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Os primeiros navegadores do Rio Doce

Rio Doce - Acervo: Folha do Norte

Na conquista, ocupação e povoamento do território brasileiro pela metrópole portuguesa, na procura de riquezas, ouro e pedras preciosas, as inúmeras “estradas líquidas” de nossas bacias hidrográficas ocuparam um lugar de destaque, já que eram as únicas vias de acesso e comunicação do litoral com o interior e vice-versa. Assim, o rio Doce serviu também a esses fins.

Em ordem cronológica, ocorreram as seguintes entradas pelo rio:

I) Sebastião Fernandes Tourinho, sobrinho do Governador da antiga capitania de Porto Seguro, realizou duas entradas: a primeira, em 1572, descendo pela bacia do rio Jequitinhonha até o rio Cricaré, hoje rio São Mateus, e por terra e por rio chegou até à lagoa Juparanã, através da qual atingiu o rio Doce, daí descendo até a barra, retornando a Porto Seguro pelo Atlântico; na segunda, fez o percurso inverso, subindo o rio Doce, da foz até próximo ao rio Guandu; contornando por terra a cachoeira das Escadinhas, construiu aí canoas e retomou o rio, atingindo região do atual Estado de Minas Gerais. Internando-se nas matas, encontrou em suas investigações ouro, esmeraldas e safiras, perto da atual serra das Esmeraldas, retornando mais tarde à Bahia. Quanto às esmeraldas citadas, o mais certo é que tenham sido turmalinas.

II) No ano de 1573 ou no de 1574, o Governador das então capitanias ao Norte, D. Luís de Brito – já que nessa época o Brasil havia sido dividido em dois governos pelo rei D. Sebastião – “tomando em consideração o que fora comunicado por Tourinho a respeito do rio Doce e sua riqueza adjacente”, organizou uma expedição. Seu comando foi entregue a Antonio Dias Adorno que, seguindo o roteiro de Sebastião Tourinho, chegou até a serra das Esmeraldas e, ao norte desta ou em suas imediações, encontrou turmalinas, voltando à Bahia mais tarde com 7.000 índios escravizados. Braz Rubim diz que Adorno não passou por terras das Capitanias do Espírito Santo.

III) Em 1598, subiu o rio Doce Diogo Martins Cão, passando pela Capitania do Espírito Santo, para examinar as minas descobertas por Tourinho e averiguadas por Adorno.

IV) Marcos de Azeredo Coutinho, em 1613 ou em 1614, seguiu também a rota de Tourinho subindo o rio Doce até o rio Suaçuí, de onde retornou trazendo amostras de turmalinas, safiras e outros cristais finos.

A partir de então, várias expedições subiram e desceram o rio Doce, em viagens aventurosas, atraídas pela lenda que então se formou em torno da Serra das Esmeraldas, sonho verde-brilhante, que também atraiu e levou à morte o famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme.

V) Em 1693, Antonio Rodrigues Arzão, bandeirante paulista, organizou uma expedição com 50 homens e, descendo o rio Doce, chegou a Vitória, onde apresentou ao Governador Capitão-Mor João Molina 3 oitavas de ouro, encontradas em sua peregrinação, não se sabendo, porém, o local onde as achou. O certo, no entanto, é que a história o imortalizou como o descobridor das primeiras minas de ouro nas Minas Gerais.

Findava, pois, o século XVII e entrava o século XVIII, que marcou época em nossa história como o século da mineração. Minas Gerais transformou-se em um ímã dourado, para onde foram paulistas, reinóis e habitantes de outras capitanias do Brasil, brigando entre si pela posse das terras auríferas. O afluxo às minas foi tamanho que, já em 1704 e em 1710, encontramos referência da preocupação do governo em impedir a evasão indiscriminada da produção áurea. Assim, na segunda data acima mencionada, D. Lourenço de Almada, Governador Capitão Geral do Estado do Brasil, manda ordens ao Capitão-Mor da Capitania do Espírito Santo, para que suspendessem qualquer trabalho, exploração ou estrada que levasse a Minas Gerais, prometendo severos castigos para quem desobedecesse.

Diante disto, fechava-se, entre outras, toda a região do baixo rio Doce e o acesso às terras do atual município de Linhares a qualquer tipo de colonização, razão pela qual não pudemos encontrar em nossas pesquisas qualquer referência destacada à nossa região em todo o século XVIII. O que observamos foi a existência de um hiato de 100 anos, que poderá servir de base a pesquisadores futuros.

 

Fonte: Panorama Histórico de Linhares, 1982
Autora: Maria Lúcia Grossi Zunti
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2012

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