Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Ação Policial – Por Pedro Maia

Rodoviária Ilha do Príncipe

Carmelo e Vitorina eram recém-casados e se extasiaram quando viram Vitória pela primeira vez. Lá na cidadezinha deles, no interiorzão do Estado, ouviam falar das belezas da capital, mas não supunham que a cidade fosse tão grande e tão bonita assim. A altura dos prédios, as ruas largas, o movimento do comércio, carros de todo tipo com todo tipo de gente ao volante, as pessoas apressadas pelas ruas, tudo era novidade para o casalzinho que vinha à capital para gozar uma merecida lua-de-mel.

Logo perto da rodoviária — "grande de dá dó", pensava o Carmelo — o casal viu um hotelzinho com aparência de simpático e com o nome da cidadezinha de onde eles tinham vindo. Adoraram aquilo que, de pronto, acharam que era uma homenagem à terra deles. E depressa resolveram passar a lua-de-mel naquele local que seria o "ninho de amor" no início da vida dos dois. Foram até o hotel, reservaram um quarto, tomaram banho, vestiram roupas novas e saíram para conhecer a capital.

Passearam por todo canto, à moda do interior, ou seja, a pé e devagar, absorvendo ao máximo as delícias de estar acompanhado pela pessoa amada e conhecendo coisas novas. A Vitorina ficou deslumbrada com as vitrines e teve até a audácia de entrar numa das tais "boutiques" de que tanto ouvia falar lá no matão. Carmelo, então, não conseguia disfarçar o espanto, toda vez que passava por uma boazuda com aquelas roupas curtinhas e provocadoras. Foi tudo maravilha pura que se complementou quando os dois chegaram à praia de Camburi, onde, pela primeira vez, viram a beleza do mar com todo o seu azul esplendoroso (esplendoroso é ótimo!). Foi uma festa! Carmelo e Vitorina tiraram os sapatos e entraram na água salgada até as canelas, tal e qual duas crianças satisfeitas com a vida.

À tarde, voltaram para o hotel e se trancaram no quarto, onde, minutos depois, já trocavam juras de amor eterno garantidas pelo casamento, no civil e no religioso, realizado com muita festa na fazenda onde o pai da noiva era capataz. E quando já começavam aquilo que realmente é bom no tal de casamento, deu-se a tragédia: a porta do quarto foi arrombada e três ou quatro canas, armados e dispostos, invadiram o "ninho de amor", na maior decisão:

— Olha aí: os dois pombinhos, de pé e com as mãos na cabeça! É a cana! Cadê os documentos, ô piranha? Tá todo mundo autuado... todo mundo em cana!

E de nada adiantaram ao pobre do Carmelo suas alegações de que eram legitimamente casados e estavam fazendo justamente aquilo que manda o casamento. A polícia estava efetuando uma operação de "guerra à prostituição" e quem está de tarde em hotel suspeito só pode estar fazendo o que não presta.

No outro dia, pela manhã, depois de muitas explicações e da intervenção de um conhecido do casal que estava em Vitória metido na política, é que foram liberados. Dias depois, já seguro em sua cidadezinha natal, o Carmelo contava, espantado:

— Terrinha boa aquela tal de capital! Mas lá, negócio de fazer filho dá uma complicação danada...

E jurou nunca mais voltar!

 

Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves
Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão:
Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro Maia
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020

Literatura e Crônicas

Os points da Praia da Costa

Os points da Praia da Costa

Sua origem em nossas praias se deu com veemência na Praia de Copacabana. Os postos viraram “points”. Logo, essa tendência se espalhou pelas praias brasileiras

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado

Ver Artigo
Ano Novo - Por Eugênio Sette

Papai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver

Ver Artigo
Cronistas - Os 10 mais antigos de ES

4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951

Ver Artigo
Cariocas X Capixabas - Por Sérgio Figueira Sarkis

Estava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas

Ver Artigo
Vitória Cidade Presépio – Por Ester Abreu

Logo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista

Ver Artigo