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Família Zandonadi

Os Zandonadi

Instalaram-se nos 1500 ha da fértil fazenda Lavras ou lavrinhas os seguintes membros desta família:

1º) Casal veterano Lorenzo Zandonadi/ Luigia Filomena Del Baro. Com 8 membros.

2º) O filho mais velho deste casal, Giobe Zandonadi/ Marcolina Destefani, com os filhos: Ana, Luiz, Carolina e Gabriel.

3º) Casal Francisco Zandonadi/ Marieta Pasti Zandonadi, com os filhos: Antônio, Tereza, Eufemia, Filomena e Virgínia.

4º) Casal Pio Zandonadi/ Matildes Venturim Zandonadi, com os filhos: Inocente, Rosa, Lorenço, Raimundo, Tobias, Sara, Daniel e Suzana.

5º) Casal Marcos Zandonadi/ Santa Cesconetto Zandonadi (recém-casados).

6º) os filhos jovens, Liberal e Miguel Zandonadi (solteiros).

Excluídas as duas abertas, já anteriormente mencionadas, a fazenda Lavras ou Lavrinhas era uma floresta de fazer inveja. Enormes árvores de madeira de lei (cedros, jequitibás, perobas, angicos, cabiúnas, óleos de copaúba, jatobás, bicuíbas, ipês, gibatões, canelas, orelhas d’onça, pereiras e muitas outras espalhadas na várzea, encostas e serras) faziam um conjunto soberbo, inigualável na maioria das regiões do Estado e do País. A beleza das copas floridas, destacando-se as belas flores de orquídeas, espalhadas em seus galhos, entre as quais se sobressaíam, em grande número, as orquídeas “labiata”. Todo este cenário era deslumbrante e encantava os molhos dos felizardos que puderam conhecê-lo. Chamavam a atenção os retilíneos e abundantes palmitais que, por sobre as copas das árvores, enfeitavam as matas, pela beleza da plumagem e dos cachos carregados de sementes, alimento procurado pelos animais silvestres. Na minha adolescência, conheci tão descomunal floresta e pude presenciar o manejo dos machados por experientes machadeiros, golpeando e destruindo tão indefesa grandiosidade. Muitos cedros foram abatidos e reduzidos a cinzas pelas queimadas. Só mais tarde, os proprietários, amargando a crueldade de seus atos, perceberam que haviam desperdiçado uma grande fonte de renda futura, tendo em vista que o cedro é uma das mais preciosas espécies do mercado madereiro, principalmente no exterior.

Nas andanças com meus irmãos, através de picadas na densa mata, conheci o macuco, a jacutinga, o jacu, a arara, o inhambu, o tucano, o arassari, as maitacas, os maracanãs e as perdizes. O pio do macuco, ao entardecer, o canto estridente das perdizes, inhambus e o vôo de bandos de maracanãs e maitacas, à procura de outros festins, trazem-me na velhice imagens vivas, que não se apagam; recordações repletas de saudades. Antes de nos recolhermos, ouvíamos, atentos, o que nos contava papai sobre o início da colonização: onças circulando as moradias à noite; antas encurraladas pelas matilhas de cães amestrados; coatis, porcos-do-mato, queixadas, caititus, pacas, capivaras e o ribombar de tiros de espingarda de caçadores imprevidentes que os abatiam impiedosamente.

Era divertido e interessante, à noite, nas chuvas de verão, ouvir o coaxar das rãs, as intermináveis sinfonias de variadas espécies de sapos e, durante o dia, o estridente e afinado grito do sapo boi, o estonteante uivo da raposa e o ronco prolongado do barbado. Acordávamos, de repente, pelo esvoaçar das galinhas perseguidas pelos gatos-do-mato, gambás e raposas. Ouvíamos, então, os passos de papai, descendo a escada do casarão. Apanhava a espingarda de dois canos e, daí a pouco, a descarga, abatendo o visitante inoportuno.

De todas as espécies e grande número de árvores da floresta, é necessário que ressaltemos uma das mais úteis no início da colonização: o palmito, com aquela haste fina e comprida, terminando, ao alto, com a bonita folhagem em penacho. Logo abaixo, a cabeça adornada por cachos em forma de espanadores, cheio de sementes que, quando maduras, formam coquinhos, alimento procurado por animais e aves silvestres. Do palmito, tudo era aproveitado: a folhagem, para a cobertura das casas, paióis e tulhas; a haste, madeira procurada para construção de casas e confecção de ripas usadas em telhados de tulhas; e, finalmente, com a escavação e retirada do miolo, fabricava-se as longas bicas para a condução das águas das nascentes até às sedes das propriedades. Nos 75 alqueires comprados pelos Zandonadi, havia outra interessante peculiaridade que veio melhorar a variedade da alimentação caseira. Como o Sr. Antônio de Vargas, na pressa de desocupar a sede da fazenda, deixou de recolher a manada de porcos, eles ficaram soltos na mata, alimentando-se de frutas, verduras e caroços que caíam dos palmitos. Assim, em épocas de escassez de alimentos na despensa, bastava apanhar a espingarda, dar uma voltinha pelas proximidades, abater o primeiro porco a aparecer e levá-lo para casa a fim de destrinchá-lo.

Nos primeiros anos, em Venda Nova, de acordo com o testemunho de meus pais, houve até fartura de alimentos que chegavam a ser armazenados. Descobriram um freezer mais prático e menos dispendioso: iam até a mata de machado e traçador, escolhiam a árvore de cedro mais grossa, derrubavam-na e traçavam a tora de cerca de 2 metros de comprimento; lavravam-na nas quatro faces e com uma ferramenta de aço cortante, bem amolada, escavavam todo o seu inteiro, deixando lateralmente as quatro paredes com espessura de 10 centímetros. Desta forma, a tora se tornava uma ajeitada e grande cuba que era colocada na despensa quando se abatiam bovinos, suínos ou animais provenientes de caça. Estes eram assim conservados: no fundo da cuba, colocava-se uma pequena camada de sal grosso; depois uma camada das melhores carnes, outra camada de sal e assim por diante, até chegar à ossada. O período de conservação chegava a durar um ano.

Outro detalhe importante: todo proprietário rural estabelecido em Venda Nova media o bem-estar e as finanças pela quantidade de milho no paiol. Não era o café que ditava as finanças. Tendo o milho, tinham o fubá, com o fubá, a polenta e outras variedades alimentares que nossas matronas eram mestres em preparar. Como o milho, um saco de feijão, uma horta com verduras variadas, o palmito à porta de casa, uma parreira de uva e uma chácara cercada por plantações de frutas de clima temperado, os nossos veteranos tinham a fartura. Dependiam somente da compra do sal e de peças do vestuário, tendo a maioria o hábito de usar o vestuário feito no inverno da Itália pelos donos. O café vendido ou encostado em armazéns em Castelo formava caixa para a compra de novas terras férteis do Norte do Estado, banhadas pelo rio Doce e seus afluentes. Uma área de canavial fornecia o açúcar, o melado e, porque não, a cachacinha feita em pequenos alambiques, bem escondidos por causa do fisco.

Uma modalidade que assisti e me motivou a dar continuidade: o mutirão. Qualquer motivo – doença ou outros imprevistos – que atrasasse uma família, bastava um aviso na reza comunitária aos domingos, para que no dia marcado houvesse o mutirão de ajuda. Quando vieram para no dia marcado houvesse o mutirão da ajuda. Quando vieram para Venda Nova do Imigrante, os 32 membros da família Zandonadi se instalaram no casarão da sede da fazenda antiga. Construíram, em seguida, a casa onde nasci, por onde passou o casal veterano Lorenzo/ Luigia Filomena e os filhos Francisco, Pio, Marcos, papai Liberal e o titio Miguel, ficando a família do mais velho, Giobe/ Marcolina e filhos, no lugar da sede antiga. E, alternando as novas construções, foram saindo para as novas casas: titio Francisco/ Marieta Pasti e filhos, par aonde mora atualmente o Sr. Clementino Caliman; o titio Pio/ Matildes Venturim e filhos, perto da Igreja Matriz; e titio Marcos/ Santa Cesconetto e filhos, para onde mora o filho caçula, atualmente.

Em 1922 e 1923, dois tios, Francisco e Pio, saíram do Estado do Espírito Santo e foram para o interior de São Paulo. Em 1929, titio Miguel/ Maria Falqueto e filhos deixaram a companhia de papai e seguiram para Bananeiras. Durante este período, até 1929, os Zandonadi, exceto o papai, foram estabelecendo os filhos no interior de São Paulo, em Paraguassu Paulista e Cruzália.

Nesta fase de adaptação, houve dois importantes fatos na família Zandonadi: 1º) Cessão do patrimônio à Igreja Matriz; 2º) Questão dos moradores de Lavrinhas (Caliman, Falqueto e Delarmelina) contra a família do titio Marcos devido a estrada que faz a ligação direta entre Lavrinhas e a Igreja Matriz, passando em terreno do titio Marcos.

 

Fonte: Venda Nova do Imigrante – 100 anos da colonização italiana no Sul do Espírito Santo,1992
Autor: Máximo Zandonadi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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