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A Descoberta da Imagem de Nossa Senhora da Penha

Nossa Senhora da Penha

— Mas, a imagem?

— Como foi descoberta?

Conforme a tradição antiqüíssima, ligada à história do Santuário, uma donzela de Sequeros, chamada Joana, foi o instrumento do Céu, para revelar a existência de uma estátua de Nossa Senhora, oculta na referida serra. Adoecera gravemente e desfalecera. Recuperando os sentidos, revelou uma ordem, do Céu, recebida: — anunciar a seus pais os grandes revezes que teriam de atravessar, castigados por um negócio escuso.

"Ponde-vos de joelhos, voltada para a Serra de França, disse à sua mãe, — e rezai, fervorosa, três Ave Maria à Virgem Santíssima, em honra e reverência a uma imagem ali oculta, há duzentos anos. Sentireis logo o conforto, em vosso espírito. Essa imagem será brevemente descoberta e o Senhor Onipotente fará muitos milagres e maravilhas. Muitos romeiros de todas as nações, aí, virão".

Profetizou ainda o aparecimento de três sinais, em forma de cruz, ao pôr do Sol: — um sobre as propriedades do Bispo de Salamanca, perto de San Martin del Castañar, nas quais se construiria um mosteiro da Ordem Dominicana. O segundo, sobre a Penha de França, onde a gloriosa imagem seria descoberta, por um homem de vida exemplar. Ali, se faria um mosteiro dos Dominicanos. Seria um lugar de romarias e milagres. A terceira cruz cairia no ponto em que se devia construir o Santuário da Virgem Imaculada.

Ainda a tradição aponta Simon Vela, a quem nos re-ferimos, no início desta narrativa, como o escolhido para descobrir a imagem. Era francês, filho de Rolan e Bárbara, nobres e ricos. Nasceu em Paris. Abandonou a riqueza e o conforto. — Deu tudo aos pobres e refugiou-se num mosteiro da Ordem Franciscana. Seu sobrenome-Vela resultou de uma constante advertência, que lhe parecia ouvir do Céu: — "Simon, vela! ", em suas prolongadas orações.

Recebendo, no convento, uma revelação mística, partiu, em peregrinação, a fim de procurar a Penha de França.

— Onde estaria? — Em sua pátria?

Durante cinco anos, Simon andou, andou, inutilmente. Avultavam, na Idade Média, as peregrinações ao túmulo do Apóstolo São Tiago, em Compostela. Seguiam o itinerário clássico da passagem pelo Santuário de Puy, tão famoso que se considerava sagrado o peregrino que o visitasse. A medalha de chumbo, de Nossa Senhora do Puy, servia-lhe de salvo-conduto.

Simon juntou-se a uma dessas romagens piedosas. Acompanhou alguns peregrinos a Castela e a Salamanca, esperançoso de encontrar, entre os universitários, notícias da Penha de França. Mas, apesar de tão perto do lugar, permaneceu seis meses ainda, em buscas infrutíferas. Finalmente, uma tarde, meteu-se entre o povo, numa praça pública. Ouviu um pastor referir-se à Penha de França, nome tão ansiosamente acalentado. Logo, empreendeu a caminhada para o sítio apontado. Difícil foi atingí-lo. Dias e dias, buscou, entre as fendas e grutas, o que desejava, até que, exausto, uma noite, foi surpreendido, pela fúria de uma tempestade, no meio da qual se desprendeu uma pedra. Rolou, atingindo-o na cabeça e prostrando-o, desfalecido!

Na segunda noite, já, mais ou menos, refeito, em oração, ouviu a mesma voz que o acompanhava: — Simon, vela y no duermas!

Repetia-se o aviso que o levou a trocar o nome de Rolan pelo de Vela.

Na terceira noite, rezando, rezando sempre, percebeu extraordinário clarão, no meio do qual distinguiu uma cadeira tão adornada que parecia de ouro. Uma senhora formosíssima veio sentar-se ali. Trazia, nos braços, um menino encantador! Falou-lhe: — "Aqui, cavarás e o que achares deverás pôr no mais alto do monte, e uma casa farás. Tu a começarás e outros virão concluí-la. Estou satisfeita, meu filho. Cumpriram-se as profecias divulgadas, há dez anos. (Profecias da donzela de Sequeros).

Simon desceu a San Martin del Castañar, onde encontrou cinco pastores, que se prontificaram a auxiliá-lo nas pesquisas. Após muito trabalho e muitos revezes, descobriram todos a desejada imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus, nos braços. Um dos pastores, escrivão, tudo anotou. Estavam em 19 de Maio de 1434. (3)

Simon curvou a cabeça e tocou-a na imagem. Curou-se, imediatamente, da cicatriz que a pedra lhe fizera e que se agravara, com o frio e a falta de medicamento.

Conhecido o fato, organizaram-se romarias de preces e construiu-se uma cabana, para abrigo do precioso achado. — Assim, como Pedro Palácios, no Espírito Santo, Simon Vela foi o iniciador do Santuário da Virgem da Penha, na Espanha. Faleceu em 1437, cinco meses após o estabelecimento canônico da Ordem Dominicana, com sete religiosos, na Penna de França. Quando exumado, seu crânio apresentava ainda o sinal deixado pelo bloco de pedra. (4)

 

NOTAS

(3) - Pe. Colunga. Ntra. Sra. de la Peña de Francia

(4) - Idem. Idem.

Fonte: O Relicário de um povo – O Santuário de Nossa Senhora da Penha, 2ª edição, 1958
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2016

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