A Academia de Seu Antenor - Por Nelson Abel de Almeida
Vitória de hoje é uma cidade cheia de colégios, cheia de escolas e pode-se mesmo dizer que, nesta nossa querida terrinha, só não aprende e não estuda quem não quer aprender e quem não quer estudar.
Essa cantilena que anda por aí muito em voga, de que se deve colocar o garoto no colégio tal, ou no colégio qual porque ele é o único que ensina, é uma grande balela, é uma grande tolice. Todo colégio tem bons e maus professores, todo colégio, em regra geral, ensina; de todo colégio saem alunos que sabem alguma coisa e alunos que não sabem coisíssima nenhuma, porque não há colégio que consiga ensinar ao aluno que não estuda, ao aluno que tem aversão aos livros.
Mas Vitória nem sempre foi assim, nem sempre foi povoada de colégios secundários, de escolas de comércio.
Tempos houve em que só o Colégio Estadual do Espírito Santo dava o curso secundário válido para o ingresso nas escolas superiores; e isto para toda a população escolar do Estado, de modo que muitos alunos ou muitos jovens, se quisessem ter o curso secundário, tinham que ir fazê-los no Rio, caso não quisessem vir para a Capital do Estado.
E naqueles bons tempos, naqueles tempos que ainda não estão muito recuados, quando não havia caminhão para transporte de carga em Vitória, os grandes volumes, os sacos de café, de arroz, de feijão e de outras coisas mais eram levados, de um ponto a outro da cidade, em umas carroças bem grandes, com quatro rodas enormes, puxadas, às vezes, por quatro parelhas de animais ou mesmo por duas parelhas.
Era a firma Antenor Guimarães a que explorava, em geral, esse comércio de transporte aqui nesta santa terrinha.
Por isso mesmo possuía ela, para as suas carroças, bonitos burros, sempre bem tratados, sempre de pelo bem luzidio.
E quando chegava à tardinha, quando o transporte não mais se podia fazer porque o dia havia chegado ao seu fim, os animais iam ter também o seu merecido repouso, o seu descanso justo.
Para isso eram conduzidos aos seus pastos, os quais nem sempre ficavam situados muito distantes da cidade, ou muito distantes do local em que guardadas eram as carroças.
Ali na Capichaba, se bem me lembro, vi, muitas vezes, soltos muitos desses animais, em um pastinho ali situado.
E a turma do Ginásio Espírito-Santense, que não era sopa, que não dava folga a quem quer que fosse, dizia que aquele pasto era a academia. E, se por acaso, havia algum colega mais tardo em aprender, mais curto de inteligência, não era raro que lhe não dissessem os demais: — Saia do Ginásio, camarada, que aqui você não aprende nada. A sua inteligência é tão grande que para você só a Academia de seu Antenor.
Era esse o meio delicado de se chamar ao colega de burro e, por causa disso, de quando em quando surgia alguma briga, havia alguns tabefes trocados. E no fim tudo acabava bem em paz.
Fonte: Torta Capixaba (Ensaios, Crônicas, Poesias...), 1962 - Editora Âncora S.A. Vitória - ES
Autor: Nelson Abel de Almeida
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2022
Foto: Armazém Antenor Guimarães onde hoje funciona o Edifício dos Correios na Avenida Jerônimo Monteiro - Créditos Fábio Pirajá, Facebook - Memória Capixaba
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