30 anos sem Newton Braga - Por: Miguel Depes Tallon
Na pesquisa que fiz para relacionar os eventos que deveriam ser lembrados em 1992, a pedido de Renato Pacheco, cometi a falha imperdoável de omitir o trigésimo aniversário da morte de Newton Braga. Newton foi um dos poetas – vou me poupar de dizer o maior, para que não me acusem de cachoeiranismo – de toda a História da Literatura Capixaba.
Nascido no dia 11 de agosto de 1911, na fazenda do Frade, em Cachoeiro de Itapemirim, Newton Braga se ligou de tal forma à sua cidade natal, que, hoje, é difícil separar o lendário do real em sua vida. Para início de conversa, foi de tudo: beque central do “Estrela do Norte Futebol Clube”, jornalista, diretor do Correio do Sul, poeta, cronista, professor e, finalmente, tabelião do Cartório do 3º Ofício, em Cachoeiro.
Contam que, como tabelião, procurava furtar-se ao uso do paletó e da gravata. Numa certa ocasião, um jovem juiz, desses que acham que vão reformar o mundo, exigiu-lhe o uso do paletó e da gravata. Newton nem pestanejou: requereu licença e continuou em manga de camisa.
De outra feita, dizem que era costume seu, na velha casa, na Rua 25 de Março, deixar a cachaça na moringa aberta, na janela. “É para pegar sereno, que com sereno fica mais gostosa” – se defendia.
Na introdução que fez à Poesia e Prosa de Newton Braga, publicada logo depois de sua morte, em 1962, seu irmão Rubem apontava como sendo dois os livros publicados por Newton em vida: Lirismo perdido e Cidade do interior. Vou me permitir, agora, tanto tempo depois, fazer uma ressalva: Não foram dois os livros publicados por Newton em vida, mas três. O terceiro foi: Histórias de Cachoeiro.
Numa edição do “Correio do Sul”, que dirigia, Newton publicou uma croniqueta, onde dizia que sua cidade não era tão bonita assim, o rio era magro e outras coisas mais. Mas se tivesse de escolher, de novo, um lugar para nascer, escolheria Cachoeiro. “O porquê”? – escrevia ele – “Sabe-se lá o porquê das coisas do coração”.
Como poeta, Newton foi de um lirismo insuperável. Seu poema Namorados é um dos mais belos de toda a Literatura Nacional. Ei-lo:
“Namorados”
Quis ser sincero uma vez.Tomei-lhe as mãos entre as minhas,
– como nas velhas baladas –
pousei meus olhos nos seus
– como nas velhas cantigas –
e lhe falei, docemente, verdades desconsoladas:
“-Tu não me és indispensável mas me fazes bem.
Eu te quero, um pouco por amor, um pouco por hábito.
Não és a que eu esperava, mas sentirei, se tu partires”.
Percebi uma promessa de lágrimas nos olhos dela e me acovardei:
“- Mentira, querida. Tu és o meu primeiro, o meu único amor:
o meu sol, a minha razão de ser”.
“Mentiras já são bisadas…
Tal qual nas velhas cantigas,
Tal qual nas velhas baladas…”
De Fraternidade foram extraídos os versos que, hoje, constam de seu monumento, na Praça Jerônimo Monteiro, em Cachoeiro de Itapemirim:
“esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima,
captando pedaços de todas as dores do mundo,
e que me fará morrer de dores que não são minhas”.
Newton morreu, como sempre viveu, mansamente, na madrugada de 1º de junho de 1962, não sem antes ter proclamado em seu poema Eu continuo a fazer versos:
“Quem me estima me desculpa: eu faço versos.
Não tenho culpa de ser assim sentimental,
e é o melhor bem que possuo, este meu mal.
Quer que me deixem – como se não existisse –
essa loucura mansa e inofensiva de fazer versos, de escrever tolices…”
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 43, ano 1993/1994
Autor: Miguel Depes Tallon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2013
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