Vasco Fernandes Coutinho - Parte II
Hostil foi o primeiro contato entre brancos e índios, verificado por ocasião da chegada à capitania, em 23 de maio de 1535.
Afugentado o gentio com disparos de armas de fogo, lança-se o capitão às providências iniciais da implantação da donataria, estabelecida a princípio na atual cidade de Vila Velha, nas proximidades da praia.
O batismo da terra, denominada Espírito Santo – estava-se no dia dedicado pela Igreja a terceira pessoa da Santíssima Trindade – a construção das obras de defesa, a distribuição de sesmarias aos colonos, a edificação da igreja, formam entre as medidas tomadas inicialmente.
Com vagar, outras providências vieram. Destaque-se o trabalho, nem sempre bem sucedido, de aliciamento do índio rebelde e a criação de engenhos e moendas.
Não foram de todo desfavoráveis os primeiros anos de atividades no E. Santo, malgrado à insuficiência numérica dos colonos e dos recursos disponíveis. O que foi possível fazer se fez diligentemente.
Houve percalços, lutas, desinteligências, atritos, dificuldades a vencer, ameaças de crise. Mas também intervieram a favor do donatário os golpes da sorte, como sucedeu, por exemplo, quando da chegada de Duarte de Lemos, proveniente da capitania da Bahia.
Fidalgo da Casa Real, o recém vindo era homem disposto e enérgico, apesar de ambicioso, interesseiro e desleal. Esta deslealdade se evidenciaria alguns anos depois, quando já afastado do E. Santo, intrigou Vasco Fernandes com o Rei, em carta de 1550, enviada ao Reino, da capitania de Porto Seguro, onde se achava.
No momento, porém, de sua chegada ao E. Santo, revela-se auxiliar eficiente e arrojado, destacando-se nos combates aos silvícolas aguerridos, tormento constante. Como retribuição pelos serviços prestados não tardaria o capitão em lhe conceder a melhor ilha dos seus domínios, então chamada de Santo Antônio, e onde seria, posteriormente, instalada a sede da capitania. Neste gesto de reconhecimento pela cooperação valiosa recebida do companheiro na hora do perigo, patenteia-se um dos traços do caráter de Vasco Coutinho: a generosidade.
Impulsivo e confiante, deixando-se talvez levar pelas impressões momentâneas, o tempo se encarregou de mostrar o quanto fora precipitado na oferta feita a Duarte de Lemos.
Confrontando as personalidades desses dois vultos que marcam a crônica dos tempos heróicos de nossa formação histórica, escreve Malheiro Dias: “Estes dois homens são a antítese um do outro. Em contraste com o cavalheirismo pródigo de Coutinho, Duarte de Lemos é um ambicioso a frio, calculador e intrigante.”
Em 1540, Vasco Fernandes Coutinho se acha em Portugal. Na mesma época, lá se encontra Duarte de Lemos em cujo favor, aproveitou-se a ocasião, para passar escritura de doação da Ilha de Santo Antônio.
Acredita-se que a viagem do donatário à Metrópole prendeu-se à necessidade imperiosa de obter novos recursos em homens e provisões para prosseguimento da obra colonizadora.
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 21, ano 1961
Autor: Luiz Guilherme Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril /2013
GALERIA:
Vasco Fernandes Coutinho foi fidalgo da Casa Real portuguesa, segundo registro do próprio D. João III, na carta de doação e no foral da capitania que seria a do Espírito Santo
Ver ArtigoNuma tentativa última de se pôr cobro às incursões dos selvagens, e visando aproveitar os meios naturais de defesa, transferiu a sede para a Ilha
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