória nº 6 - Parque Moscoso, PMV e Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, 1994
Autor do texto: Ormando Moraes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2022

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