A revolta das prostitutas
Com o declínio da economia exportadora de farinha de mandioca a vila de São Mateus perdeu importância comercial e urbana. Como símbolos e testemunhas de um passado de prosperidade e opulência sobraram, para o século XX, os casarões de estilo colonial do porto mateense.
Progressivamente, a partir de 1920 os antigos sobrados residenciais e casas comerciais foram sendo abandonados por seus proprietários e herdeiros que, em busca de melhores negócios, transferiram-se para Vitória e Rio de janeiro. Num processo lento, gradual e constante que se arrastou por 50 anos, o casario foi transformado em bares, cabarés e bordéis, ocupados por prostitutas e boêmios – aliás, toda a orla do porto em torno do que havia sido o Largo do Chafariz converteu-se no que a “alta sociedade” mateense classificou como “zona de baixo meretrício”.
O governo de São Mateus, visando a pôr fim à prostituição local, resolveu demolir o casario e fazer uma “limpeza” no antigo porto. O pretexto apareceu em 1968 quando um grupo de 80 prostitutas, algumas delas doentes, carregadas em macas, realizou uma manifestação pública reivindicando o direito de receber tratamento médico no hospital municipal.
A reivindicação não foi atendida e, no mesmo ano, em represália à manifestação pacífica das cortesãs, a elite de São Mateus conseguiu, na justiça, o fechamento dos bordéis e cabarés.
Embora as casas de prostituição tenham sido desocupadas pelas damas-da-noite, a prefeitura não conseguiu demolir o conjunto arquitetônico. Inspirado no episódio da Revolta das Prostitutas com o qual foram solidários, um grupo de intelectuais, estudantes e boêmios, deu início a um movimento que luta pela preservação, restauração e revitalização do patrimônio histórico da cidade. Assim, como resultado do trabalho desse grupo, foi criado, nos anos 1970, o Sítio Histórico do Porto de São Mateus e, na última década do século passado, os casarões foram restaurados e tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional.
As prostitutas provavelmente não sabiam que, ao ocuparem os prédios do porto de São Mateus por meio século, contribuíram para preservar parte da história do Espírito Santo.
(Os dados factuais para a elaboração do texto foram retirados da Revista Opinião, dezembro de 2000, PP 14-16).
Fonte: História do Espírito Santo. Uma abordagem didática e atualizada 1535-2002, 2002
Autor: José P. Schayder
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2012
Ali perto, Diná andava pela calçada, entre outros travestis. Com as unhas pintadas de vermelho vivo combinando com o batom, a mini-blusa de malha apertada sobre o short comprado na Vila Rubim
Ver Artigo