Ano de 1565 – Por Basílio Daemon
1565. Falece no mês de abril deste ano o padre coadjutor Diogo Jacome,(90) companheiro que foi do padre Pedro Gonçalves, os quais para aqui vieram a catequizar os índios estabelecidos na aldeia do Campo Velho, em Santa Cruz, dirigidos pelo cacique Maracaiá-guaçu, e também na aldeia do Campo ou do Peixe Verde, em Guarapari, dirigida pelo cacique Pirá-Obig. Havendo-se derramado com grande intensidade a peste das bexigas na capitania, mormente nas aldeias de índios, os quais morriam às centenas, nas casas que serviam de hospitais, o padre Diogo Jácome não se poupou a prestar socorros às duas grandes aldeias existentes então na capitania, afora outras pequenas, as quais tinham sido visitadas antes por José de Anchieta quando aqui estivera a mandado do provincial da Ordem e quando apaziguara os índios potiguares; viram-se estes célebres padres Diogo Jácome e Pedro Gonçalves, que grandes serviços prestaram à catequese nas capitanias de Porto Seguro, São Vicente e também nesta, sangrando, aplicando remédios e consolando, e por entre aquela pestilência dimanada dos doentes e cadáveres aglomerados, já corruptos, obrigados ainda a servirem de coveiros. Afinal o padre Diogo Jácome foi também afetado da peste, sendo conduzido a esta hoje capital, carregado pelos próprios indígenas, onde faleceu apesar de todos os recursos e no fim de cinco dias depois de sua chegada, abraçado com uma imagem e tendo pedido e recebido todos os sacramentos, sendo enterrado na Capela de Santiago do Colégio dos Jesuítas, lamentado por seus companheiros e pelos indígenas que muito o estimavam, sendo esta a segunda vez que, doente, o carregaram e conduziram os índios para a Vitória.(91)
Idem. Tendo em fins deste ano os índios que daqui partiram em defesa das capitanias do sul se revoltado em São Vicente, onde se achavam, e querendo para aqui voltar dando por causa a fome que sofriam, sabendo disto o irmão José de Anchieta, este lhes prometeu que antes de finalizar o dia chegariam barcos da capitania do Espírito Santo a buscá-los, o que de fato aconteceu, aportando ainda ao outro dia a nau capitânia com Estácio de Sá, que vinha do Rio de Janeiro, o que deu causa a grande entusiasmo da parte dos indígenas, que afiançaram não se retirarem sem coadjuvar a expulsão dos franceses, o que de fato cumpriram. Ali, no porto de Bertioga, foram os navios preparados e aprestados.(92)
Notas
90 “Falece na vila de Vitória o padre Diogo Jácome depois de ficar doente durante a epidemia de varíola que atingiu várias aldeias dessa capitania”. 10 de abril de 1565. [Leite, HCJB, I, p. 237]
91 Leite, HCJB, I, p. 237; Nery, Carta pastoral, p 81.
92 (a) “Em fevereiro de 1565 coadjuvou ela o Rio de Janeiro, que se achava em luta com os tamoios, auxiliando-o com gente e mantimentos. A gente era da tribo dos terminós, que Vasco Fernandes Coutinho, donatário da província, convidou e levou consigo.” [Machado de Oliveira, Notas, apontamentos, RIHGB, 1856, 19:270] (b) “Porque os índios do Espírito Santo, impacientes com a espera da capitânia e mantimentos que também tardavam […], lhes empenhou José [de Anchieta] sua palavra: que […] chegariam sem dúvida os mantimentos e após eles, pouco depois, a nau capitânia […] Não eram ditas as palavras, quando começam aparecer três barcos, que eram mandados a buscá-los ao Espírito Santo […] Obedeceram a tudo resolutos a ajudar na empresa. E logo na manhã seguinte chegou a nau capitânia...” [Vasconcelos, S., Vida e obra, v. 1, p. 112]
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Foto: Vestígios da antiga Igreja de São Tiago. Amostra de parede do século 16. O palácio era conjugado ao templo dos jesuítas. Na parte superior, pode-se ver arabescos decorativos. Fonte: Fotos publicadas originalmente em A Gazeta (19/04/2009) Clique na foto para ampliar
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2019
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