A Viagem Literária de Sílvio Barbieri - Por Anderson Andreata
Em tempos como este em que a safra literária atravessa dificuldades, poucos se aventuram a editar um livro. Quando um livro já é um desafio, a produção capixaba recebe uma boa notícia: um autor se lança num tri-desafio, escrevendo livros para as áreas que têm sofrido uma das maiores carências, que é a dramaturgia e a literatura infantil. Poeta, músico e dramaturgo, Sílvio Barbieri é o portador da novidade, percorrendo escolas da Grande Vitória com o projeto Viagem literária.
Da mistura de literatura, música e teatro surgiu o Viagem Literária. E viajar é a real intenção de Barbieri, que apresenta dois livros infantis: Festa rimada e Alminha, de forma a aproximar as crianças cada vez mais do mundo das artes. "Quando resolvi colocar a minha música nesse trabalho infantil, o objetivo foi fazer com que a literatura ficasse mais alegre e mostrar como a música está de mãos dadas com a literatura e o teatro", conta ele.
A necessidade de desenvolver um trabalho para o universo infantil partiu da observação de uma leitura de má qualidade, vazia, que se tem mostrado para as crianças. Apesar da pequena produção de literatura infantil no Estado, Barbieri destaca o nome de Francisco Aurélio Ribeiro como um dos grandes escritores que ainda se dedicam a essa parcela de leitores órfãos. "Este é um grande pecado cultural", anuncia. "Na maioria das vezes os escritores não se preocupam em passar a mensagem, que é realmente importante para a formação intelectual, moral e espiritual do indivíduo."
Barbieri escreveu Festa rimada há 10 anos e por muito tempo os poemas permaneceram na gaveta. Por achar o trabalho pequeno demais, decidiu escrever o poema Alminha, que seria um complemento do primeiro livro. Foi o amigo Santinho Ferreira de Souza quem sugeriu a Barbieri que os dois trabalhos dariam dois livros de poesia infantil.
Alminha é um livro constituído de um único poema dividido em cantos, desdobrados em outros poemas ou blocos de prosa poética escritos em versos. A sua estrutura se apresenta de forma variada, com rimas metrificadas ou sem qualquer esquema rígido. Através da figura de um eremita, o autor passa sutilmente às crianças uma mensagem espiritualista necessária e pouco abordada na literatura infantil atual. O menino aprende com o velho sábio que sua alma pode percorrer o mundo e estar em lugares a que seu corpo ainda não pode chegar: "Nesse momento, Alminha / vejo com a alma, a minha, / um pequeno menino que saiu / de sua casa, fugiu / sem avisar, nem / ao pai nem a mãe, / meteu-se na floresta / e agora está nesta / casa falando comigo. / Estou certo ou não, pequeno amigo?"
Ao contrário de Alminha, Festa rimada é apresentado ao leitor em forma de poemas curtos. Numa verdadeira festa, sem esquecer a rima, Festa rimada traz à tona a alegria, o divertimento e a brincadeira que estão sempre presentes, sem se afastar do fator instrutivo, atuante e necessário em toda a obra. Isso se mostra presente principalmente em A menina descuidada, que apresenta o personagem desta forma: "Esse caso é da garota / mais descuidada do mundo./ Não ligava pra limpeza, / vivia num mundo imundo."
Enquanto o poema dividido em seis partes vai se desenrolando, mostrando as facetas da menina na casa, na escola e na rua, o final traz uma sugestão de aprendizado: "E a menina foi sumindo / de todos que conhecera. / Dizem que um dia foi vista / indo ao médico, ao dentista, / começando vida nova, / dando adeus aos descuidados. / Dizem que ela é hoje em dia / a menina de cuidados..."
O projeto Viagem literária é constituído de três partes: palestra do autor, que na presença do ilustrador dos livros, o sobrinho Rafael Barbieri Camata, de 10 anos, procura esclarecer todas as etapas que envolvem a produção de uma obra literária, respondendo as dúvidas das crianças em relação à criação poética; uma apresentação musical, envolvendo exemplos de poesias musicadas com interpretação do próprio Barbieri; encenação teatral, feita com apresentação de clowns, com atriz Danielle Leonel. Os clowns nordestino e carioca evidenciam a cultura genuinamente brasileira através de poemas contidos no livro Festa rimada, brincando com o repente nordestino e o chorinho. Para finalizar, as crianças assistem ao teatro de marionetes Sem amor e sem beijar, de autoria do próprio Barbieri, que representa uma sátira da saga de Cyrano de Bergerac.
Todo esse trabalho se desenvolve em uma hora e meia para um público composto de crianças de 5 a 11 anos. Segundo o autor, a recepção é muito boa. "No momento em que a criança começa a descobrir coisas curiosas na poesia, a rima, a musicalidade, a sonoridade das palavras, a aliteração, ela começa a gostar e sentir que a poesia pode ser amada."
Teatro— Ainda em setembro, Barbieri lança os dois livros de poesias infantis e o livro Trifilo, uma trilogia de peças de teatro: O muro, A torre de Geriró e A ponte. Devido a sua afinidade poética, as peças apresentam poemas dramáticos em toda a sua extensão. Os personagens não poderiam ser diferentes, apresentando uma visão poética da realidade. O simbolismo presente nas três situações apresentadas pelo autor advém da presença de elementos cênicos que, de certa forma, são até mais importantes que seus próprios personagens, que, em toda a ação, tentam superar obstáculos impostos.
Na apresentação do livro, Erlon Paschoal fala da unidade entre os personagens das peças de Trifilo: "As três duplas de personagens presentes nesta trilogia com seus sonhos, seus diálogos muitas vezes desconexos, a sua falta de relação com o presente, seus vínculos com as reminiscências e a sua espera ingênua, quase infantil, fazem-nos lembrar de Vladimir e Estragon, de Becket, absorvidos por uma espera interminável e imobilizados num presente contínuo, sem porvir, onde os detalhes prosaicos se chocam muitas vezes com ambições existenciais profundas e universais."
Os lançamentos acontecem no Museu Solar Monjardim, às 19 horas, sendo este um evento vinculado ao Proler. Na oportunidade o autor promete um contato maior com as crianças, para tirar dúvidas e até mesmo compartilhar experiências.
Fonte: Você – Revista da Secretaria de Produção e Difusão Cultural/UFES – ano V – nº 42 – set/1996
Autor: Anderson Andreata
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2015
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