Venezuela e a Americana U.S. Steel Corp
O descobrimento de jazidas de minério de ferro na Venezuela, verificou-se em 1926, graças aos trabalhos de um cidadão venezuelano. Este obteve as concessões das jazidas, então descobertas, na margem direita do rio Orinoco. Em 1933, essas concessões foram adquiridas pela Bethlehem Steel Corporation, a segunda companhia produtora de aço americano.
Tanto o Governo Venezuelano, como os geólogos que faziam pesquisas no país, consideravam, como única zona possível de minério de ferro, a região que se estendia ao Sul do rio Orinoco, limitada entre o rio Caroni, afluente do Orinoco, e à costa do Atlântico.
Essa região foi considerada, pelo Governo Venezuelano, como zona de Reserva Federal, colocando-a sob o domínio governamental. Os direitos de exploração de jazidas, nessa área de Reserva Federal, só são conferidos pelo Governo mediante pedido de concessões. São válidos por 40 anos e dados com certo número de restrições. Nas áreas fora dessa Reserva Federal, há o regime de manifestos, amparados com o privilégio de 100 anos, concedido a qualquer pessoa que, em primeiro lugar, registrar a área desejada. Essas concessões, por manifestos, são outorgadas sem qualquer vantagem especial para o Estado.
Era exatamente na zona a Oeste do Rio Caroni, fora da Reserva Federal, que se encontrava a colossal reserva de minério da Venezuela. Esta zona era considerada pelo Governo, pelos mineradores e pelos geólogos, como não contendo minério de ferro.
A United States Steeel Corporation, que desde 1945, vinha fazendo pesquisas e obtendo concessões de jazidas, na zona da Reserva Federal, resolveu, em princípios de 1947, proceder a estudos aéro-fotográficos utilizando-se das fotografias aéreas do país, que o exército americano, em 1945, havia tirado para o Governo Venezuelano. Este permitiu que as fotografias fossem enviadas aos Estados Unidos, onde foram examinadas pelos geólogos, os quais se interessaram por duas montanhas a Oeste do rio Caroni, entre as quais se acham La Parida, hoje conhecida como Cerro Bolivar. Localizadas que foram essas montanhas, deu-se imediata utilização do serviço de um técnico em magnetometria, encarregado do trabalho geofísico, o qual registrou análises excepcionalmente elevadas. A área deveria ser manifestada imediatamente e foi por isso examinada pelo magnetômetro, para serem determinados o seu controle e as suas limitações. Tudo isso foi feito num máximo e absoluto sigilo. No espaço de 3 dias, o engenheiro encarregado de obter os dados necessários ao registro do manifesto penetrou 60 quilômetros pela selva, à procura das montanhas, e regressou de posse de todos os dados necessários ao manifesto. Era indispensável essa medida sigilosa, porque o manifesto era concedido a quem primeiro requeresse o seu registro.
E foi assim que, em abril de 1947, aquela Companhia fez o manifesto das jazidas do Cêrro Bolivar, obtendo o privilégio de exploração pelo prazo de 100 anos, sem qualquer restrição. As reservas prováveis do minério de ferro, com teor médio de 59%, dessa concessionária, são estimadas em mais de 1 bilhão de toneladas. Ela fará a extração e promoverá a exportação livremente. Construirá estradas e portos exclusivamente para o transporte e embarque de toda a produção — sem qualquer obrigação de transportar outras mercadorias que não sejam para o seu uso.
As inversões a serem feitas na Venezuela são formidáveis.
A Bethlehem, que tem reservas avaliadas em. 60.000.000 de toneladas, está com as suas obras quase concluídas. Com um dispêndio de US$ 50.000.000, isto é, 1 bilhão de cruzeiros, espera exportar anualmente cerca de 2.400.000 de toneladas, a começar de 1951.
A United States Steel, ainda não organizou os seus projetos definitivos. Pelo que foi publicado, sabe-se, no entanto, que, quanto aos meios de transporte do minério, das minas ao litoral, há dois projetos. Um deles consiste na construção de uma ferrovia ligando Cêrro ao porto de Barcelona com a extensão de 274 milhas, ou sejam 438 km. As despesas seriam de US$ 113.000.000, isto é, Cr$ 2.600.000.000, ou sejam. Cr$ 5.200.000 por km. O segundo projeto consiste em construir uma estrada de 91 milhas, ou 146 km, dragagem e canalização do rio Orinôco para a passagem de grandes navios transatlânticos. As despesas seriam as seguintes:
Os percursos marítimos entre a Venezuela e os portos de Baltimore e Montreal são, respectivamente, de 2.120 e 2.275 milhas marítimas.
É provável que em 1955 comece a ser embarcado o minério da Venezuela, procedente de Cêrro Bolivar. Espera-se que a produção possa atingir até 15.000.000 de toneladas, por ano. O investimento total para essa exploração ainda não foi publicado.
O Governo Venezuelano, porém, refeito da surpresa de ter sido manifestada, pelo espaço de 100 anos, a maior jazida de minério de ferro do seu território, sem que a concessionária estrangeira ofereça qualquer vantagem ao país, a não ser o pagamento de impostos superficiais, e premido pela opinião pública, — resolveu considerar como reserva federal toda aquela área, excluída a já manifestada, afim de que fique sujeita ao regime de concessões a serem outorgadas pelo Governo, de acordo com as restrições impostas pelas suas leis de minas.
As investigações procedidas pelos técnicos e geólogos oficiais já localizaram um outro grande depósito de minério, no local denominado Santo Isidro, a 20 km, do Cêrro Bolvar, avaliado em mais de 300 milhões de toneladas, com o teor de 65% de ferro.
Não têm sido dadas novas concessões, mesmo com as restrições de lei, porque o Governo Venezuelano está estudando uma nova política que possibilite a nação a ter a maior participação possível na exploração das jazidas, quer promovendo a implantação da siderúrgica nacional, quer obrigando os concessionários a construir estradas de ferro que, ao mesmo tempo, atendam aos interesses destas, em, exportar o minério, e aos do público, em transportar mercadorias.
A política a seguir será a de promover o desenvolvimento econômico do país, evitando que o Estado estabeleça sistemas de impostos e taxas tornando-se, cada vez mais rico e o povo cada vez mais pobre, tendo que importar tudo porque quase nada produz.
Fonte: O Minério de Ferro na Economia Nacional (O Vale do Rio Doce), 1950
Autor: Dermeval José Pimenta, Engenheiro de Minas e Civil - Presidente da Companhia Vale do Rio Doce
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2015
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