A pedra e o Penedo
Havia dois navios da Booth Line, em que nós viajávamos de Manaus a Belém. De lá eles iam a Liverpool, na Inglaterra.
Conhecíamos - meu irmão e eu - cada canto dos dois navios. A ala dos ingleses, a dos portugueses. Meu pai trabalhava em uma companhia britânica, a Manaus Harbour, que cuidava do porto de lá, que possuíam um cais flutuante por causa da variação dos níveis das águas. Tínhamos então cinco ou seis anos, por aí.
Um dia papai decidiu viajar em um navio que passaria por Vitória. Um do Lloyd, acho. Depois faríamos a rota normal para o Rio.
Um marinheiro contava histórias à noite no tombadilho. A criançada acreditava em tudo e punha fé.
- Vocês vão ver Vitória. Tem um imenso morro de pedra, no meio da baía. Ele é mágico. Ninguém, por mais que se aproxime, consegue tocá-lo. Eu mesmo já me aproximei de bote, e tentei jogar moedas. As moedas voltavam para o nosso bolso. Tempo bom - penso - moedas voltando aos bolsos.
Quando desatracamos de Salvador, esperávamos ansiosos conhecer Vitória, do Espírito Santo.
Chegamos de madrugada. Minha mãe, em deferência especial, saiu conosco da cabine e demos de frente com o Penedo. Meu irmão ainda sonolento fez o inesquecível comentário:
- O Pão de Açúcar daqui é pertinho...
O marinheiro estava lá nesse momento. Olho o rebocador insolente arrastando o navio cidade adentro. Vitória estava parcialmente iluminada.
- Aqui, tudo é mágico, garotada. Você pode olhar de sua janela e ver passar um trem, um navio e um avião ao mesmo tempo.
Um trem, um navio e um avião, vistos das janelas.
Atracamos lentamente no cais. O palácio do governo parecia mesmo um palácio do governo. Estávamos em frente - agora já sei - ao hotel Estoril. Ficamos debruçados olhando Vitória e seus portuários até o amanhecer. De lá pudemos notar os primeiros ônibus. Alguns eram lotação. Lembram do lotação? Quando vim morar aqui reconheci os danados. Faziam a linha da praia do Suá ao centro da cidade. No ponto de ônibus olhávamos do navio alunos do Colégio Estadual, onde gramei aquela farda.
Saímos antes do almoço para dar uma volta na cidade. O navio partiria na tarde do mesmo dia. Fomos à Catedral, andamos por aí de táxi e foi só.
Minha mãe olhou com convicção nos olhos do velho Anderson, meu pai:
- Nós ainda viremos morar nesta maravilha de cidade!
Não deu outra. Anos depois adentrávamos, por assim dizer, o porto. Meus pais, para sempre. Os portos são cheirosos, na mais completa acepção do termo. - É como se fosse um mercado persa dos viajantes. Nesse dia, havia cheiros de café, óleo queimado, mar, feijão.
O velho porto viria a marcar a cidade.
Sempre que passo pela Beira-Mar, lembro do marinheiro, e procuro o trem, o avião e o navio. E sempre estão bem ali em frente da minha recordação...
De vez em quando pego a barca de Vila Velha e dano a fotografar os navios. De fundo e de perfil. É verdade a história do Penedo. Nunca consegui jogar uma moeda lá.
Autor: Paulo Bonates - Jornalista, médico, professor universitário e escritor
Fonte: Escritos de Vitória - 5 - Porto - 1994
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2012
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