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A cultura escravagista de Itapemirim – Ronald Mignone

Joaquim Marcelino Silva Lima, primeiro Barão de Itapemirim

O cultivo da cana-de-açúcar e a produção de açúcar e aguardente exigia mão-de-obra escrava, sendo conhecidos os fatos relativos a rebeliões, com destaque para o levante de escravos de 1831, que atingiu grandes proporções.

Meu pai era um aficionado pela cultura da região, sempre com belas histórias para contar acerca de fatos de todo o sul do Estado, que ele conhecia como a palma da mão, nas suas andanças de jipe para exercer sua profissão de agrimensura.

Foi dele, inclusive, que ouvi a história a respeito do tráfico de escravos na região, com desembarque clandestino ali pela região entre a Boa Vista e a Muribeca, para trabalharem nos engenhos de açúcar, o que coincide e é perfeitamente factível com os fatos históricos da motivação e do posicionamento geográfico do quartel da Boa Vista.

Existem relatos que dão conta de um quilombo que se fixou na localidade de Graúna, no município de Itapemirim. É interessante notar que nessa localidade até hoje residem muitos afrodescendentes, todos com características físicas bem parecidas, a principal delas a de possuírem orelhas bem pequenas, o que é um sinal de que descendem todos da mesma tribo no seu continente de origem.

Lembro-me bem de ter constatado isso de perto, quando, no ano de 1977, eu inventava de vender picolés na praia no verão para ganhar uns trocados. A sorveteria[1] em que eu trabalhava mandava buscar vários garotos da Graúna para venderem picolé na praia e pude constatar pessoalmente que todos eles tinham essa característica física da orelha pequena.

A região de Itapemirim, de fato, ficou conhecida pelo tráfico de escravos. Mesmo depois de entrar em Vigor a Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, que proibia o tráfico de escravos no Brasil, nos anos de 1851 e 1852, tentou-se o desembarque de escravos dos navios negreiros Sociedade Feliz e Segundo no porto de Itapemirim, o que foi impedido pelas autoridades.

O Barão de Itapemirim era conhecido por proteger os traficantes de escravos no Estado e, ao que tudo indica, era ele o padrinho desse comércio e a pessoa que tentou efetivar esse desembarque desautorizado.

Os escravos eram, portanto, os motores do cultivo da cana-de-açúcar e da produção de açúcar e aguardente, principal atividade econômica de Itapemirim na época, sendo bastante compreensível o desgosto do Barão de Itapemirim pelo prejuízo que a interrupção do tráfico de escravos acarretaria aos seus negócios, tanto no lucro que obtinha com o comércio deles (dos escravos), como na dificuldade que a proibição do tráfico traria para obter mão-de-obra nas lavouras de cana-de-açúcar de suas propriedades.

Aliás, merece um capítulo próprio o Barão de Itapemirim. Ou melhor, os barões de Itapemirim, pois eles foram em número de três, fato esse que pouca gente da região tem conhecimento.


NOTA [1]:Sorvetes Pinóquio, do Sr. Geraldo Pereira Veloso, pai de bons amigos meus de infância, Marcus e João Jackson, com os quais tenho várias histórias boas de serem contadas. 

 

Fonte: Crônicas da História de Marataízes - Um olhar sobre a cidade, 2010
Autor: Ronald Mignone
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2016

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