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Últimos dias do Melpômene

Acervo: José Tatagiba

A natureza física de Vitória, pela sua característica topográfica e geológica, é alérgica ao urbanismo a curto prazo e de recursos limitados. Não obstante, o engenheiro Moacir Avidos procurou domar-lhe a agressividade típica de cidade torta, enquistada entre o mar e a montanha. Homem simples e desavisado da função importante, que a história registraria, Moacir Avidos instalou-se no velho Teatro Melpômene, interditado por um incêndio em 1923.(1)

Os governos estaduais não patrocinavam temporadas artísticas, nem se interessavam pelo teatro amador, nascido no fim da monarquia e acalentado com esperanças promissoras. Escreveram comédias, Aristides Freire,  Peçanha Póvoa, Amâncio Pereira e outros. O amadorismo, sem estímulo do poder público, não vingou. O teatro não mereceu nem verba para sua conservação. Mas o destino foi irônico. Não tendo servido ao fim específico, que lhe destinara seu autor, abriu o proscênio para acolher os “Serviços de Melhoramentos de Vitória”. Melhor sorte não podia o acaso reservar ao Melpômene agonizante: palco de uma administração honesta.

- Que é teatro senão a casa onde o pensamento toma corpo, dinamizado pelo engenho, onde a fantasia se corporifica na realidade sonhada?

NOMES QUE DEIXARAM SAUDADES

O prédio da esquina da Rua Barão do Itapemirim, antiga Oriente, com a Avenida Capixaba, foi o primeiro edifício público concluído pelo governo. Em começo de 1925 nele se instalou a sede dos "Serviços de Melhoramentos de Vitória", condigna e confortavelmente.

Iniciou-se a demolição do Melpômene, cujo madeiramento de pinho de Riga, essência preciosa, foi toda desperdiçada em barracões de emergência. As colunas de ferro fundido, que suportavam os balcões e galerias, têm a mesma função no Teatro Carlos Gomes, construído por André Carloni, à sua custa, mediante pequenos favores do Estado.

Assim terminou o Melpômene do antigo Largo da Conceição. Foi palco de operetas, revistas, zarzuelas, recitais, dramas do cinema mudo nascente, 1902, até o apogeu, com os dramalhões românticos de Francesca Bertini, Lídia Borelli, Pina Menichelli, Asta Nilsen, Bety Nansen, Gustavo Serena, Alberto Capozzi, Emilio Ghioni, Waldemar Psilander e das pantomimas de Max Linder e Tontolini. 

 

NOTAS

 

(1) A última representação foi a revista "Só órso", escrita por Deocleciano Coelho, para salvar o fracasso da Cia. Pinta Filho, cujo repertório não agradara ao público capixaba. Deocleciano Coelho teve sucesso estupendo.

 

Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2017

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