Os remadores noturnos – Por Maria Stella de Novaes
Um dos afluentes do rio Doce, o "São José", tem o seu curso envolto em névoa lendária, que nos recorda os tempos idos da escravidão, quando exploradores de minas auríferas e madeireiros audazes, que levavam negros acorrentados, visavam a descobri-las, naquelas paragens.
Dizem que existe um encantamento, em suas margens, ou no seu próprio leito. Começa a manifestar-se, ao anoitecer, quando as juritis e outras aves demandam seus ninhos, reluzem os pirilampos e a jiquitiranabóia acende seus mágicos faróis. Atinge o máximo, à meia-noite: aumenta o rumor, na confusão de fortes remadas, gritos, súplicas, reprimendas..., como se houvesse, nalgum barco, o mistério de castigos e degredados, ou vingança, entre escravos e senhores. E tal é o poder da imaginação, nos que se deixam empolgar pelas narrativas locais sobre os chamados REMADORES NOTURNOS, que os novatos, no lugar, ou passageiros, em suas margens, se sentem presas de alucinação ou desvario, como se ouvissem a respiração ofegante dos oprimidos, num barco, o percutir forte das remadas, etc. Açoites! Gemidos! ... e o narrador informa, então, que, numa das entradas históricas dos exploradores do solo espírito-santense, poderoso senhor conservava alguns escravos algemados, ao relento, no tombadilho do seu barco. Aos clamores e às súplicas dos africanos cativos, respondia, com reprimendas e chicotadas, até que, na fúria do castigo, na revolta do branco, perante a reação do oprimido, a distração do comando levou o barco a chocar-se com uma rocha submersa.
Afundou-se, para sempre. Deixou, naquelas águas, apenas a perene gravação de vozes elevadas pelo sofrimento, que a bênção do Céu vem amenizar, com a réstia do luar e o beijo luminoso das estrelas.
À medida, por isso, que a noite avança, os astros cintilam e a Lua espraia o seu clarão, na tranqüilidade imponente do rio, vão-se acalmando os lamentos, dissipa-se o encanto, quietam-se as aves, repousam os animais, em suas tocas! ... Pode, então, o homem, apreciar o firmamento espelhado, na torrente misteriosa do "Rio São José", porque toda a Natureza é Paz, na magnificência do Belo.
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2015
Essa é a versão mais próxima da realidade...
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